– Eu vi! Eu vi!
Calú nem havia adentrado o teatro ainda, quando quase foi surpreendido pela agitação da ruivinha excêntrica.
– Acalme-se – falou sério, enquanto a amparava. – O que aconteceu?
– Eu... eu... – Era visível o esforço que fazia para puxar o ar. – Estava de branco... Reluzia... De toga egípcia...
– Mas, do que você está falando? – Calú alterou a voz de leve.
– O fantasma! Era o fantasma! – Foi a última coisa que a pequena atriz disse, antes de correr rua acima.
Era quase que inacreditável tudo o que estava acontecendo naquele lugar. No entanto, apesar do ceticismo, Calú não deixara de notar algumas coincidências. Até então, toda a vez em que se falara no fantasma, aquela garota ruiva estava no meio. Os artefatos sumidos e reaparecidos costumavam ser usados pelas mulheres, algo relativo em um teatro, mas ainda assim... Na certa, claro, recebeu ajuda para pegá-los e realoca-los. Com certeza, Janine – a ruiva escandalosa, era a principal suspeita daquela confusão toda. Mas, por que ela faria algo assim? E por que envolveria Calú nisso tudo com aquele bilhete e toda aquela comoção para cima dele?
– Hey cara – ouviu-se um falastrão. – Você está atrasado. Só porque há um fantasma em nosso encalço não significa que podemos adiar o que temos para fazer.
– Ah, Bob o bobo – Calú fingiu desinteresse. – Sabe da Janine?
– Não, por quê?
Calú analisou a expressão do amigo e ele parecia realmente não saber do ocorrido. Mas, ele também era um ator... Ainda assim, decidiu arriscar e continuou:
– Ela saiu apressada. Disse ter visto o fantasma usando toga egípcia.
– Toga Egípcia? – Riu. – Vestimenta do mês passado. A moda agora é usar Burca.
Enquanto Bob ria, Calú o fitava sério até o primeiro intervir:
– Ok... Desculpe pela piada boba. É que isso é uma grande besteira! Onde já se viu? Tantos marmanjos acreditando nessa história de fantasma?
Calú arqueou uma das sobrancelhas em atenção e falou:
– Fantasma ou não... Alguém tem incomodado nossos ensaios, colocando em xeque nossas apresentações. Faltam poucos dias para a peça principal e parece que estamos pouco preparados.
– Ah, fale por você – satirizou Bob. – Eu até acho essa história toda bem divertida. Até tocar violino esse fantasma tocou... Sabe que disseram que ouviram uma voz de mulher cantar "La Traviata" mais cedo? A força de uma Violeta!
As risadas de Bob começaram a incomodar mais o nosso jovem ator, mas ele não deixaria perder o foco, pegando embalo no musical mencionado pelo amigo:
– Quem interpretou o papel principal do musical "A dama das Camélias" no inverno passado?
Bob fechou a expressão de imediato e bufou ao dizer:
– Janine, é claro. Ainda que mal tenha conseguido distinguir um sol maior de um dó sustenido.
– Ela usou de algum instrumento para ensaiar?
– Sim... O violino que... Ah, não – interrompeu-se, fazendo sinal negativo com o dedo indicador da mão esquerda. – Você não está pensando que a ruiva está de artimanhas, está?
Havia 85% de chances de Calú estar certo.
***
Janine já tinha uma certa bagagem como atriz. Interpretara diversos papéis no teatro e já atuara em novelas, filmes e comerciais. No entanto, ela não tinha esse acesso todo exatamente por ser muito boa no que fazia... A pequena ruiva era filha de um renomado ator televisivo, que por sinal era dono daquele teatro. A crítica era ferrenha sobre si e a inveja lhe era notável. Parecia óbvio que ela tentaria algo contra qualquer um pelo qual pudesse se sentir ameaçada, ainda que vários dali por certo se destacavam mais do que ela. Mas, só por esses fatos Calú não poderia se deixar convencer... Sua experiência como um "Kara" lhe alertava de que nem sempre o óbvio é o verdadeiro.
Então... O que fazer agora? Era noite e seria longa devido ao trabalho. A sua grande apresentação viria dali poucos dias, três para exatidão, mas não estranharia que mais acontecimentos estranhos aparecessem... E assim foi... Luzes piscavam, roupas sumiam, melodias crescentes e decrescentes se ouviam e a ruiva... não apareceu. Porém, outro bilhete junto ao seu roteiro sim apareceu e se tratava da mesma letra que o primeiro.
Calú levou a mão a testa em exaustão. Toda aquela situação estava lhe causando insônia, agonia e preocupação. Mas, ele não podia desistir agora. Ele era um Kara e não deixaria qualquer sentimento negativo lhe dominar. Assim sendo, decidiu ligar para a única garota capaz de lhe animar naquele momento. Discou para Peggy, mas o seu ânimo não voltou... O celular dela não estava chamando e suas mensagens não estavam sendo enviadas. O que estava acontecendo, afinal de contas? Seria o ambiente teatral mal-assombrado realmente? As coisas boas pareciam estar se afastando do nosso Kara-ator. Por quanto tempo teria que suportar tudo aquilo? Ah, Calú sabia que não seria por muito, afinal, ele continuava sendo um Kara e "Kara" para sempre seria; ainda que tudo pudesse soar contrário.
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CALÚ EM: DROGA DE ÓPERA [COMPLETO] - Uma aventura com os Karas
Fanfiction[PRESENTE NA LONGLIST DO WATTYS 2018] Calú, o ator, maquilador e dublador dos Karas está mais do que preparado para a grande noite em que interpretará um dos personagens mais marcantes da história do teatro. Porém, algo muito grande tem acontecido e...