ATO 4

74 6 6
                                    

Calú pouco pregara os olhos naquela última noite. A cena não saía de sua mente... Foi um sonho perturbador. Ele via nitidamente a bela silhueta deslizar pelo salão vitoriano, com uma cintilante veste branca que quase lhe cegou a visão à primeira vista. Era uma mulher, ele tinha certeza disso. A mais bela criatura que já vira... e em nada se parecia com um fantasma, muito pelo contrário! Ainda com a mente vaga, se recordou bem do momento em que percebeu as marteladas de sua pulsação e a força de sua respiração para poder se aproximar da bela figura e lhe pegar pelo braço; foi aí que percebeu. Tudo o que pôde lhe dizer com uma arranhada, rouca e forte voz foi: "Cante, meu anjo". Calú era o fantasma e pôde se ver no reflexo dos olhos da deslumbrante figura a sua frente.

Aquele sonho o havia deixado perplexo. Nunca pensou que aquele caso do fantasma do teatro lhe afetaria tanto. Logo ele que raramente tinha dificuldades para dormir, muito menos tinha sonos pesados e pesadelos de tirar o fôlego. Oras, ele era um Kara! Já havia passado por tantos acontecimentos que deixariam até o mais rígido e sensato adulto perturbado, mas não era o caso.

O fato é que finalmente havia chegado o dia da estreia e, por não conseguir comprovar suas suspeitas, seu incômodo era crescente. O que fariam caso o suposto fantasma sabotasse a apresentação? Ah, isso não poderia acontecer! A noite seria dele, Calú precisava reagir e agir!

– Janine! – Chamou a ruiva, assim que a avistou no refeitório do teatro.

Ela, por sua vez, sorriu infante e foi até ele como se nada estivesse acontecendo, ou como que não se lembrasse da topada que deu em Calú alguns dias atrás quando afirmou ter "visto o fantasma".

– Preparado para hoje a noite? – Foi a saudação que deu, o que deixou Calú mais em alerta.

Sério, falou:

– Não sabia que você tocava violino.

A palidez foi instantânea e bem evidente no rosto da jovem atriz. Xeque!

Calú não era tão lógico e preciso como o amigo Crânio, mas podia crer em si mesmo que a porcentagem de suspeita já ultrapassava os 90%.

– Eu... – Gaguejou a moça, quando Calú interrompeu:

– Pode garantir que não teremos problemas na apresentação desta noite? Não falarei nada, caso me garanta isso.

A expressão de Janine se evidenciara mais em confusão. Logo dizendo:

– Mas, do que está falando? Acha que fui eu a responsável pelos desastres que têm nos acontecido?

Calú deu de ombros, mas obviamente não lhe escapou o fato da ruiva ter se tocado rápido quanto ao assunto.

– Pois isso é um engano – falou sem fita-lo, gesticulando os braços com tamanha força que parecia querer voar e sair dali. – É um terrível engano! E você pode se arrepender por isso...

– Ah, ótimo – riu Calú. – Já apelou para ameaças!

– Não – respondeu prontamente e trêmula. – Não é isso. Acontece que eu sei o que vi e não era desse mundo.

A pequena ruiva se retirou apressada, ainda nervosa. Nada se parecia com a garota que viera cumprimenta-lo há pouco, com tons de zombaria.

Suspirou por fim. Parecia ter chegado a conclusão óbvia que tanto queria.

Logo, Calú se dirigiu ao camarim que lhe era reservado. Esperava não encontrar nenhum outro bilhete ameaçador e ansiava por conseguir manter o foco na peça de mais tarde. Era importante! Talvez a mais importante peça que já fizera! Estariam ali pessoas muito próximas, amigos, conhecidos... Mas, faltariam eles... Os Karas! Ah, se eles estivessem ali... Com certeza já teriam solucionado aquele caso muito antes e encurralado de vez o responsável. Era estarrecedor pensar que nada o assegurava, nem mesmo a conversa que tivera há pouco com Janine.

No camarim tudo parecia como ele havia deixado. Como seria dia de estreia, não haveria momento de descontração, então todos os atores mais estariam em seus refúgios se concentrando para a grande apresentação. E era o que Calú gostaria de fazer, porém mais uma vez algo aconteceu. As luzes começaram a piscar freneticamente. Parando tudo o que estava fazendo e contemplando o teto de seu cômodo, Calú ficara estático. Não piscava, mal se notava sua respiração, até o momento em que se ouviram gritos do lado de fora e as luzes se apagaram de vez.

***

O ambiente do teatro não recebia muita iluminação do sol, visto que poderia atrapalhar qualquer que fosse a cena em que estivessem fazendo. Mesmo nos camarins, janelas eram muito escassas devido não apenas a iluminação, mas também a ventilação, a fim de não incomodar os atores com seus ensaios, maquiagem e vestimentas. Sendo assim, devido ao "apagão", que não durara um minuto inteiro, a balbúrdia voltou. Todos saíram de onde estavam. Alguns chamaram a polícia, outros foram pedir explicações aos técnicos de manutenção... Quanto a Calú, apesar de ter sido um lapso de energia bem rápido, ele foi o único a notar que o camarim de número quatro não sofrera com a queda de energia. Como isso poderia ser? Ah, mas era óbvio.

Ao voltar para o camarim notou que havia algo que não estava ali antes e desta vez não era um bilhete escrito. Tratava-se de uma máscara! A máscara de "fantasma da ópera" de seu sonho.

– Como fui tolo... Um fantasma lento, tolo, porém ainda assim intrépido – sussurrou Calú no instante em que pegara a máscara.

 Um fantasma lento, tolo, porém ainda assim intrépido – sussurrou Calú no instante em que pegara a máscara

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
CALÚ EM: DROGA DE ÓPERA [COMPLETO] - Uma aventura com os KarasOnde histórias criam vida. Descubra agora