Reunião

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Reunião

Parte I: Pecados do Pai

Brasília, Distrito Federal.

Mais uma típica tarde de sábado no bairro dos ricos e famosos, ensolarado, farto e cheio de regalias – praticamente um pedaço da Europa no Brasil – um oásis de abundância em um oceano de miséria. Porém, diferente dos herdeiros dos famigerados políticos do palácio da Alvorada, Alexandre Moreira Schmidt, filho de Felipe Moreira, não parece investir em uma vida de luxos e abusos, seja financeiros ou químicos – contrariando a idéia do pai, ele se tornou um filantropo e beneficiário das pessoas carentes – investindo o dinheiro da família em fundos de caridade no Brasil e no mundo. Contudo, isso não torna sua vida menos agitada do que a da maioria.

- Querido, você está aí? – Luísa, sua esposa, entra no quarto sem prévio aviso.

- Estou, sim, amor –o homem, sempre altivo, sentava-se exageradamente curvado e um semblante um tanto perturbado.

- Querido, o que aconteceu?

- ...nada importante, querida, nada... – fechou o notebook, tentando esconder algo.

- Alexandre...

- Tá, eu sei, amor. Não posso te esconder nada, não é mesmo? – riu-se de sua situação – é o meu pai, Luísa. Meu pai e o dinheiro dele.

- Ora, mas que problema isso tem?

- Os lucros da empresa não bancam o montante que entrou na conta dele.

- Amor, não seria nenhum investimento ou algo assim...?

- Não, Luísa. Estamos em maio, e as bolsas estão em baixa – não é uma boa temporada para investir em nada. Além do mais, alguns empregados da tecelagem tem estado com o salário atrasado. É muito estranho.

- Amor, você não pode querer resolver os problemas do mundo...

- Não, mas isso diz respeito ao nosso dinheiro – meu, seu, de meu pai e da minha mãe – garanto que se ela soubesse também mexeria nesse vespeiro.

- Olha – o Daniel está dormindo – achegou-se dele, acarinhando-o – por quê você não vai fazer uma visita a ele? Pelo que sei, hoje ele está de folga – se bem que aquele pessoal dele não sabe muito o significado de expediente...

- Tá vendo, amor? Você se preocupa também – reanimou-se – e eu já tive uma conversa com ele, que, tenho que confessar, não acabou muito bem.

- Por quê?

- Todos esses anos, e ele continua o mesmo – duro, frio, insensível – nem o tempo amoleceu o coração dele. Ele ainda vive em função do dinheiro.

- Por quê você não mostra pra ele o quanto se importa? Apenas palavras não são capazes de chegar a um coração duro. Quando eu fazia psiquiatria, sempre lembrava da frase...

- "Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura". Por que a surpresa? Você vive martelando essa coisa na minha cabeça, faça chuva ou faça sol!

- Olha só, ele sorriu de novo! – a mulher abraçou-o, beijando com ternura.

- Amor, ainda acho que você poderia dar uma ótima advogada. Você tem razão – vou lhe fazer uma visita-surpresa, e me desculpar pelas minhas suspeitas. Talvez ainda lhe dê algo de presente, quem sabe?

- Isso mesmo, vá sim. Não se preocupe com o Dan, eu fico de olho nele.

- Puxa... obrigado, amor.

A Mão ( versão de degustação)Where stories live. Discover now