MEU NOME É SAMAEL

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Estava em busca de mudar minha vida, melhorar sair da merda em que eu vivia. Um amigo próximo, me falou uma vez que apenas é preciso estar disposto.
Mas eu estava disposto a mudar, sair da cidade pequena e atrasada em que nasci.
Depois muito tempo o Thiago resolveu visitar alguns de seus parentes que ainda moravam naquela cidade esquecida pelo tempo.
Meu amigo tinha carro, roupas de marca e tudo o que se possa imaginar que o dinheiro pague.
Fomos ao único bar da cidade para conversar quando chegou a noite.
Ele me falou sobre um livro, que havia deixado em minha casa. Mas como nunca fui capaz de achar esse tal livro?
Assim que ele terminou de me dar essa estranha notícia segurou com força uma de minhas mãos.
Sem entender o gesto apenas olhei para seu rosto, trazendo uma expressão de dor e sofrimento.
Fui para casa em busca do livro. Quase pela manhã achei o maldito.
Uma estranha capa grossa, com pedras pretas, fios de cabelo e algumas unhas colocadas em sua capa.
Ouvi algo se mexer pelas minhas costas, notei uma sombra ou vulto em minha visão periférica. Larguei aquilo que meu amigo havia deixado.
Deitei tentando esquecer tudo aquilo, era inútil. A toda hora uma coisa mandava eu abrir o livro. Me chamava, sacudia a cama. Levantei com rapidez, fui até onde havia deixado, cadê o livro?
Podia jurar que estava aqui, perto da cama.
Depois do banho para esfriar a cabeça, relaxar e deixar aquilo tudo pra outra hora. Fui até o armário. Caindo sentado ao ver que o livro estava em cima de roupas que nunca tinha visto.
Voltei pra cama carregando o artefato.
Abri quase pelo meio do livro, imagens de demônios devorando almas, pessoas mutiladas, nossa nunca vi nada tão assustador.
Na noite que estive com Thiago aproveitei e peguei o número do telefone dele. Resolvi dar uma ligada para perguntar sobre o escabroso em minhas mãos.
Ao começar a chamar o telefone do meu amigo, algumas coisas estranhas podiam ser ouvidas, vozes falando o número trinta e sete, gritos, sons de ossos caindo e ao fundo existia algo queimado. Era nítido o som de brasas estalando.
Desliguei tremendo. As vozes repetiam e repetiam aquele número o resto do dia.
Não pude notar, mas o tempo parecia voar diante dos meus olhos. Já era noite quando notei.
Abri na página trinta e cinco, uma estranha oração ao poderoso gato preto, que permitia que fizessem invisíveis as pessoas com os poderes do osso do gato.
Era macabro aquilo, cada palavra lida parecia que ecoava em minha mente como em um desenho que o subconsciente fala para não fazer aquilo.
Mas era totalmente inútil, a vontade de ler e saber, era maior que a de parar.
Cheguei então a página trinta e sete. Uma estranha receita para fazer o próprio diabo ajudar as pessoas que completavam o ritual.
Fiquei empolgado, era tudo que eu queria, ser rico, ter uma mulher linda ao meu lado, uma mansão e tudo o mais que eu pudesse imaginar.
Então li com toda atenção o que estava descrito como ritual.
Um estranho sopro no ouvido me assustou e fez eu me jogar no chão.
Um pedaço de papel se estendia no meu travesseiro. Um pergaminho.
Meus olhos vitrificaram com a imagem.
Era só ler?
Dois dias se passaram, guardei o pergaminho dentro de uma caixa que ficava dentro da minha gaveta. Não queria ser descoberto, não queria que ninguém interrompesse aquilo.
Como mandava o livro, levei o pergaminho a uma estrada de terra batida, uma ponta de faca, uma vela.
Nunca estive tão resolvido para tomar uma decisão. Esperei a noite chegar, fui até a estrada afastada que ligava a cidade ao centro comercial.
Logo que iniciei a caminhada na estrada, via um homem apontando sempre para frente.
Uma voz dizendo para segui-lo.
Sempre que parecia estar perto ele sumia e aparecia mais longe.
Perto de uma porteira, ele desviou o sinal, apontando para uma árvore gigantesca, sempre eu passava por ali. Nunca havia visto aquilo.
Trapos pendurdos, sacos pelas suas raízes. Sem contar o fétido odor podre por todo o local, uma água lodosa escorria do tronco.
Não estava sozinho ali, havia alguma coisa esgueirando, se alimentando dos trapos e bebendo aquela água podre.
Um temor acompanhado de calafrios. Aquele maldito vento gélido que cortava a alma.
Virei as costas para árvore. Estava decidido a voltar.
- Venha curioso. Ele está a sua espera!
- Quem disse isso?
- Não seja tolo mortal, se está aqui é pelo livro. Todos estão aqui por ele.
- Não sei quem é você, muito menos sobre o que está falando!
- Veja mortal. Meu mestre está vindo falar com você. Parece que você tem algo que ele quer muito.
O vento cessou, nada de barulhos ou vozes. Um calor tremendo havia tomado aquele local.
Um homem de boa estatura, trajando um terno vermelho, gravata negra como a noite sem lua.
Estendeu a mão em minha direção e disse:
- Vamos me entregue o pergaminho e peça o que quizeres.
Está em branco, eu não havia escrito uma só palavra ali.
- M..mas não escrevi ainda, nem sei o que irei querer.
- Vamos quel é o seu maior desejo?
- E...e...eu quero ser muito rico, ter uma bela mulher ao meu lado e sair dessa cidade.
Sem que eu notasse aquele homem havia pego meu dedo mínimo da mão esquerda e feito um furo. Quando ele terminou disse que me visitaria no sábado, para finalizar o tratado, estava faltando a minha assinatura no contrato.
Quando me dei conta estava de volta a minha casa, parado no corredor que levava ao meu quarto.
Deitei e dormi o sono mais pesado que podia.
Não sei se era sonho ou um tipo de vida paralela.
Um mulher morena, com um lindo corpo. Cabelos negros até a cintura. Chegou me beijando, eu estava sentado a beira de uma piscina, vislumbrando uma mansão. Fizemos amor ali na água, podia sentir suas unhas arrancarem sangue de minhas costas. Pude sentir a agonia de ter o lábio inferior mordido.
Saímos da piscina e íamos para o interior da mansão, quando notei um homem com o mesmo terno vermelho sangue.
Cabelo penteado para trás, usando costeletas. Havia perto de si uma pequena mesa de jardim, com uma taça grande. Ele bebia um líquido espesso e viscoso. Que por vezes parecia borbulhar.
A mulher mandou que eu fosse até o estranho.
Sentei a sua frente, mas não via seu rosto. Era como se no lugar dele estivesse um borrão.
Ele colocou o pergaminho na mesa e mostrou onde eu devia assinar.
Sua mão cadavérica, saindo do terno, com abotoaduras em ouro escrito S.
- Assim que assinar, tudo isso será seu. Mulher, casa e riqueza. Como havia me pedido na noite passada.
Aquela voz parecia ferir a alma, mesmo emanando aquela energia tão negativa, um brilho estranho sempre relusia.
Então estendi a mão esquerda para assinar o pergaminho.
- De fato não quereis perder nada que posso lhe oferecer, com sua assinatura estamos fechando o contrato.
Ele segurou minha mão, erguendo algo como um esporão, fez um furo em meu dedo e apontou para linha.
Antes de assinar meu coração parecia ter parado. Eu não sentia nada, nem notava que estava respirando ainda.
Quem era aquele ser parado a minha frente, me concedendo pedidos?
- Posso ter muitos nomes, quantos poderem me chamar, só existe uma coisa que não sou. Mentiroso.
Aquela voz fria, sempre sem expressão. Baixa quase difícil para ouvir.
Então terminei assinando o maldito pergaminho.
Ele deu uma larga gargalhada.
Assim que colocou a mão no papel, ele sumiu de imediato
Levantando e olhando fixo para meus olhos.
- Sei que irá fazer certo, não será igual os outros. Que na primeira oportunidade vão correndo até meu pai pedir perdão.
Pude só então ver seu rosto. Feições perfeitas, só os olhos que eram diferentes. Parecia olhos de serpente.
Ele deu as costas e sumiu.
Dei um pulo do sofá, pude notar que estava realmente na casa que havia sonhado um dia.
Dinheiro, carros e tudo mais que eu quisesse. Era só pedir e furar o dedo para que um estranho ser corcunda viesse pegar meu sangue em uma caixa de prata.
***
Mesmo com a vida que sempre quis, tudo que quero. Ainda faltava algo a conquistar.
Uma certa noite resolvi chamar o tal corcunda.
Ele apenas me falava que não podia dizer o nome de seu mestre.
Que se eu realmente quizesse saber era pra perguntar diretamente a ele.
Então fiz isso.
Havia um quarto em minha mansão, para coleta de sangue.
Fui até esse cômodo, e chamei pelo ser enigmático.
Notei que cinzas caiam dentro do quarto, um calor horrível tomava conta do ambiente e fazia minha respiração ofegante.
- É realmente o que quer saber?
Isso é mais caro do que imagina.
- Sim, tenho direito de saber quem fez tudo por mim.
- Eu sou aquele que arrebata almas perdidas, que causa agonia, que faz confusão. Posso ser anjo pra muitos ou algo muito pior que isso.
Já sabe quem eu sou?
- Sei, sempre soube. Mas quero saber seu nome verdadeiro!
- Meu caro amigo mortal, tem coisas que não são destinadas para esse fim. O entendimento é divino. Mas se você o insisti. Irei falar meu nome.
Nesse momento o calor do quarto não existia mais, um frio de gelar a espinha.
Senti meus ossos quebrando um a um. Meu corpo parecia ser feito de borracha, em pouco menos de cinco minutos está largado ao chão como um resto de pano velho.
Sete sombras entraram na pequena sala, e rasgavam meus pedaços pelo chão, sentia cada garra, cada dente. Aquele cheiro de podre misturado com enxofre. As criaturas negras com olhos de fogo.
Meus olhos foram se fechando, tudo foi ficando mais escuro.
Quando ouvi o pior som de toda a minha vida. Quase estourando minha cabeça.
Não podia mais tapar os ouvidos, era tudo que havia restado inteiro de meu corpo.
Ele apareceu. Segurou minha cabeça, olhou profundamente. E disse.
- Meu nome, é Samael.

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