No Restaurante

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De fato eu não conhecia, um amigo que a pouco voltava de uma de suas palestras, disse haver um restaurante que comercializa carne humana.
Pesquisei sobre antropofagia ( ato que consiste em comer partes do corpo de outra pessoa, pensando em adquirir suas habilidades).
Mas não acho que seja algo bom de se fazer.
Meses após a chegada, estava apático, olhos esverdeados sem brilho. Sua pele parecia pegajosa,  seu rosto mostrava que não dormia a meses pelos olhos encovados. O hálito tinha um odor parecido com merda e carne podre.
Nessas noites sem sono, passava pelos canais sem destino, o telefone tocou.
- Terry preciso voltar, tenho que voltar, tem alguma coisa muito estranha acontecendo comigo.
- Tudo que deveria fazer era procurar um médico e saber o que anda mudando em você!
Voltando a tv, um noticiário mostrava o pequeno vilarejo a leste da Namíbia, onde meu amigo havia feito a palestra.
Havia um lago de arsénio, onde pessoas e animais estavam sendo infectados por um vírus ainda não conhecido.
Os acessos a este vilarejo, foram fechados dois dias depois que ele fez o embarque de volta.
Estava em um transe, algo diferente vivido no momento, não sabia se era real ou só um fruto da imaginação causado pelo pânico, pelas coisas vistas no jornal.
Liguei de volta para contar sobre o fato, mas não obtive resposta. O telefone chamou até cair na secretaria, deixei um recado urgente.
Ao acordar notei que minha casa tinha sido revirada, as lixeiras caídas com tudo espalhado.
Sentado em meu sofá estava o Rodney, quase sem cabelo, roupas rasgadas, unhas sujas quase pretas, um odor de podre havia tomado conta da minha casa.
- Ok, tudo bem, você conseguiu entrar, então vou tentar te ajudar tá.
Ele trazia em um dos bolsos da calça, duas passagens.
Por gestos pude interpretar que ele estava me pedindo para viajar, fazer-lhe companhia.
Indo para o banheiro, tomou banho. Ao sair nem parecia que era a mesma pessoa que alguns minutos atrás estava na minha sala.
Rapidamente fui até o meu quarto, peguei algumas roupas, a mochila e descemos até a garagem.
Ele parecia atrasado, nervoso, olhava tudo que passava pela janela.
Chegamos ao aeroporto, ele me puxou até o guichê. Fizemos o check in, logo adentramos a sala de espera.
O avião estava praticamente vazio, acho que umas dez pessoas para aquele vôo.
Seis horas após nosso embarque, chegamos em um lugar que parecia uma salina, um horizonte tremulando devido ao calor.
Ar pesado, logo meus lábios estavam cortados e meu rosto ardia.
Andamos até uns alojamentos, lugar bem afastado de onde o táxi nos deixou.
Entrarmos em uma viela, estreita com casas apertadas pelo pouco espaço para construção.
Ao cair da noite, passei a ouvir grunhidos, gritos, pancadas e discussões.
Eu só poderia estar cansado e imaginando aquilo tudo. Logo pela manhã aquilo tudo iria sumir.
Sem notar acabei pegando no sono, não sei quanto tempo ao certo durou, mas fui acordado por um barulho abafado, como algo assando, estalando.
Um cheiro estranho como carne queimada e lixo vinha pela janela aberta.
Rodney estava perambulando pelos cômodos.
Passava as unhas pelas paredes a ponto de marca-las.
Continuo deitado prestando atenção em seu comportamento.
Algo de muito esquisito acontece aqui nessa parte a noite.
Não ouço pessoas passar em frente da casa, a janela do meu quarto é virada pra rua.
Acabo de ouvir a porta se fechar.
Acho que Rodney saiu. Deve querer dar uma volta pela falta de sono.
Logo pela manhã, tudo estava mudado. Meu amigo estava normal. Não parecia mais um carniçal revivido.
Ao tomarmos café fiz comentários sobre os sons que ouvi na noite passada.
Ele afirmou não ter escutado nada. Mas lembrava que havia saído para fazer um lanche antes de dormir.
Ele estava com a mesma aparência de quando chegou ao meu apartamento.
Ao lado um vizinho chamou minha atenção, com a mesma aparência, mas falava coisas estranhas e fazia coisas piores que meu amigo.
Notei quando ele passou pela janela, havia um enorme pedaço de carne nas mãos.
Seu rosto sujo, aparentemente a semana daquele jeito. Sangue escuro espalhado pelas roupas.
Parecia se arrastar pelos cômodos.
Rodney caiu em um sono profundo, então resolvi caminhar pelo entorno.
Meus ouvidos logo me alertaram de som conhecido.
Um motor trabalhando abafado, som de brasas, logo após meu nariz. Aquele cheiro estranho de carne queimando.
Ao lado desta residência, havia uma pilha de ossos. O chão sujo por algo semelhante a gracha.
Mesas e cadeiras próximo a uma porta de esteira. Acho que poderia ser um local de comida nativa ou iguarias exóticas.
Notei que nesse tempo que estive na rua, não passei por ninguém, ou se quer ouvi um carro ou qualquer outro barulho.
Virei para fazer uma pausa e ver o que poderiamos lanchar e jantar hoje.
Os armários não tinham muito, mas deu pra fazer um macarrão.
Notei que Rodney saiu quieto, procurou ser bem cauteloso.
Não sei se ele havia contraido um vício, ou se estava fazendo algo que eu não pudesse saber.
Acordei amarrado e amordaçado, estava sendo carregado por Rodney e o vizinho. Eles falavam com um rosnado esquisito. Achei ser mais um dos meus sonhos.
Fui levado para casa estranha, suja e fétida.
Estava sentado, a minha frente uma bancada com muitos equipamentos médicos.
Pude notar o cheiro e o motor abafado.
Um homem com uma máscara negra só com os olhos a mostra, luvas até os cotovelos, um avental de couro fazendo parecer um Ferreiro.
Me falou qualquer coisa em uma língua não pude distinguir.
Me aplicou algo que logo tudo ficou turvo. Não sentia mais meu corpo.
Acordei com o barulho do motor, um outro homem estranho, jogava algumas coisas ao incinerador, mas não conseguia ver o que era.
Minha visão voltou ao normal gradativamente, estava amarrado em uma cama suja, o local estava com as paredes manchadas de sangue. Jatos, laragas manchas, marcas de mãos faziam o cenário mais mórbido.
Um barulho como se uma grande bandeja, tivesse sido largada ao eu lado.
O estranho tirou um monte de tropas é pedaços de sangue coagulado, jogando tudo na bandeja.
Resolvi chamá-lo, saber o que estava fazendo ali.
Não saia som da minha boca, não sentia minha língua. Logo em um copo perto da cama onde eu estava, uma língua alguns dentes e dedos.
Parecia ter sido arrumado, os dedos em volta do copo com os dentes nas pontas e no meio de tudo a língua.
O cheiro de queimado piorava a cada minuto.
Uma fumaça densa, saia dos espaços da porta do incinerador.
Um carrinho com pedaços humanos chegava perto para ser queimado.
Um senhor bem vestido e de máscara também, havia chegado aquele cômodo. Estava maravilhado com os sabores, com as partes nobres que serviam no restaurante.
Ele havia descido para conhecer a cozinha e o chefe do restaurante.
Comecei a sentir uma dor na barriga, e sentia meu corpo sento movido com brutalidade.
O senhor bem vestido, estava agora fazendo sua refeição.
Levantei a cabeça da cama, tentando enxergar o que estava acontecendo comigo.
Minha barriga aberta, aquela pessoa estranha , suja com meu sangue, se alimentando de pedaços da minha carne e minhas entranhas.
Meus olhos voltando a escurecer, tudo turvo.
Até a escuridão total.

DISTÚRBIOOnde histórias criam vida. Descubra agora