DISTÚRBIO

O apartamento nao é meu?

Sempre que vou deitar, parece que alguém está falando.
Não tem como entender.
São ruídos, roncos e gargalhadas.
Assim como também parece que alguma coisa bate na cama quando me movo.
Ontem quando estava quase pegando no sono, senti alguma coisa soprar meu pé. Rapidamente escondi os pés nas cobertas. Daí começaram as vozes. Não sei quantas ao certo.
São vozes diferentes que parecem brigar.
Estive vendo na internet um app que grava as horas de sono, tem até uma comunidade onde pessoas postam as experiências.
Tenho medo de fato de gravar alguma coisa desconhecida.
Então resolvi ter o app para gravar essas vozes e ruídos que minha cama faz a noite. Eu moro sozinho aqui. Dizem que neste mesmo apartamento um senhor nesse mesmo quarto.
Passei a pensar que seja ele tentando se comunicar.
Fiz a primeira postagem na comunidade ontem.
Vários seguidores dizem que estou entrando em contato com algo demoníaco.
Estou cada vez com mais medo quando cai a noite. Ouvi o que meu celular gravou ontem.
Uma voz estranha pergunta o que faço aqui, e uma outra voz diz que saia que a casa agora é minha.
Não sei se pode ser o antigo dono, ou se alguma entidade gosta da casa e quer se apoderar.
Lembro que minha avó dizia que acender incenso espanta as coisas ruins. Mas tenho receio de parecer afronta ao desconhecido.
Ontem a tarde estava na cozinha e parecia que alguém estava usando o banheiro e o quarto onde está minha cama.
Parei inúmeras vezes o jantar, portas batendo e bicas vazando.
E todas as vezes que voltei para cozinha as portas estavam abertas e alguns itens jogados ao chão.
Acordei com alguma coisa passando a mão em meu rosto, logo que despertei ficou de pé na porta, dava pra ver nítido um homem, com um casaco escuro e de números maiores que ele. As roupas folgadas pareciam flutuar em seu entorno.
Ele estava ali parado diante de meus olhos, com aquele olhar fixo como se estivesse vendo algo e tentando me avisar.
Hoje quando estava me arrumando para sair, um terrível odor de caren podre e fezes subiu da cama, levantei de imediato, alguns lampejos me mostravam alguem deitado, com o corpo estufado, os olhos soltando da órbita, a língua grossa no canto da boca, pés e mãos amarrados. A barriga esverdeada, fluidos corporais espalhados pelo quarto. Uma nuvem de moscas tomava conta do local. Foi quando aquilo começou a levantar da cama e vir em minha direção. Falava alguma coisa, mas eu não entendia. Pude sentir o hálito quente quando a língua grossa e seca encostava no meu rosto. Tentava correr, mas meu corpo estava paralisado. Sem sentidos.
Aquilo falava e falava e esfregava a língua áspera em minha bochecha.
Aquilo foi sumindo, perdendo a forma. Até que meus olhos estavam de volta ao meu quarto com minha cama.
Fiz algumas pesquisas para saber o que realmente acontece aqui neste apartamento. Só consegui saber que divido o quarto com um espírito que não aceitou a morte ainda.
Não sabia o que fazer, mas sabia que o mais certo era sair do apartamento.
Nesta tarde assim que cheguei, a sala parecia estar coberta por xixi, aquele cheiro estava ardendo minhas narinas.
Um usuário do mesmo app disse que poderia me ajudar com o meu suposto fantasma.
Estava esperando o jovem Jeorge,
Ele parecia bem entusiasmado em poder me ajudar, acho até que ele já faz isso a algum tempo.
Ele foi a única pessoa a responder os meus comentários de força que me desse esperança.
Logo que ele chegou tudo estava calmo.
Sem barulho ou odores desagradáveis.
Estávamos na sala quando a atividade assim chamada por ele se deu início.
Portas batiam com força, as coisas na cozinha eram jogadas até a sala. Não sei o que era que havia ali, mas sabia que Jeorge era uma ameaça.
Ele continuava sentado, olhando para todos os cômodos.
Logo ele se levantou, foi até a porta do meu quarto e falou.
- A atividade está aqui nesse momento. Algo que houve aqui a muito tempo, fez com que ela se intencificasse.
A casa não lhe pertence mais, seu tempo na terra acabou!
Siga seu caminho. Meu amigo precisa viver em paz aqui.
Ele mora aqui agora, aqui é a casa dele!
A porta do quarto se torceu fazendo a madeira estalar, a tinta soltando, as dobradiças ficavam moles a cada investida.
- Tem algo por trás desse espírito aqui no seu quarto, algo muito mais forte. Parece força-lo a fazer tudo isso.
Logo tudo parou, o apartamento estava em paz.
Quando chegou a noite, entrei em um sono profundo, parecendo que sonhava com minha própria casa, mas anos antes.
Pessoas estranhas entrando e saindo pelo quarto, falavam coisas em línguas desconhecidas.
Fui conduzido até a sala, nada era conhecido. Algumas mulheres estavam sentadas em bancos com os pés colocados em latas com brasas.
Elas se contorciam toda vez que eu chegava perto.
A última falou para que eu saísse logo do apartamento. Falou que ali era a casa do antigo Bartolomeu. Ele havia feito coisas ruins no apartamento e não deixariam que eu ficasse em paz.
Acordei como se estivesse me afogando.
Coloquei o apartamento a venda, estava correndo riscos morando ali.
Talvez o novo morador gostasse de fantasmas, ou talvez eles o deixasse em paz.