Sem legenda - Parte 2 (DEGUSTAÇÃO)

Capítulo 4

— Se eu não queria que você soubesse do Theo — Falei angustiada — Eu não tinha como esperar ter o teu sobrenome na certidão. Não era uma questão de não querer, eu apenas não podia...

— Depois de ouvir tudo o que você me falou, eu vi tantas soluções para tudo o que você fez... — Ele começou a falar, demonstrando mágoa em sua voz.

— Que soluções? — Eu franzi a testa, confusa.

— Se você tivesse me explicado tudo isso antes... — Ele disse voltando a falar grosseiramente — Falado da minha mãe, dos teus medos, receios, de tudo... Dávamos um jeito, Alice. Se teu medo era o que iriam falar, ninguém precisava saber — Disse indignado — Apenas eu! Eu, Alice. O pai do Theo. Eu PRECISAVA — Ele enfatizou — Tinha esse direito e foda-se todo mundo...

— Eu não estava preparada para arriscar — Agitei a cabeça para os lados — Não diante as coisas que tua mãe falou para mim. Muito menos diante a vida que você estava levando... Uma hora você estava com a Estela e outra hora você saía com toda e qualquer garota da balada...

— Eu só fiz isso porque você me afastou, Alice! — Ele exclamou incrédulo e eu dei um riso.

— Agora a culpa é minha? — Questionei — Você estava levando uma vida de solteiro e pegador.

— Eu estava sozinho. A única pessoa que eu queria, havia me trocado por um moleque babaca — Ele resmungou em sua defesa e eu continuei a sorrir, negando com a cabeça.

— Eu não estava saindo com ninguém! — Falei.

— Mas eu não sabia — Ele retrucou.

— Porque você não me escutou, Marcelo — Protestei — E eu estava com tanta coisa para pensar, que não tinha tempo para ficar provando para você que eu só precisava de um tempo sozinha — Esbravejei — Eu estava tentando pensar o que fazer com o bebê que crescia dentro da minha barriga! Eu não podia contar para os meus pais, não podia contar para minhas amigas, porque elas sequer sabiam que eu tinha algo contigo e nem podia contar para você, pois a cada dia que passava eu via você bêbado em um lugar qualquer, pegando todas que podia — Continuei a esbravejar, agora chorando, enquanto ele se mantinha calado — Aí eu, burra, pensei: como eu vou do nada jogar um filho na vida dele? Vou revirar a cabeça dele e se ele não me apoiar? Eu ficaria pior do que já estava. Então como eu ia fazer isso? — Indaguei retoricamente — Eu não queria estragar teu futuro. Nem te obrigar a ficar comigo por causa do Theo. Não queria interromper sua vida de baladas por uma coisa que foi culpa minha...

— Não foi... — Ele começou a falar, mas eu lhe interrompi.

— Foi! — Gritei — Eu esqueci a merda daquela injeção e eu admito isso. Não usávamos camisinha pelo fato de eu tomar o contraceptivo, então fui muito consciente que eu ia assumir esse erro e não jogar para você — Falei aos prantos, levando uma mão até o rosto e o secando — Imagina o meu desespero em ter que dar razão à tua mãe? Ou ouvi-la dizer que eu tinha dado o golpe da barriga. Era só o que ela precisava e eu não tinha estrutura para isso... Tive que colocar o rabinho entre as pernas e voltar para cá. Larguei o estágio, larguei a faculdade e toda minha vida independente para ter um pouco de paz e proporcionar isso ao Theo. Então não venha colocar o dedo na minha cara e dizer que o que eu fiz foi egoísmo... Porque na verdade foi um ato de desespero para proteger o meu filho.

— Paz? — Ele indagou confuso — Como paz, Alice? Se ninguém sabia, como...

— A Estela sabia — Lhe interrompi, falando em tom de desabafo e o vi, erguer as sobrancelhas, ficando boquiaberto — Ela descobriu e passou a me ameaçar... — Levei uma mão até a testa e joguei as chaves do carro sobre a cama novamente, pois minhas mãos voltaram a tremer — Me chamou de vadia, de vagabunda, disse que a culpa do término de vocês foi minha, e que você jamais iria me assumir, então por isso eu engravidei. Disse que eu era interesseira e que eu queria só uma pensão e que tua mãe jamais deixaria eu usar o sobrenome de vocês.