~Alice
O outono é minha época preferida do ano, aquela coloração laranja avermelhada incrivelmente apaixonante das folhas nesse período, que deixava a cidade com um ar bem mais aconchegante, que no resto do ano, me fascinava. Cruzei o estacionamento da escola, fitando ao longe as folhas de bordo caírem das árvores no parque, uma chuva fininha começou, eu sabia que não demoraria a intensificar, apressei um pouco meus passos. Observei meu ônibus começar a se deslocar me deixando pra trás.
Tá de brincadeira!?
Perder o ônibus amarelo significava uma boa distância a pé até em casa, e eu não tinha tempo nem paciência para aquilo. Meu andar tinha se transformando em uma corrida frenética, vi de relance algumas pessoas rirem do meu desespero, escorreguei e em pouco tempo eu estava no chão, meus joelhos doíam e meu cabelo era uma bagunça sobre minha cabeça abaixada. Meu rosto, com toda certeza, agora estava completamente vermelho, levantei o olhar e a minha volta os alunos riam e comentavam, uma mão apareceu no meu campo de visão, corri meus olhos até o rosto bonito de Scott e meu coração saltou com a certeza de que era realmente ele ali. Pelo canto dos olhos observei a pequena multidão se dissipar e em pouco tempo era só eu e ele. Encaixei minha mão na sua, aceitando a ajuda e levantei, nossos corpos ficaram tão próximos, que eu podia sentir sua respiração tranquila no meu rosto.
— Tudo bem com você? – indagou com a voz rouca.
Assenti e sorri de leve, enquanto dava alguns passos atrás e ajeitava a bolsa no ombro — Obrigada!
— Relaxa.– disse e ajeitou o cabelo – Sou Scott e você quem é?
— A-alice, Alice Palmer. – minha voz saiu fraca e eu me odiei por essa timidez estúpida.
— Parece que seu meio de transporte te esqueceu aqui! – olhei na direção que ele apontou e concordei.
— É, e eu tenho que começar a andar agora se quiser chegar cedo em casa. – ia me virando quando o ouvi.
— Sua outra opção é ir a pé? – perguntou analisando meu rosto
— Hurum.
— Eu tenho que deixar alguns amigos em casa, e tenho um lugar sobrando, eu te deixo em casa.
— Obrigada de novo, mas não precisa!
— Pelos meus poderes meteorológicos tenho certeza que não vai conseguir chegar ao próximo quarteirão, sem estar toda encharcada, vai arriscar? - Fiquei calada por alguns instantes.
Eu realmente estava cogitando aceitar a carona de um cara que sequer me conhecia?
Alice você tá ficando maluca!
Completamente maluca.
— E aí, escolheu que vai querer chegar em casa seca, sã e salva? – um pequeno sorriso de lado surgindo em seus lábios.
— É, eu escolhi isso – abaixei o rosto.
— Ótima decisão, docinho. Vamos. – sua mão segurou a minha novamente, me levando consigo.
Chegamos até seu carro, seu melhor amigo, Owen, estava encostado de forma desleixada na lateral do carro preto, e sorria enquanto mexia em algo no celular. Uma garota caminhava em nossa direção, quando ela chegou mais perto vi que suas bochechas estavam coradas e os lábios inchados.
— Demorou, otário. Liga logo essa lata velha. – disse.
— Calma aí, Stacey. Cadê sua educação? Quem é essa gracinha aqui?– foi a vez de Owen se pronunciar, seus olhos pequenos e levemente puxados me analisaram rapidamente, antes de se aproximar e deixar um beijo no dorso da minha mão. – Prazer, uh, como posso te chamar?
— Essa é a Alice Palmer. – Scott tomou a frente.
— Bem, Alice Palmer, sou Owen e estou a sua disposição. – depois de uma piscadela a grande apresentação de Owen foi finalizada, por um tapa na sua cabeça deixado por Scott.
— Ótimo, Don Juan! Deixa a garota em paz! Stacey cadê sua amiguinha que ia com a gente?
— Tá ali – apontou – Tina, vamos garota!
Tina não parecia muito feliz, enquanto caminhava até nós. A chuva antes fininha agora tinha engrossado um pouco.
— Vamos lá.
Scott entrou pela porta do motorista, Owen no passageiro, eu e as outras garotas nos acomodamos na parte de trás do carro. E eu confesso que estar ali com pessoas que eu nem conhecia de verdade, me deixou desconfortável e arrependida, mas agora eu já estava ali.
— Você se lembra de mim? –Tina virou seu rosto para mim.
— Lembro, eu te ajudei aquele dia, como vai?
— Tô legal, como conseguiu essa carona?
— Perdi o ônibus e cai. – sorri, em voz alta parecia ainda mais ridículo.
Ela apenas assentiu e voltou seu olhar para a paisagem lá fora, aquele não parecia ser um bom dia para ela e eu decidi não incomodar. Owen foi o primeiro a chegar no destino ele acenou para nós e correu até a varanda da casa. Scott arrancou depois de Stacey pular, literalmente, para o banco da frente, uma música que eu não conhecia, preencheu o carro.
— Essa é minha parada, o dia está sendo cheio, mas espero que possamos nos falar novamente, aqui está meu número. – disse me entregando um cartão rosa, cheio de purpurina, com Tina e um telefone escrito. — Beijinhos. Valeu pela carona, Kinney! – desceu acompanhando Stacey.
— Agora só falta você, pode passar aqui pra frente, para me ensinar o caminho – ouvi a voz grave de Scott chegar a meu ouvido
— Tá. – dei a volta no carro e entrei pela porta do passageiro, me encolhi ali.
Expliquei o caminho até em casa, e em poucos minutos estávamos de frente para a pousada.
— Olha muito obrigada mesmo! Sério! Eu nem sei como agradecer, por sua gentileza. – me virei para ele.
— As pessoas não me consideram muito gentil, mas se você diz – tocou meu queixo de leve e deu um sorriso torto.
Eu tinha ficado um pouquinho desnorteada e me embolei para sair do carro, mas consegui. Me despedi de Scott e depois de ver seu carro virar a curva da minha rua, corri até em casa.
Na recepção da pousada, dei de cara com uma Lucy sorridente e desconfiada.
— Quem era o gatinho? – indagou apoiando a cabeça nas mãos.
— Um colega da escola que me ofereceu uma carona. – expliquei simplesmente, Scott não era meu colega e nem nada, mas preferi deixar assim.
— O que aconteceu com o ônibus?
— Perdi.
Com os olhos semicerrados, ela me estudou e assentiu — Ok, mocinha. Agora vá guardar suas coisas e comer, preciso de você no restaurante daqui a pouco.
— Sim, senhora – sorri dei a volta no balcão, deixei um beijo na sua bochecha, e subi as escadas correndo.
Eu nunca poderia imaginar que ia trocar uma palavra com Scott e ainda receber uma carona. Dei um tapa na minha testa.
Para de criar expectativas, ele só foi educado. Só educado e lindo. Só isso.
***********************************************************************************************
Obrigada pela leitura!
Vote e deixe seu comentário.
É MUITO IMPORTANTE, VIU!?
Xoxo!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Flame
Teen FictionAlice Palmer não conhece os pais ou os avós, mas tem o amor de sua tia Lucy, e a companhia de seus livros. No último ano do colegial ela vive no seu silêncio perfeito. Após, voltar de um temporada na casa da avó, Scott Kinney volta ao seu posto de b...