~ Capítulo 4 ~

53 7 0
                                    

~Alice

O outono é minha época preferida do ano, aquela coloração laranja avermelhada incrivelmente apaixonante das folhas nesse período, que deixava a cidade com um ar bem mais aconchegante, que no resto do ano, me fascinava. Cruzei o estacionamento da escola, fitando ao longe as folhas de bordo caírem das árvores no parque, uma chuva fininha começou, eu sabia que não demoraria a intensificar, apressei um pouco meus passos. Observei meu ônibus começar a se deslocar me deixando pra trás.

Tá de brincadeira!?

Perder o ônibus amarelo significava uma boa distância a pé até em casa, e eu não tinha tempo nem paciência para aquilo. Meu andar tinha se transformando em uma corrida frenética, vi de relance algumas pessoas rirem do meu desespero, escorreguei e em pouco tempo eu estava no chão, meus joelhos doíam e meu cabelo era uma bagunça sobre minha cabeça abaixada. Meu rosto, com toda certeza, agora estava completamente vermelho, levantei o olhar e a minha volta os alunos riam e comentavam, uma mão apareceu no meu campo de visão, corri meus olhos até o rosto bonito de Scott e meu coração saltou com a certeza de que era realmente ele ali. Pelo canto dos olhos observei a pequena multidão se dissipar e em pouco tempo era só eu e ele. Encaixei minha mão na sua, aceitando a ajuda e levantei, nossos corpos ficaram tão próximos, que eu podia sentir sua respiração tranquila no meu rosto.

— Tudo bem com você? – indagou com a voz rouca.

Assenti e sorri de leve, enquanto dava alguns passos atrás e ajeitava a bolsa no ombro — Obrigada!

— Relaxa.– disse e ajeitou o cabelo – Sou Scott e você quem é?

— A-alice, Alice Palmer. – minha voz saiu fraca e eu me odiei por essa timidez estúpida.

— Parece que seu meio de transporte te esqueceu aqui! – olhei na direção que ele apontou e concordei.

— É, e eu tenho que começar a andar agora se quiser chegar cedo em casa. – ia me virando quando o ouvi.

— Sua outra opção é ir a pé? – perguntou analisando meu rosto

— Hurum.

— Eu tenho que deixar alguns amigos em casa, e tenho um lugar sobrando, eu te deixo em casa.

— Obrigada de novo, mas não precisa!

— Pelos meus poderes meteorológicos tenho certeza que não vai conseguir chegar ao próximo quarteirão, sem estar toda encharcada, vai arriscar? - Fiquei calada por alguns instantes.

Eu realmente estava cogitando aceitar a carona de um cara que sequer me conhecia?

Alice você tá ficando maluca!

Completamente maluca.

— E aí, escolheu que vai querer chegar em casa seca, sã e salva? – um pequeno sorriso de lado surgindo em seus lábios.

— É, eu escolhi isso – abaixei o rosto.

— Ótima decisão, docinho. Vamos. – sua mão segurou a minha novamente, me levando consigo.

Chegamos até seu carro, seu melhor amigo, Owen, estava encostado de forma desleixada na lateral do carro preto, e sorria enquanto mexia em algo no celular. Uma garota caminhava em nossa direção, quando ela chegou mais perto vi que suas bochechas estavam coradas e os lábios inchados.

— Demorou, otário. Liga logo essa lata velha. – disse.

— Calma aí, Stacey. Cadê sua educação? Quem é essa gracinha aqui?– foi a vez de Owen se pronunciar, seus olhos pequenos e levemente puxados me analisaram rapidamente, antes de se aproximar e deixar um beijo no dorso da minha mão. – Prazer, uh, como posso te chamar?

— Essa é a Alice Palmer. – Scott tomou a frente.

— Bem, Alice Palmer, sou Owen e estou a sua disposição. – depois de uma piscadela a grande apresentação de Owen foi finalizada, por um tapa na sua cabeça deixado por Scott.

— Ótimo, Don Juan! Deixa a garota em paz! Stacey cadê sua amiguinha que ia com a gente?

— Tá ali – apontou – Tina, vamos garota!

Tina não parecia muito feliz, enquanto caminhava até nós. A chuva antes fininha agora tinha engrossado um pouco.

— Vamos lá.

Scott entrou pela porta do motorista, Owen no passageiro, eu e as outras garotas nos acomodamos na parte de trás do carro. E eu confesso que estar ali com pessoas que eu nem conhecia de verdade, me deixou desconfortável e arrependida, mas agora eu já estava ali.

— Você se lembra de mim? –Tina virou seu rosto para mim.

— Lembro, eu te ajudei aquele dia, como vai?

— Tô legal, como conseguiu essa carona?

— Perdi o ônibus e cai. – sorri, em voz alta parecia ainda mais ridículo.

Ela apenas assentiu e voltou seu olhar para a paisagem lá fora, aquele não parecia ser um bom dia para ela e eu decidi não incomodar. Owen foi o primeiro a chegar no destino ele acenou para nós e correu até a varanda da casa. Scott arrancou depois de Stacey pular, literalmente, para o banco da frente, uma música que eu não conhecia, preencheu o carro.

— Essa é minha parada, o dia está sendo cheio, mas espero que possamos nos falar novamente, aqui está meu número. – disse me entregando um cartão rosa, cheio de purpurina, com Tina e um telefone escrito. — Beijinhos. Valeu pela carona, Kinney! – desceu acompanhando Stacey.

— Agora só falta você, pode passar aqui pra frente, para me ensinar o caminho – ouvi a voz grave de Scott chegar a meu ouvido

— Tá. – dei a volta no carro e entrei pela porta do passageiro, me encolhi ali.

Expliquei o caminho até em casa, e em poucos minutos estávamos de frente para a pousada.

— Olha muito obrigada mesmo! Sério! Eu nem sei como agradecer, por sua gentileza. – me virei para ele.

— As pessoas não me consideram muito gentil, mas se você diz – tocou meu queixo de leve e deu um sorriso torto.

Eu tinha ficado um pouquinho desnorteada e me embolei para sair do carro, mas consegui. Me despedi de Scott e depois de ver seu carro virar a curva da minha rua, corri até em casa.

Na recepção da pousada, dei de cara com uma Lucy sorridente e desconfiada.

— Quem era o gatinho? – indagou apoiando a cabeça nas mãos.

— Um colega da escola que me ofereceu uma carona. – expliquei simplesmente, Scott não era meu colega e nem nada, mas preferi deixar assim.

— O que aconteceu com o ônibus?

— Perdi.

Com os olhos semicerrados, ela me estudou e assentiu — Ok, mocinha. Agora vá guardar suas coisas e comer, preciso de você no restaurante daqui a pouco.

— Sim, senhora – sorri dei a volta no balcão, deixei um beijo na sua bochecha, e subi as escadas correndo.

Eu nunca poderia imaginar que ia trocar uma palavra com Scott e ainda receber uma carona. Dei um tapa na minha testa.

Para de criar expectativas, ele só foi educado. Só educado e lindo. Só isso.

***********************************************************************************************

Obrigada pela leitura!

Vote e deixe seu comentário.

É MUITO IMPORTANTE, VIU!?

Xoxo!

FlameOnde histórias criam vida. Descubra agora