_Como isso é possível?_
Pergunto ainda sem acreditar em tudo que estava acontecendo.
_ Como raios você conseguiu fazer isso Davi?_ Me levanto e consigo me recompor.
_Bem,eu estudo a teoria das múltiplas realidades desde os 8 anos._ Ele explicou, dando de ombros como se aquilo fosse óbvio demais pra ele._ Você era uma criança estranha._ Observo.
_ Eu não era estranho, só não era um idiota que nem você._ Ele me olha irritado.
_ Não que isso seja mentira,mas não precisa ofender!_ Digo emburrado._ Continue._
_ Então depois de 8 anos de estudo, eu finalmente consegui montar os cálculos e gastei as minhas férias inteiras construindo a primeira máquina do tempo!_
Diz ele, depois de ter subido em cima da mesa, como se a mesma fosse um pedestal,suas mãos estavam levantadas e ele tinha uma expressão vitoriosa no rosto.
_ Menos Davi,bem menos,por favor._ Eu estava com expressão de choque._ Esse cara é louco._ Penso alto.
_ Eu posso te ouvir,sabia?_ Ele me encara lá de cima._ Eu estava dizendo que você parece muito legal aí em cima da mesa._ Rio de nervoso.
_ Sei..._ Ele estava incrédulo._ Tá, agora, que tal nós falarmos sobre como eu vou voltar e salvar a Lírio? Você tem um plano, certo?_ Tento fazer com ele desça de cima daquela mesa.
_ Ah é mesmo,temos que falar sobre isso._ Ele finalmente desce da mesa e pega o relógio das minhas mãos.
_ Tá vendo esse botão?_ Ele aponta para um pequeno botão,acima do círculo que guarda as engrenagens e todo o resto do objeto.
_ Sim._ Assinto._Gire o botão até a hora que aparecer formar a data que você quer,cada hora desse relógio é uma data do futuro ou do passado, depois disso aperte o botão e pronto. _
_ Simples assim?_ Pergunto espantado.
_ Simples assim!_ Ele afirma.
_ Puxa, você é bom mesmo._ Minha frase o faz apoiar seus punhos na cintura e posar com um super herói.
_ Err..._ Tento permanecer normal com aquela cena constrangedora_ O que eu faço se alguma coisa acontecer ?Tipo,sei lá, viagem no tempo sempre dá ruim,nos filmes._
Ele alisou o queixo, pensativo._ Ligue pra mim, os celulares funcionam independente das épocas._
_ Certo,eu devo ligar pra você e depois?_ Gesticulo com a mão, mostrando que eu queria mais informações.
_ Se alguma coisa acontecer, você me liga e eu te trago de volta,pode confiar Johan._
_ Tá,mas e o plano,o que eu devo fazer?_ Pergunto ansioso.
_ Eu não sei,salve ela,encontre o culpado. Ou então tire ela de casa._ Ele da de ombros.
_ Mas porque tem que ser eu? Você viu ela ser morta e não fez nada?_ O encaro com raiva.
_ Eu não tenho a coragem que você tem Johan._Ele abaixou a cabeça._ Eu fiquei com medo de me arriscar por causa dela,mas me arrependi,por isso estou pedindo a você! Você foi o único que a notou Johan,salve a Lírio!_
Respiro fundo.
_ Tudo bem. Vou bancar o herói dessa vez._ Sorrio.
_ Obrigado Johan._ Davi também sorri.Mais tarde em meu quarto,fico pensando em tudo o que aconteceu, agora eu tinha um dever a cumprir,eu deveria salvar a Lírio, não importa como.
Coloco o relógio e após seguir as instruções de como usar a máquina,em poucos segundos estou de novo ,na minha escola do 5 ano.
O sinal acaba de tocar e as crianças correm,empolgadas para voltarem para suas casas.
No fundo encostada na parede e praticamente escondida no meio daquela mini multidão, vejo Lírio.
A atmosfera do inverno se torna ainda mais fria e tensa com sua presença. Ela tinha uma expressão diferente do que eu me lembrava, eu sempre pensei que ela estava apenas séria,mas agora tinha notado que havia dor sendo expressada nas linhas de seu rosto.
Quando todos já acabaram de correr,ela anda lentamente, diferente das outras crianças. Enquanto ela anda,o bolso aberto da sua mochila, que estava entreaberto,deixa cair um estojo.
Corro para pegá-lo antes que alguém pise no mesmo
_Ei , você deixou cair isso._
Digo com o estojo na mão._ Ah , obrigada,devem ter aberto minha mochila de novo._
Ela pega rapidamente o estojo e logo sai correndo.
Fico parado,sem reação.
_ Ei , espera. Você é da 502 ?_ Essa foi a primeira pergunta que veio a minha mente.
_ Sou, porque?_ Ela me olha assustada e talvez um pouco curiosa.
_ Ah por nada. É que é a primeira vez que eu te vejo e tá escrito no seu estojo que você é do quinto ano._ Será que fui convincente?
Ela solta um " ahhh" demonstrando que entendeu.
_ É que eu não saio da sala._
Ela se vira para ir embora.
_ Então seus amigos ficam lá dentro?_ Pergunto.
Lentamente ela gira seus pequenos pés cobertos com tênis all star pretos de cano baixo desgastados.
_ Amigos? Que amigos._ Um sorriso irônico brota em seu rosto._ Eu não gosto de conversar,me deixa em paz
Ela saindo correndo.
_Isso foi horrível !_ Grito comigo mesmo
No caminho de volta, penso no quão difícil será a minha missão, como eu descobria como salva-la,se ela nem fala direito comigo?Eu tinha me metido em uma grande cilada.
O caminho me dá bastante nostalgia,meu bairro não mudou tanto durante os anos,mas ainda é estranho, tudo parece diferente só de você saber que está no passadoVolto para casa,para o quarto de quando eu tinha dez anos, que é muito parecido e ao mesmo tempo diferente do atual. Alguns posters de corrida, que hoje davam lugar a pôsteres dos meus personagens preferidos,dos jogos que eu jogo.
A noite,meu sono demora a vir, eu estava com medo de acordar e tudo aquilo ter sido um sonho. E também estava com medo de acordar no futuro e descobrir que Lírio estava morta e dessa vez a culpa foi minha,de alguma forma.
Aos poucos meu coração vai desacelerando e eu consigo dormir.
_ Boa noite Johan._ Ouço a voz da minha mãe antes de ouvir a porta fechar,o que me traz conforto e ao mesmo tempo saudade. No presente ela trabalhava tanto que eu e Safira mal a víamos. Talvez eu também pudesse mudar isso, já que tinha voltado ao passado.No dia seguinte,assim que o sinal do recreio toca,vou para sala da 502.
Encontro Lírio sozinha desenhando,ela estava sentada na primeira cadeira da fileira do canto,perto da porta.
_Oi._ Digo timidamente.
_ Ah você,o que você está fazendo aqui?_
Pergunta ela,sem tirar os olhos do desenho,seu tom de voz expressava irritação.
_ Primeiro eu queria me apresentar ,já que você não me deixou fazer isso ontem. Meu nome é johan._
Ela continua a desenhar.
_ Assim fica difícil, você reclama que não tem amigos e quando alguém aparece querendo fazer amizade, você espanta essa pessoa!_ Perco a paciência.
Finalmente ela levanta a cabeça.
_ E quem disse que eu estava reclamando? Eu não preciso de amigos. _ Seus olhos estavam concentrados em mim de uma forma, que ela poderia ver até mesmo meus rins e órgãos internos. Aquele olhar profundo,me deixou assustado.
_Quem mandou você aqui? Diga à essa pessoa que a brincadeira não funcionou._
Ela pergunta de modo ríspido.
_ Ninguém me mandou , eu estou aqui por que eu quero. Eu realmente quero muito ser seu amigo._
As palavras soam tão verdadeiras que até eu me surpreendo.
Ela começa a rir,era notavelmente uma risada forçada, não havia nenhum traço de alegria ali.
_ Você já me fez rir o bastante, agora sai daqui, você está me atrapalhando!_Ela se levanta._ Vou chamar a professora se você não sair._
_ Calma,eu só quero conversar._ Levanto minhas mãos em sinal de rendição.
_ Mas eu não quero!_ Ela fala com um tom de voz firme._ Sai daqui! Tia Rosa!_ Ela começa a gritar.
_ Ok, já estou saindo._
Ela se senta e volta a desenhar.
_ Não me perturbe mais._ Ouço sua voz dizer,antes de deixar a sala.
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O dia em que eu te vi pela primeira vez
Ciencia FicciónA vida de Johan ,um garoto de 16 anos segue como a de qualquer adolescente, até que ele começa a ter visões com uma garota que ele só viu uma vez e que se suicidou dias depois. Johan acaba descobrindo que há muito mais coisas por trás da morte da g...