Capítulo 4

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Saio da sala e chego até metade do corredor, vários dos meus colegas me olham curiosos.
_ Onde você tava Johan?_ Pergunta Michel.
Michel,Alessandro e João faziam parte do meu grupo na escola, fazíamos trabalhos  e brincávamos juntos no recreio,mas quando o sinal batia e as aulas acabavam,era como se ninguém se conhecesse.
_ A gente tava te procurando pra jogar._ Alessandro segurava uma bola de futebol em suas mãos._ Vamos!_
_ Tá!_ Exclamei com um sorriso,eu sentia falta daquela interação,no presente nenhum dos meninos falam mais comigo,todos estão muito ocupados bebendo, frequentando bailes com músicas cheias de palavrões e pegando garotas,várias delas.
Eu era péssimo em futebol,o que me fazia cair várias vezes.
_ Você é muito ruim Johan! Seu perna de pau!_ João gritava.
_ Pena que a diretora só deixa mais de três pegarem a bola, senão a gente nem te chamava._ Michel observou.
Eu lembro de sempre rir desses comentários, porque achava que eram apenas brincadeiras.
Risadas altas foram ouvidas,havia uma multidão ao redor da entrada da sala 502,todos  nós corremos para ver o que estava acontecendo e nos juntamos a multidão.
Eu era mais baixo que os outros meninos,por isso não conseguia ver o que estava acontecendo.
_ Que garota estranha! Só tem desenhos de gente morta ali!_ Michel comentou.
_ Bem que meu pai comentou que japoneses são mórbidos!_ João falou com um sorriso amarelo.
Japoneses? Espera a Lírio era descendente de orientais! Me espremo entre aqueles vários pequenos corpos e chego até o centro da multidão,onde uma garota alta de cabelos castanhos compridos presos em maria chiquinhas dia de Lírio, que estava encolhida na parede.
No chão havia vários desenhos,todos de uma menina aparentemente morta, com uma expressão alegre no rosto.
_ Porque você não faz coisas normais? Lá no seu país é normal desenhar gente morta?_ A mais alta ria.
Olhei para trás,todo mundo estava rindo, inclusive meus amigos.
Lírio não expressava nenhuma reação,ela apenas olhava pro chão,com um olhar vago. Era como se ela não estivesse ali.
_ Estou falando com você!_ A garota alta lhe deu um tapa no rosto. Nem isso fez com que Lírio saísse do lugar,era como se ela já estivesse acostumada com isso.
_ Para!_ Gritei.
Todos olharam surpresos para mim.
_ O que você tá fazendo? Não acha os desenhos dela estranhos?_ Ouço alguém perguntar.
_ Vocês são o que? Críticos de arte? Deixem ela desenhar o que quiser!_Falo e pego Lírio pela mão.
_ Vem._ Chamo.
Ela me olha assustada.
_ Ir? Aonde?_
_ Vamos contar pra diretora ué, isso é bullying!_
Seus olhos puxados se arregalam e ela balança a cabeça em negação.
_ Não, eu não quero ir!_ Ela solta minha mão com força.
_ Viu,até ela sabe que está errada!_ Michel grita._ Para com isso Johan,deixa de ser careta._
Chego perto de Lírio e falo em seu ouvido:
_ Vem comigo,eu não vou te levar pra ditetoria,mas vamos sair daqui._
Ela assente e vamos para a quadra, deixando todos olhando estranho para nós,antes de sair Lírio pega os papéis,os rasga e joga no lixo.
_ Porque você jogou os desenhos no lixo?_ Pergunto,eu estava brincando com a bola que tinha ficado na quadra.
_ Assim nenhum adulto vai descobrir._ Ela estava sentada em um dos bancos na quadra,com a cabeça baixa.
Tento fazer uma embaixadinha,eu sabia que não conseguiria,mas queria fazê-la rir. Ela não expressa nenhuma reação.

_ Por que você interveio? Seus amigos não vão mais falar com você._
_ Não me importo._ Largo a bola e olho para ela._ Lírio,eu já disse isso antes,mas eu quero ser seu amigo._
Ela respira fundo.
_ Você não vai me deixar em paz né? Acho que devo te agradecer,afinal você me ajudou._ Diz, levantando a cabeça e forçando um sorriso.
_ Não precisa me agradecer._ Sorri.
_ Eu fui um pouco grossa com você, queria pedir desculpas._
_ Está tudo bem._
Contínuo sorrindo.
Lírio saí se levanta e se vira para ir embora.
_ Espera, nós pegamos o mesmo caminho para casa, pensei em irmos juntos.Se você quiser, claro._

_ Você realmente é insistente hein._ Ela ri. _ Está bem._

Logo assim que as aulas acabam,vou para a porta da sala 502,Lírio sai de lá e me olha surpresa.

_Você veio me esperar?_ Sua boca faz "o"em sinal de surpresa.

_ Sim!_ Respondi sorridente.

Ela abaixou a cabeça e saiu andando,fiquei parado tentando entender se estava ou não com raiva de mim.

_Você vem ou não?_ Ela se vira pra mim,com a cabeça um pouco levantada,ela me olhava com uma expressão de "o que você está fazendo?".

Imediatamente corri para segui-la e assim saímos da escola,as outras crianças passavam atrás de nós rindo. Lírio parecia nãos e importar,então eu não disse nada,talvez ela já tenha lidado com isso muitas vezes.Enquanto andamos,percebo que Lírio tem o costume de olhar sempre para baixo.

_ Você não fala muito não é?_ Falo olhando nos olhos dela ou pelo menos o que eu conseguia ver deles,pois seus cabelos negros cobriam seu rosto.
_ Eu não tenho nada interessante para falar._ Sua voz saiu baixa e abafada.
_ Claro que tem! Por que não começamos com o que você gosta de fazer?_
_ Você é direto hein, bom eu gosto de livros,eles te levam para mundos fantásticos,bem melhores que esse._ Ela abre um enorme sorriso.
_ Então você consegue sorrir!_
Minha frase faz com que ela fique corada.
_ É impressão sua ,eu não sorri!_
_ Está bem então você não sorriu._
_ E você, gosta de livros?_
Ela pergunta,mudando de assunto.
_ Não muito,eu prefiro jogos._
_ Os dois fogem da realidade, não são tão diferentes assim._
_ É,talvez._
Lírio se apressa e fica muitos passos a minha frente.
_ Eu fico por aqui._ Ela estava nervosa,pude notar sua respiração ofegante e algumas gotas de suor em sua testa.
_ Nos vemos amanhã?_ Pergunto,ainda sem entender direito o porquê de ela ter corrido desse jeito.
Ela para no lugar e encara o chão pensativa.
_ Sim !_ A pequena me olha rápido e em seguida corre feito uma desesperada,eu pensei em segui-la e tentar desvendar a razão de tanto mistério...Mas eu não podia trair sua confiança,que já era pouca. Qualquer erro significaria sua morte no futuro e eu não queria errar novamente,não queria transformar isso em um daqueles livros de ficção científica,onde o protagonista tem que voltar várias vezes no tempo,antes de conseguir seu objetivo.

Caminho lentamente de volta para casa,quando chego Safira está sentada no sofá,descalça,com a roupa da escola e comendo um bolinho daqueles industrializados,que vendem nos supermercados.

_Você demorou._ Ela me encarava curiosa,suas bochechas estavam cobertas com as migalhas do bolinho assim como seu rabo de cavalo e a camisa do uniforme.

A versão com 8 anos de idade da minha irmã era realmente bonitinha.

_ Onde você estava?_ Ela se levantou do sofá e milhares de migalhas caíram no estofado,minha mãe ia me matar quando visse aquilo,sim me matar.Safira sempre se safava por ser fofa.

_Eu voltei com uma amiga dessa vez,por isso demorei._ Digo enquanto pego o aspirador de pó,para arrumar aquela bagunça.

_ Uma amiga,é?_Ela me olha com um sorriso malicioso,o que me faz revirar os olhos.

_ Onde a mamãe foi?_Pergunto.

_Ela foi ao mercado,disse que voltava logo._ Disse a mais nova com uma caixa de achocolato nas mãos.

_ Ah não Safira!_

_ Me,deixa! Eu tô com fome!_ A garotinha faz biquinho e sai da sala.

_ Se você sujar alguma coisa,eu não vou limpar hein! Limpa você!_ Pego minha mochila e vou para o quarto.

Jogo a mesma na cama e fico encarando a janela,lembranças dos desenhos de Lírio vinham à minha mente. Será que a criança dos desenhos era ela? Ela estava planejando se matar? Mas o Davi disse que viu alguém a assassinando. Essa história estava cada vez mais confusa.

O dia em que eu te vi pela primeira vezOnde histórias criam vida. Descubra agora