O dia em que eu te vi pela primeira vez

Capítulo 6

No  dia seguinte,vou até a sala de Lírio na hora do recreio,como sempre vinha fazendo.

Mais uma vez ela não estava lá.

Mais uma vez entro em desespero.Eu ainda teria um infarto até o final de toda essa aventura.

Sem que ninguém veja,corro para minha sala e pego minha mochila.Então vou correndo desesperado até a parte mais afastada do pátio,onde tem um muro,que muita gente usa pra matar aula.

Jogo minha mochila por cima do mesmo e então pulo.Quando caio no chão sinto minha doer.

_ Nos filmes parece tão fácil..._ Falo enquanto acaricio a parte inferior do meu corpo._Não posso perder tempo._Corro com dificuldade,torcendo para que ninguém tenha me visto.

Vou até a casa de Lírio,ou pelo menos eu suponho que seja a casa dela,toco a campainha  a senhora da noite anterior vem me atender.

_ Quem é você garoto? Eu não te conheço!_ Diz a mais velha,que me olhava de cara feia.
_ Sou um amigo da Lírio,vim saber porque ela faltou,já que nunca falta._ Faço minha melhor cara de "anjinho inocente".
_ Aquela garota tem um amigo?_ A senhora me olha impressionada e então fica pensativa.  _Ela ....Faltou porque está doente._ Aquela desculpa não tinha me convencido. Eu estava suspeitando ainda mais daquela idosa,mas mantive minha postura de criança ingênua.

_como sabe onde ela mora?_ A mais velha,que eu deduzi ser avó de Lírio,perguntou.
_ Nós sempre voltamos juntos da escola._ Respondi com um sorriso doce.
_ Certo.Já tem sua resposta então vá embora!_Diz ela fechando a porta na minha cara.

Um dia,restava apenas um dia.Eu voltei dez anos no tempo e estava dando um duro danado pra me tornar amigo de Lírio. Não seria aquela senhora que iria me impedir de salvar a Lírio!

Vou até os fundos da casa e pulo a janela,quase grito de dor ao fazer isso.Olho em volta,não era um quarto normal para uma garota de 10 anos,não havia bichos de pelúcia,Posters nem nada disso. Apenas uma cama velha e um armário que já não tinha mais portas,as paredes estavam mofadas na parte de baixo.

Procurei Lírio por todo o quarto e então ouvi um choro de criança,vindo de debaixo da cama.

Era Lírio?

Me abaixei e observei,ela vestia apenas um vestido extremamente fino e haviam hematomas em seus braços e pernas. Ela estava encolhida e agarrava os membros inferiores. A posição escondia seu rosto,mas eu podia notar que ela estava chorando.

Eu nunca tinha visto Lírio daquela maneira...Tão frágil,ela sempre parecia fria com as outras pessoas,mas na verdade estava apenas escondendo sua dor.Não,ela não escondia,ela sempre pediu por socorro em seus desenhos,mas todos daquela escola eram cegos e não viam isso.

Meu coração se partiu em mil pedaços,minha vontade era tirá-la dali e leva-la para minha casa,onde minha mãe cuidaria de seus machucados e talvez aos poucos,ela pudesse viver como uma criança normal.

Mas ela aceitaria minha ajuda? Para Lírio eu era apenas um estranho. Se eu dissesse algo,ela provavelmente se afastaria ainda mais de mim.

_Vá embora._ Ouvi a voz dela em meu aos soluços e o choro.Ela tinha notado minha presença?_Já chega por hoje.Se eu faltar mais dias vão desconfiar,então espere pelo menos mais alguns dias pra me bater._

Seu pedido trouxe lágrimas aos meus olhos.Pulei a janela de volta,com medo de que alguém me visse.

Eu tinha que salva-la,agora mais do que nunca.

Tento ligar diversas vezes para Davi,mas exatamente como nas outras vezes,todas as ligações caem na caixa postal.
Estou com medo do que vai acontecer. E se ela ela tentar alguma coisa? Lírio parecia arrasada. E se ela apanhasse ao ponto de não aguentar? E se ela estiver sendo assassinada agora agora?
Meus pensamentos girava como um peão,eu já estava começando a cansar de tudo isso.
Por que eu aceitei ser um herói?
Eu não tinha nada haver com isso. Por que eu queria tanto salvar aquela garota?
Meu coração acelera.
Agora eu conseguia entender.
Eu gostava de Lírio, eu não sabia como eu tinha desenvolvido esse sentimento apenas vendo ela,mas agora que estava conhecendo a pessoa por trás da imagem que assombrou minha mente por tanto tempo... Eu não conseguia mais viver bem se Lírio não estivesse lá.
Mesmo que ela não fosse mais falar comigo,mesmo que eu pudesse apenas observa-la de longe.
Eu já estaria feliz.

O resto daquele dia foi terrível,eu me sentia um inútil, impotente.
Ficar dentro de casa era angustiante mas se eu saísse nada mudaria também.
Eu não sentia vontade de fazer nada,jogar comer ou até beber água.
Eu estava sozinho,jogado no sofá.
Então minha mãe chegou com Safira.
_ O que foi Johan?_ Ela perguntou sem expressar nada.
O que eu deveria dizer?
" Mãe eu voltei no tempo pra salvar uma garota morta e acho que vou falhar na minha missão."
Esse sentimento era uma droga, mesmo que eu explicasse ninguém entenderia e isso só tornava tudo mais sufocante.
_ Eu só estava cansado._ Falei, minha voz saiu mais desanimada do que nunca.
_ Vá dormir no seu quarto!_ Ela me olhou séria.
_ Ok mãe._ Levantei e fui para o meu quarto, praticamente me arrastando.
Então me joguei na cama e fiquei lá pelo restante do dia.
Quando já era noite,Safira bateu na minha porta.
_ Johan, saiu! Ela pediu pra você esquentar minha comida._
Me levantei com muita dificuldade e fui até a cozinha.

Observo o prato de comida girar de modo caótico no microondas,que parecia até uma metafora para o meu estado mental.

_Mamãe saiu de novo?Vocês já não tinham saído a tarde?_ Pergunto,sem demonstar muito interesse.

_Sim,mas você sabe como é o trabalho da mamãe,sempre tem alguma entrega de última hora._ Safira também olhava para o aparelho. Minha mãe tinha um serviço de entrega,ela cozinhava quentinhas em casa por encomenda.No presente,ela era muito requisata,o que fazia ela ficar fora por muito tempo,pois contratar um motoboy seria caro demais.

_Você não sente falta dela?_ O microondas apita e eu retiro o prato de dentro do mesmo.

_Eu sinto,mas a mamãe gosta desse trabalho,e as coisas ficaram melhores depois que ela começou. Ela não tá mais triste porque o papai largou ela,então acho que tudo bem ela não ficar tanto tempo com a gente.Até porque a gente um dia vai crescer e ter nossos empregos também,né?_Ela sorria.

_Quando foi que você ficou tão inteligente,hein?_Pergunto.Ela apenas pega o prato e sai.

Eu deveria me conformar também? Pensar: "Se a Lírio morreu,pelo menos não está sofrendo mais?"

Não.

Existem coisas com as quais você deve se conformar e existem coisas que você deve lutar pra mudar,a morte de Lírio com certeza era a segunda opção.

Eu não posso mais ter medo do fracasso,porque se eu deixar ele me dominar aí sim eu irei fracassar.