"Quem conta um conto aumenta um ponto"
Quem é que nunca ouviu essa expressão? A verdade é que no momento em que alguém aumenta um ponto, ou seja, acrescenta uma cena ou evento, não está mais "contando o conto", mas sim recontando e o adaptando à própria versão.
Bom, vamos ignorar essa gafe do nosso ditado popular e seguirmos direto ao assunto.
Que tal escrevermos um conto?
Muita gente acha que escrever um conto é um bicho de sete cabeças, mas não é. Pessoalmente eu queria que fosse, tenho muito vontade de encontrar esse bicho de sete cabeças que tanto falam (não riam, é sério).
A seguir vou deixar algumas dicas para você escrever o seu conto de forma simples e direta, fluindo e pronto para atrair seus leitores.
Número de palavras
Vamos começar desmistificando essa ideia de que contos são medidos por palavras, pois não são, pelo menos não no Brasil. Não existe uma regra oficial da Academia Brasileira de Letras que defina um número de palavras mínimo ou máximo para contos.
Muitas pessoas pensam que existe, pois, concursos literários tendem a definir limite de palavras em seus contos a fim de tornar mais rápida, prática e simples a leitura para avaliação.
Costumamos utilizar a medida usada na literatura inglesa, onde contos tem entre 2500 a 7000 palavras na maioria desses concursos, porém, há concursos que estendem esses limites para 10 ou 14 mil palavras. Esses valores correspondem a outros formatos de histórias, mas quando falamos de concurso literário, quem define as regras são seus idealizadores.
O que realmente define se uma história é um conto é a sua Estrutura.
Não existe um conjunto de regras ou manual oficial para a construção de um conto, portanto, se você pesquisar na internet e abrir dez páginas de sites, irá encontrar artigos com dicas diferentes (e talvez algumas em comum) em todos eles.
Contudo, há um padrão que é fácil de ser seguido e é exatamente esse padrão que irei resumir a seguir para vocês.
Elementos importantes em um conto
Protagonista e outros personagens
Considerando que um conto é uma leitura objetiva e direta, não há espaço para diversos protagonistas. Você pode usar um, no máximo dois se ambos seguirem juntos na linha principal da história.
Explicando melhor, imagine que você está escrevendo um conto com um casal como protagonistas. A história é centrada neles e ambos compartilham eventos, isso é válido. No entanto, se o casal tem histórias separadas que não tem ligação direta, você deve escolher um dos dois, o que considerar mais importante, e focar nele como único protagonista da história.
Procure usar o mínimo de personagens que conseguir no elenco. Em um texto feito para leitura rápida, muitos personagens presentes complicam.
A estrutura de cada personagem deve ser descrita de forma simples e rápida, mencionando apenas pontos principais (você nem precisa detalhar personagens que não sejam extremamente importantes), ou seja, não crie uma biografia para o casal, os filhos, a empregada, o motorista, o padeiro, o cachorro e o papagaio.
Tempo
Aqui estamos falando em linha do tempo. A história em um conto precisa fluir como um rio. Ou seja, nada de bancar O Exterminador do Futuro e ficar voltando no tempo, contando a vida dos personagens em flashbacks. Foque no que é relevante para a trama e não perca tempo com detalhes desnecessários.
Se sentir em algum momento que é necessário um flashback para justificar um evento, volte e corrija, trace uma linha temporal onde cada evento que acontece já é um efeito do evento narrado anteriormente.
Não desvie do assunto
Não fique criando pontas que não vão ser explicadas. Se você está contando sobre a vida de um casal que perdeu um filho em uma cirurgia (um exemplo), não precisa dizer como se sentiram o médico que fez a cirurgia, as enfermeiras, os irmãos do casal, nem mesmo os pais. Ser objetivo é focar no que realmente interessa, foque no casal, como eles ficaram com a perda, como se sentiram.
Lembre-se sempre de ignorar personagens secundários em um conto. Imagine que todos os personagens que aparecem além do protagonista, se não tiver uma relação de impacto com ele, são apenas decoração de cenários.
Entendendo como ser sucinto ao narrar um conto
A fim de facilitar a estrutura de um conto, eu costumo dividi-lo em três partes. Cada uma dessas partes pode conter mais de uma cena, mas não sai do objetivo que essa parte exige.
1 – Apresentação do protagonista
Nessa primeira parte o protagonista é apresentado ao leitor. Tudo que há para saber sobre ele é explicado aqui a fim de que não seja necessário flashbacks no futuro. É possível voltar nessa parte e acrescentar elementos se adiante na escrita o autor sentir que esqueceu algum detalhe relevante sobre o protagonista.
Dica: não transforme o começo do conto em um perfil de facebook. Use alguma cena de hábitos cotidianos para dizer como ele é fisicamente e seus costumes, sua ocupação (trabalho, estudo, etc.) e relações afetivas/familiares.
2 – História do protagonista
Nessa parte mostramos o evento principal na vida do protagonista que remete ao tema do conto. Agora que já sabemos como ele é (parte 1), mostramos como ele vive e qual evento em sua vida teve relevância para ser destacada na trama.
É nessa parte da história que é apresentado o vilão ou antagonista da história. Lembre-se de ser sucinto, outros personagens além do protagonista não precisam de grandes construções explicando detalhes sobre si.
3 – Clímax
Finalmente, o que aconteceu com seu protagonista?
Ele sofreu um grande trauma do qual nunca se recuperou? Ou se recuperou?
Seu protagonista morreu? É a hora de explicar em que culminou sua história.
Lembre-se de apresentar uma lição de vida com a história apresentada. Não precisa ser um final bom para ter uma lição boa. É nesse momento que você vai dizer ao leitor as causas do ocorrido, se poderia ter sido evitado e onde conceitos de certo e errado se confrontam nas interpretações da história.
LEMBRE-SE PRINCIPALMENTE que você não pode escrever uma carta para explicar a mensagem que queria passar. Use poucas palavras para isso, se possível um ou dois parágrafos.
Distribuindo bem as palavras no conto
Como eu expliquei no começo, um conto não é definido por seu número de palavras, mas por conta da regra principal, que é ser uma leitura direta e objetiva, eu recomendo a contagem de palavras, focando no ponto de que quanto menos palavras forem usadas para contar a história melhor, por isso é importante saber evitar detalhes desnecessários.
Uma forma de evitar informações irrelevantes é lembrar sempre que você não precisa ficar apresentando opiniões sobre tudo na história, foque em apresentar o ponto de vista do protagonista apenas sobre o evento principal.
Tomando como exemplo que você decida escrever seu conto com limite de 7 mil palavras, recomendo a seguinte divisão:
Apresentação do protagonista: 2 mil palavras.
História do protagonista: 4 mil palavras.
Clímax: Mil palavras.
Pode parecer complicado à princípio, mas logo você irá entender que pode ser breve na apresentação do personagem principal, gastar um pouco mais de tempo em sua história pessoal e não enrolar no clímax com a lição sobre aquele ocorrido.
O que está esperando?
Vamos escrever contos.
Boa escrita!
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Um MILHÃO de UNIVERSOS
General FictionO objetivo desse livro é simples: ajudar você, que já tem sua história iniciada ou que está querendo iniciar uma nova história do zero, a seguir em frente e escrever cada vez mais. Nós vivemos em um país onde uma grande parcela da população se esque...