A herdeira havia sido encontrada, mas ela não está preparada para tal cargo, ela não quer o poder.
Muitos a querem morta e é o dever de uma escola proteger todos os seus alunos, mas poderia lhes proteger deles mesmos?
E o amor? Seria mais forte do...
Eu a observava de longe enquanto caminhava pelos arredores da escola, camuflava meu cheiro enquanto ela baixava a guarda, sem perceber que eu me encontrava ali. Camila caminhava chutando uma pedra fora da trilha da escola, se enfiava na floresta que ficava ao redor e eu a seguia devagar, zelando seus passos. Ouvia sua voz baixa enquanto ela cantarolava uma canção em espanhol, nem parecia que queria me matar a qualquer custo.
Estava no alto de uma árvore quando escorreguei, não caindo por pouco e atraindo olhar de Camila em minha direção, seus olhos cravaram em mim e eu me preparei para me defender, mas ao contrário do que eu imaginava ela apenas virou de costas e continuou o seu caminho, murmurando sua música em espanhol.
Pensei em deixar de segui-la, mas queria saber onde ela ia sozinha naquela hora. Desci da árvore e coloquei minhas mãos nos bolsos do casaco, prestando atenção em todos os sons da natureza ao meu redor.
Acabei me surpreendendo quando Camila parou bruscamente, virando e me encarando com seus olhos castanhos.
-Eu poderia estar te levando para uma emboscada, sabia?
Falou sorrindo enquanto erguia uma sobrancelha, voltando a andar devagar em minha direção.
-Por você vale o risco.
Respondi recebendo um olhar confuso e um pouco curioso de volta.
-Eu não entendo.- Camila chegou perto o suficiente para que eu pudesse sentir seu hálito quente- Eu te sequestrei, te acorrentei, te queimei, quero te matar sempre que tenho uma oportunidade... Como agora. E mesmo assim você se arrisca vir atrás de mim. Por que?
Sua pergunta era sincera, eu sorri de lado e olhei em seus olhos, suspirando antes de dizer.
-Porque eu amo você, Camila.
Os seus olhos se arregalaram por um momento e pude vê-la dar um passo para trás, mas eu segurei firme em seus braços a obrigando a ficar perto de mim.
-Como?-Ela perguntava- Como pode amar alguém que quer te matar?
Afrouxei o aperto em seus braços e avistei um tronco caído, indicando para que ela sentasse e para minha total surpresa, ela aceitou.
-Gosta de histórias?
Perguntei observando sua feição.
-Talvez.-Respondeu mordendo o lábio- Mas não enrola, eu ainda quero te matar.
Acabei sorrindo, eu queria beijá-la.
-Em uma época, não muito distante. Existia a garota mais incrível que eu já tive o prazer de conhecer, ela tinha duas melhores amigas que foram mortas porque ela não quis se entregar a ruína e em seguida ela se apaixonou por alguém que carregava consigo uma maldição. Como pode ver, ela não tinha uma sorte muito boa- Pude ver um pequeno sorriso nascer no rosto de Camila- Mais uma vez a ruína tentou derrubá-la e ela sabia que desta vez não teria jeito, para proteger quem ela ama ela teria de se entregar. Mas essa garota tinha um plano, dividiu sua alma em duas para que apenas uma parte fosse possuída pelas sombras que insistiam tanto em tocá-la... Quando ela voltou para a outra garota pela qual ela era apaixonada sentiu que não era mais a mesma, se esqueceu de tudo, por conta das sombras, por conta da ruína.-Fiz uma pausa atraindo mais uma vez seu olhar para mim e segurei em seu queixo, me segurando para não beijá-la- Camila, você já sentiu como se algo faltasse em você, um vazio?
-Sinto todos os dias.
Respondeu sem tirar seus olhos dos meus.
-Esse símbolo no seu peito, foi causado por uma pedra e sei que em outro lugar deve ter outro símbolo de divisão, estou errada?-Camila negou com a cabeça, encantada com o que eu dizia e levantou um pouco a camiseta, mostrando na costela o símbolo de divisão.- Sei que em algum lugar dentro de você, você me ama. Por isso não conseguiu me matar quando eu estava naquela casa. A garota da história é você e eu sinto muito por ser.
Camila abaixou a cabeça e seus olhos escureceram um pouco mais enquanto ela ria.
-Acha que vou acreditar nessas baboseiras? Está falando tudo isso para me enganar.
Neguei com a cabeça ajoelhada à sua frente, fazendo-a me olhar mais uma vez.
-Me mate agora!- Ela me encarava sem se mover- Me mate Camila e prove que tudo isso que eu falei é mentira.
Seus olhos ficaram ainda mais escuros em desejo e uma de suas mãos foi para meu pescoço me erguendo aos poucos e me tirando do ar, seu sorriso sádico me preocupava, mas eu nada fazia, meus pés já estavam fora do chão e quando o ar começou a faltar seus olhos voltaram ao normal, fazendo Camila me soltar.
-Eu não consigo.
Disse por fim se ajoelhando frente a mim de cabeça baixa. Sem mais me segurar eu ergui sua cabeça e selei nossos lábios, num beijo de saudade e de verdade, queria mostrar que eu a amava e que ela me amava também, só não se lembrava disso.
Suas mãos foram para minha nuca com urgência, enquanto as minhas se apossaram de sua cintura, tomando conta do que era meu, do que sempre foi, o ar começou a nos faltar e Camila quebrou o beijo bruscamente, sumindo de minha frente sem ao menos dizer algo. Me deixando sozinha naquela floresta.
-Onde esteve?
Perguntou Verônica assim que entrei no quarto.
-Não te interessa.
Respondi me jogando na cama e colocando o travesseiro na cara.
-Ô, sua cadela não me responde assim não!-Disse jogando um sapato em mim- Deixaram algo para você na porta, faz uns cinco minutos.
-O que?
Perguntei levantando da cama.
-Isso aqui- Me entregou uma caixa que lembrava muito um baú- Vou encontrar com Sophi, até logo.
E dito isto saiu do quarto, me deixando só.
Sentei na cama novamente com a caixa em mãos e assim que a abri me deparei com a pedra amarela com o símbolo de divisão, ao seu lado estava um bilhete com os dizeres.
"Não faça com que eu me arrependa, me prove que está certa certa Jauregui"
Ass: Karla Camila
E finalmente, com a pedra que eu mais almejava nas mãos, eu pude sorrir, eu teria de volta o meu amor.
