Capítulo 3

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Durante toda a aula tive que suportar os olhares indiscretos e sugestivos que Jess e Michael lançavam para mim, cheios de perguntas. E mesmo tentando sair às escondidas para não ser bombardeada de perguntas pelos dois, eu não consegui.

― Tá tentando se livrar da gente? ― Jess gritou ao longe, trazendo o namorado, puxando-o pelo braço.

"Sim, eu estava".

― Mas que ideia! Claro que não. Por que eu faria isso? ― dei de ombros tentando fingir a calma que eu estava longe de sentir.

Aproximando-se de mim, Jess parou, descansando uma mão em sua farta cintura, enquanto a outra não deixava o braço do Michael.

― Precisamos conversar, amiga ― impôs sem fôlego, por conta da sua pressa em me alcançar. ― Sabe que horas o Tales chegou em casa essa "manhã"? ― ergueu uma de suas sobrancelhas. Aquele era o seu olhar acusativo.

― Tales...? ― então meu estranho tinha um nome...

― Tales! Não se lembra do Tales? ― estava incrédula. ― Alto, branco, cabelos castanhos claros...

― Mel.

― Hã?

― Você disse "cabelos castanhos claros" e eu disse mel, que os cabelos dele é cor de mel! ― como eu poderia esquecer... Então era Tales. Suspirei.

"Errr... Eu tenho que parar com essa pieguice!"

― Ah, tá lembrando agora?! ― virou-se para o namorado. ― Olha aí, amor, Pene agora se lembra do Tales!

Michael, como o bom capacho que era, apenas sorriu afirmando com a cabeça. Jess voltou sua atenção para mim.

― Vou lhe dispensar porque não quero conversar sobre essas coisas na presença do meu namorado ― Michael ia protestar, mas Jess lhe lançou um olhar duro, calando-o antes mesmo de falar alguma coisa.

"Michael, você fala demais!"

Ri com o pensamento do bordão que intitulamos para ele (quando Jess não estava presente, óbvio).

― Rindo das lembranças, Penélope? ― voltei à realidade, acabando com o meu sorriso. ― Pois muito bem, vou deixar você trabalhar, mas à noite não me escapa, entendeu? ― confirmei com a cabeça. ― Quero saber o que os dois ficaram fazendo até as três da manhã!

"O quê? Três da manhã?!"

Oh. Meu. Deus! O que Pandora aprontara?

E o pior, todos pensariam que teria sido eu a aprontar! Ah, mais eu pedi tanto para ela tentar agir, nem que fosse um pouquinho, como eu!

― Bye! ― foquei meu olhar no presente. Jess já estava bem longe de mim.

Agarrei fortemente as alças da minha mochila, indo para meu carro. Joguei minhas coisas no banco do passageiro, abandonando-me sobre o volante.

Por um breve momento pensei que não me arrependeria de ter pedido a Pandora para ir no meu lugar. Mas também eu não podia imaginar que o cara com quem Jess me arrumara um encontro às escuras seria tão lindo e perturbador ao mesmo tempo!

Eu estava ferrada!

O mais importante naquele momento era saber da boca da própria Pan o que realmente acontecera.

Mas que droga!

Isso teria que ficar para mais tarde, pois teria que ir trabalhar... E a noite Pandora tinha faculdade. E nesse meio tempo, com certeza, o estranho (que já tinha um nome) ligaria para ela. Porém eu queria que ele ligasse para mim e não para ela.

Eu estava completamente perdida! Criara uma situação na qual não esperava me encontrar. Eu joguei Pandora nesse jogo apenas para me livrar de um encontro que, para mim, parecia a pior ideia do mundo! E não gostar de um homem como Tales era praticamente impossível! Eu tinha que saber de Pan o que ela achava dele.

Eu fiz uma arapuca e fui a primeira a cair dentro dela.

(...)

Quando estacionei o carro na minha vaga em frente à Escolinha Infantil Pinguinho de Gente, meu celular tocou, o som de Gamgang Style reverberando no pequeno espaço do meu Fusca, avisando-me de quem se tratava, já que aquela música fora escolhida a dedo por mim para ser o toque do meu amigo. Com um grande sorriso no rosto, aquele que só Heitor podia arrancar de mim, atendi.

― Pois não, senhor?

― Pene!!! ― sua voz parecia de alguém que estava sentindo dor, preocupando-me imediatamente.

― O que houve, Heitor? ― estava aflita.

― Oh, amiga, estou aqui com o meu dente me matando de tanta dor... Oh!

Cerrei os meus olhos, imaginando-me dando umas tapas nele.

― Você quer me matar de susto, seu imbecil? ― mas mesmo com raiva era impossível não rir dele.

― Ohhh... ― gemeu, fingindo sentir dor.

― Heitor, para de fazer o meu ouvido de pinico! ― pedi com rispidez. ― Você está ligando para a pessoa errada. Eu não sou dentista, então pare de encher o meu saco!

― Mas você é minha melhor amiga, e ainda por cima a irmã da garota mais linda desse mundo! ― confessou a real intenção de sua ligação.

― Olha só, Heitor, por que você não liga para Pandora e me deixa fora disso de uma vez por todas?

― Seria legal, se Pandora não me visse apenas como o filho de um amigo de seu pai. Ah, Pene, eu acho que ela pensa que eu sou gay! ― lastimou.

Pus a mão na testa, esfregando-a fortemente... Essa ligação ia render!

― Heitor, Pandora não pensa que você é gay! Você é apenas um homem romântico, desses que não sabem ficar com outras garotas quando o coração só quer saber de uma ― fui sincera.

― É por isso que eu te amo! Você sempre levantando o meu astral ― visualizei um sorriso se formando em seu lindo rosto moreno.

― Isso mesmo, é sorrindo que eu gosto de lhe ver sempre!

― Você é uma bruxa, Penélope! Como sabia que eu estava sorrindo?

― Heitor, dãwn! Sou eu, Pene, sua melhor e única amiga! ― enfatizei o "e".

― Pois então, minha única e melhor amiga, quando vai trazer seu carro aqui para eu dar uma olhadinha nele? ― o mecânico que havia nele resolveu soltar-se.

― Por esses dias, Heitor. Talvez no sábado. Já estava me programando mesmo para ir lhe fazer uma visitinha. Mas agora eu tenho que desligar porque vou enfrentar as minhas ferinhas.

― Tudo bem, até sábado. Beijos!

― Beijos! ― desliguei, colocando o aparelho na mochila.

DUAS FACESOnde histórias criam vida. Descubra agora