Capítulo 4

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A alegria de minha vida era ver o rostinho de meus alunos todos os dias. Fazia apenas um mês que eu estava com eles, mas já amava cada um. Eram tão carinhosos e prestativos! Era impossível não largar toda preocupação do mundo quando entrava na minha sala de aula e os ouvia gritando bem forte e juntos: "Boa tarde, tia Pene!" Eu nascia de novo.

Eram as quatro horas mais importantes do meu dia. Deixava a escola no fim do expediente revigorada, sentindo-me importante por ser a responsável pelos rostinhos felizes deles.

Quando cheguei em casa Pandora ainda não tinha chegado, com toda certeza ela iria diretamente para a faculdade.

Eu estava rezando para que Tales não ligasse para ela... Não antes de nós duas termos uma conversa séria. Deitei-me no sofá, só então percebendo o quanto eu estava cansada, pois não havia parado o dia inteiro! Até mesmo na hora do almoço comi um Hot Dog na rua (e nem sentei).

Cruzei meus pés no braço do sofá, fechei os olhos tentando descansar a minha mente... Mais era impossível! Meus neurônios pareciam uma locomotiva desembestada que não parava um segundo de trabalhar, tendo como foco: Tales.

Tales e seus lindos olhos cinza mel...

Tales e seu lindo cabelo castanho claro completamente assanhado mais terrivelmente sexy...

Tales e seu lindo sorrisinho torto que mostrava seus belos dentes...

Tales e seu beijo maravilhoso que despertaram em mim sensações pervertidas...

Tales e sua capacidade de me perturbar mesmo estando tão longe, e mesmo eu tendo-o visto apenas uma vez...

Tales e seu cheiro de perfume amadeirado, somado à loção pós-barba que ainda estava impregnada em mim.

Meu Deus, eu estava perdida!

Batidas na porta me despertaram. Arqueei um pouco minha cabeça para olhar por cima do encosto do sofá através do grosso vidro da porta. Jess não deixava uma escapar. Sentei-me, percebendo que adormecera com os tênis. Tirei-os, empurrando-os para baixo do centro.

Do curto caminho do sofá até a porta, preparei-me emocionalmente para a metralhada de perguntas que eu sabia que Jess jogaria em cima de mim. Abri a porta, surpreendendo-me com o fato de Carla estar ao seu lado.

― Olá, garotas! ― dei espaço para que entrassem.

Jess parecia uma louca, empurrando Carla para dentro, fazendo-a quase cair de cara no chão.

― Jessica! Tá tentando me matar, sua louca? ― Carla perguntou, chocada, enquanto alisava seu braço que arranhara na parede por conta da insistência da outra.

― Ah, Carla! Deixa de ser maricas! ― falou afobada.

― Maricas? ― Carla subiu seus óculos que escorregavam pelo nariz, mordendo os lábios raivosamente. ― Você me arranca de casa feito uma louca e quando eu chego aqui, quase me mata! O que te deu?

Elas olhavam uma para a outra, se matando com os olhos. Se eu não intervisse algo desastroso iria acontecer, como da outra vez que fomos ao shopping e Jess (sem querer) derramou molho no vestido novo de Carla. Elas passaram duas semanas sem se falar. Mas como o amor sempre falava mais alto, elas fizeram as pazes e Jess comprara para Carla um vestido lindo!

― Chega! ― entrei no meio, com os braços esticados, afastando-as a uma distancia segura uma da outra. ― Vocês não podem passar um dia sem se pegar feito dois cachorros brigando pela mesma cadela? Afff!

Olhei de uma para a outra, vendo-as se acalmarem.

― Melhores? ― arquiei as sobrancelhas.

― Sim ― Jess respondeu. ― Desculpa, amiga, é só que eu estou... ― sacodiu suas mãos, aos pulos. ― Um pouco ansiosa.

DUAS FACESOnde histórias criam vida. Descubra agora