Cassiopéia (5)

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''Alice: quanto tempo dura o eterno?

Coelho: Ás vezes apenas um segundo'' - Lewis Carroll

Observei aquele garoto e seu amigo desde que haviam chegado ao parque. Não os reconheço, certamente eram forasteiros. Fui nascida e criada em Geniphis, conheço praticamente cada rosto de nossa pequena, e bonita cidade. O garoto parecia maravilhado com o parque de diversões, muito animado... já seu amigo era todo sério, bem mais velho que o garoto. O garoto tinha no máximo 18 anos, seria absolutamente fácil demais. Vi que seu amigo se afastou dele, e ele foi até a barraquinha de ingressos da roda gigante, então me infiltrei numa multidão, e no meio de todo aquele empurra-empurra, peguei a carteira no bolso do seu casaco. Abri um pouco a carteira, pelo pouco que vi ela estava cheia, mais ao longe, comecei a abrir rapidamente, colocando o dinheiro em meus bolsos.

Só um tolo carregaria tanto dinheiro assim, em um parque lotado, havia acertado com o garoto, sabia que um qualquer ele não era. Andava como um nobre, sorria como um nobre, passava as mãos nos cabelos negros de um nobre, era pálido como um nobre que quase não saí de casa, e tinha olhos verdes, que talvez, fossem a única coisa, que não somente a sorte de um nobre poderia ter. Então começo a andar rapidamente para fora do parque, eu estava quase na saída, quando sinto alguém segurar fortemente meu braço, com tanta força que me fez parar instantaneamente. Meu primeiro pensamento foi gritar, mas resolvi ficar quieta.

- Aonde você pensa que vai, com o que não é seu?

Olhei para trás e era o garoto, ao seu lado, o amigo todo sério. Ele apertava cada vez mais forte meu braço, estava começando a machucar, não sabia o que dizer, estava apavorada, nunca havia sido pega.

- O que vamos fazer com a ladra Thomas? - Dizia o cara todo sério com um sorriso cínico.

Pelo menos já sabia o nome do garoto que me levaria a prisão '' Thomas''. Ele me olhava sério, não conseguia ler sua expressão, parecia que havia a treinado a vida toda.

- Devolva o que pegou garota.

Não sabia o que dizer, e ele apertava cada vez mais meu braço, estava doendo demais, iria deixar uma bela marca, então não consegui segurar, soltei um ''ai'' baixinho.

-Então você fala! Pensei que era muda, vamos lá, explique-se - Disse Thomas novamente.

Seu punho se suavizou em meu braço, e foi então que vi minha chance. Me desvencilhei e comecei a correr, o mais rápido que conseguia... não havia a remota chance de devolução daquele dinheiro. Eu tinha certeza de que estava longe o suficiente, colocando meu corpo a prova, desviando de alguém ali, e lá, escutando Thomas e o cara ao seu lado ficando distantes, virando numa esquina e depois avançando rapidamente, até que uma raiz ou algo do tipo me fez tropeçar, e como uma fruta podre me espatifar no chão.

Pude sentir o gosto de poeira em minha boca, meu rosto e queimar, e minha mente rodar com a queda. Logo a mão bem conhecida me pegou pelo mesmo braço esquerdo com mais violência, fazendo eu de modo desequilibrado ficar em pé. Os dois me encaravam, com feições impenetráveis, e eu me sentia perdida.

- Explique-se, antes que as coisas fiquem piores - ele disse secamente.

Perdida, eu estava perdida, e refletia sobre dizer a verdade.

Respirei fundo, pensei um pouco, e tentei dizer a verdade de forma coerente, o mais firme possível, talvez dizer a verdade salvasse meu pescoço... ou a vida de quem me importo.

Encontrei Cassiopéia fora do céu Onde histórias criam vida. Descubra agora