Capítulo 1 sem título

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Capítulo 1

Saio de casa atrasada, sei que deveria ter acordado mais cedo, mas esses malditos cinco minutinhos a mais me custaram o café da manhã. Saio esbaforida pelo elevador para pegar o ônibus, mas com a sorte que eu estou hoje vejo-o passar por mim no semáforo do outro lado da avenida, tento correr, mas com essas pernocas de "Lola", e esse monte de sacolas, não consigo nem chegar na guia central, porque o sinal está aberto.

"Se não tem remédio, remediado está", como diz um ditado antigo que ouvi de minha mãe, sigo o meu caminho até o ponto. Depois de uma espera de vinte minutos meu ônibus chega e lá vou eu naquele meio de transporte lotado para o trabalho.

Desço no meu ponto de costume e sei que vou dar uma passadinha na "padoca" do Yan, quando chego perto noto que está com um cartaz dizendo: LUTO

Puxa vida, que situação difícil, mas não posso ficar e perguntar para o dono da banca de jornal, seu Augusto, o que exatamente aconteceu. Tenho que ir naquela cafeteria na outra quadra, pegar um café e um pão de queijo, pois não irei aguentar esperar até a hora do almoço.

Entro na cafeteria e vou para a fila fazer o meu pedido. Sei que não deveria ter preconceito, mas não gosto daqui, pois toda vez que venho, aquele infeliz do cabelo arrepiado tira uma com a minha cara. Eu acabo ficando possessa com a brincadeira dele e xingando-o no final. Claro que em voz baixa, pois alguns colegas meus de trabalho e algumas pessoas que conheco frequentam esse lugar. Para todos os efeitos eu saio resmungando como diz minha amiga Lilian.

Quando foi minha vez de pedir, dei sorte dessa vez, vem uma atendente perguntando o que desejo. Faço o meu pedido enfatizando que é para levar e vou ao caixa. Pago e volto para o balcão, enquanto espero a minha vez, sinto um calor em minhas costas e então noto que há um homem me olhando fixamente. Me sentindo incomodada com a situação, abro novamente minha bolsa e pego meu celular, enquanto verifico se há alguma mensagem, noto pelo canto do olho que ele não desvia seus olhos de mim.

Sem saber mais o que fazer e me sentindo desconfortável com a situação, levanto meus olhos e encontro seu olhar e vejo que são de um profundo tom de verde e ao notar que eu o vi, ele abre um sorriso e levanta sua xicara para mim, sem graça faço movimentos de concordância com a cabeça e ouço a garçonete falando que meu pedido está no balcão.

Tento alcançar, mas não consigo, porque além da minha bolsa estou com mais duas sacolas que eu trouxe para o trabalho e com todo esse volume não consigo alcançar o balcão, onde ficam expostos os salgados e o meu pedido, então resolvi ir na direção da garçonete, que seguiu para a chaparia quando ouço uma voz grave falar:

- Aqui está o seu pedido moça.

Surpresa por aquele homem ter se levantado e vindo até onde eu estava somente para me entregar o meu pedido, olho em seus olhos e digo:

- Obrigado pela ajuda.

- Por nada. Tenha um bom dia!

- Você também.

Pego minhas coisas e saio. Vou para o meu serviço e mais um dia se passa.

Ao chegar em casa, depois de mais um dia na empresa, após fechar a porta, acendo a luz, coloco minhas chaves na mesinha de entrada, minha bolsa na beirada do sofá, retiro os meus sapatos deixando-os próximo ao sofá onde está a bolsa, coloco meu chinelo e sigo para o banheiro, tomo um banho para depois esquentar a janta, já que eu à havia feito no dia anterior.

De banho tomado, esperando a janta ficar pronta, faço uma salada de tomate e me sento no silêncio do apartamento. Enquanto espero, fico lembrando do que a Luzinete (Lu) me contou no serviço. Ela me falou que a tia do Yan, a Maria, tinha falecido e que ele havia lhe mandado uma mensagem por WhatsApp, pedindo que ela deixasse um aviso na padaria.

Após montar meu prato, sento a mesa e vagarosamente começo a comer, me lembrando do homem dos olhos verdes e seu sorriso. Agora aqui pensando não sei se ele sorria para mim ou ria de mim. Apesar dele ter sido super educado e me ajudado com o café e o pão de queijo.

Sei que o maior preconceito é nosso, pois alimentamos com a ignorância das pessoas, mas não deixa de ser visível que nem todos sabem lidar com as diferenças.

Acabo o meu jantar, deixo tudo arrumado, pois sei que quando a Fatima chegar da faculdade, ela vai direto para o fogão fazer uma boquinha antes de ir dormir.

Vou para o meu quarto arrumar minhas coisas para amanhã, coloco o celular para despertar, não quero correr o risco de perder novamente a hora e o ônibus. Deixo tudo no jeito, me acomodo em minha cama e vou dormir. 

Um Olhar PerturbadorOnde histórias criam vida. Descubra agora