Uma História Bem Peculiar

Capítulo VII - Os olhos, não se esqueça dos olhos!

   "Mais dois" pensou a Srta Peregrine, "Eu já consegui três crianças". Agora ela estava com a guarda de três crianças peculiares que confiavam nela para tira-los desse mundo onde os normais têm medo do que são. Até agora essa jornada já a tinha feito mentir para "normais" e matar um etério. Além de ter tido duas conversas sobre o universo peculiar, o que contou com uma grande sorte, pois as crianças já haviam sido avisadas, de algum modo. Tanto Horace quanto Victor souberam de sua chegada por meio de uma "visão" do futuro. Mesmo sendo muita sorte, isso a deixava com um pressentimento um tanto suspeito com relação ao que vinha pela frente. As coisas não seriam tão fácil assim, não poderia ousar se acostumar com essa "facilidade".
  Acabou desistindo de seu plano de ir com os três pegar um trem no amanhecer para Paris, o dia já estava raiando, e eles precisavam de um descanso. Teria que deixar isso para o dia seguinte. Portanto iria aproveitar esse tempo para pensar mais claramente no que fazer a seguir. Segundo o mapa que trouxe, em uma extremidade no sudeste da França se localizava a fenda da Srta Ciconia. Na cidade de Cannes. O nome da ymbrine era familiar, era uma amiga da Srta Ictis, muitas ymbrynes iam visitar sua casa na infância, lembrava muito bem da Srta Ciconia, sempre com suas roupas pretas e expressão tensa. Não aparentava ser uma pessoa muito amigável, mas possuía muita inteligência e sabedoria. Precisava ir até ela para pedir conselhos.
   Depois de muito tempo folheando o mapa, percebeu que a manhã ia indo-se embora, logo chegaria a tarde. Decidiu então levar os três para comer, não podia ir muito longe, já vira que Londres não estava para brincadeira quando se tratava de monstros. Encontrou os três na sacada conversando, Horace parecia focado no que dizia.
  - .....eles nunca cuidaram de mim, eu só servia de mostruário para as roupas chiques que tinham lá, não que eu não gostasse, elas caíam muito bem em mim, mas seria bom ter conhecido meus pais....
- Bom ainda bem que não conheceu os nossos pais, eles nos maltratavam. Meu pai batia em mim por qualquer motivo, talvez pela minha simples existência. Quando a Brownie nasceu acontecia menos, mas quiseram bater nela também, mas eu não deixava. Sempre tentava protege-la.E eles acabavam batendo em mim também....

   Era reconfortante ve-los fazendo amizade, tinha um amor muito grande por crianças, mesmo que não conseguisse demonstrar como gostaria.

- Crianças acho melhor darmos uma volta pelo bairro para vocês comerem, devem estar morrendo de fome.

   Então eles seguiram pela rua à procura de um lugar onde comer. Como de praxe viu a padaria do senhor Huston, mas não queria ir até lá. Mesmo tendo um conhecido por lá, não é aconselhável confiar cem porcento em um peculiar que só viu pela primeira vez, por mais "amigável" que fosse.
   Comeram em um restaurante ao lado de uma praça e voltaram para o alojamento. A noite que passaram no quarto não foi nada fácil. Tanto Victor quanto Brownie estavam muito deslocados, tentavam ao máximo não encostar em nada com medo de quebrar. Principalmente Brownie, a pequena ainda não havia dominado completamente sua peculiaridade.
   Quando amanheceu, a Srta Peregrine os levou direto para a estação de trem. Que estava lotada. Além de que, dos trens que estavam para sair, nenhum levava para Paris. O único com o tal destino só estava previsto para sair às 09:50 da manhã, teriam de esperar meia hora na estação.
   Tudo estava correndo estranhamente calmo até agora. Passaram-se dez, vinte minutos e nada de estranho havia acontecido ainda. E então chegou a hora dos quatro embarcarem.

- Uma inteira e três meias para o trem das 09:50,  por favor - Alma pediu ao atendente
- Já nos vimos antes Srta? A achei um tanto familiar. - falou o atendente.

Alma parou para ver quem estava falando com ela e congelou. Olhos brancos, sorriso ameaçador. Acólito. Mas estava tudo indo tão bem!

- Não senhor, acho que nunca nos vimos antes, obrigada pelas passagens.