Amizades

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11 horas e trinta e cinco minutos da noite, segunda feira.
Hoje foi o meu primeiro dia de aula; fui expulsa da primeira aula porém assisti todas as outras. Eu passei a noite toda bolando diversos planos de como ser expulsa do colégio; esse se tornará o meu fardo ali dentro. Ser expulsa. Bom, o primeiro dia não foi tão horrível, levando em consideração que eu fiz amizade com algumas pessoas; Maria, Dinah, John, Paul e Megan. Um colégio interno é diferente de colégios regulares que a maioria dos jovens frequentam nos Estados Unidos, e que eu frequentava; as pessoas da mesma idade são colocadas na mesma sala de aula, por exemplo, aqui existem vários jovens de 16 anos e que estão no segundo ano do ensino médio, sendo assim, o colégio cria "turmas", como; 2º A, 2º B e 2º C. Bizarro, né? Pesquisei sobre esse tipo de sistema na internet e descobri que muitos países adotam ele, como por exemplo o Brasil, o maior país da América do Sul. ENFIM! Por essa razão eu fiz alguns bons amigos hoje, e para a minha surpresa Caroline está na mesma sala que eu. Yay! Ela é super divertida. Descobri isso ontem a noite, quando nós excluímos as fotos dela com o ex namorado do celular enquanto fazíamos piadas e desenhos ridículos dele em uma folha amassada que havíamos encontrado em cima da cama utilizando uma caneta vermelha. Foi hilário.
Nesse momento eu me encontro deitada na beliche–na parte de cima, e pensando nas minhas amigas do colégio onde frequentava. Foi tudo muito rápido; meus pais não podiam e não tinham o direito de fazer isso comigo sem antes me consultar. Foi uma extrema falta de respeito. Eu não tive nem tempo de me despedir dos meus amigos! A maior "despedida" que consegui ter foi no sábado de manhã, em que eu fui na casa das minhas três melhores amigas; Hannah, Lauren e Emily e dei nelas um abraço bem forte, as agradecendo por tê-las em minha vida há tipo...CINCO ANOS! Não se faz isso! Não se destrói amizades de 5 anos atoa! É por isso que prometi a mim mesma e a elas que eu iria ser expulsa desse colégio para tudo voltar ao normal novamente. E eu juro que cumprirei essa promessa. Porque promessas são compromissos, e falhar não é o meu forte, a não ser que falhar desencadeie uma expulsão do colégio que eu menos gosto no mundo!
Anne? Ainda está acordada?–perguntou Carol. A luz do quarto já estava apagada. O colégio desliga as luzes as 11 horas, esse é o "toque de recolher", e depois desse horário as pessoas só podem circular dentro de seus dormitórios (para ir ao banheiro ou visitar o quarto de uma amiga, por exemplo. Mas sair do dormitório é proibido!)
–Estou...
–Eu não estou conseguindo dormir.–reclamou Caroline.
–Eu também não, já que me encontro saturada pelos meus próprios pensamentos que não param de transbordar a minha paciência e não param de me atormentar a cada segundo.–respondi profundamente.
–Complexo.–retrucou.
Fiquei em silêncio por alguns segundos...Eu estava tendo uma ideia!
—Caroline, você disse que aprontava muito, né?—perguntei com segundas intenções.
Ela hesitou alguns segundos para responder-me.
–Ham...Sim. Por quê?
Ri levemente para mim mesma.
–Está disposta a aprontar uma hoje?–perguntei animada.
Ela imediatamente respondeu
–NÃO!–aumentou seu tom de voz.—Anne, seja lá o que você esteja tentando fazer, pode esquecer a minha contribuição. E outra; não se arrisque por uma aventura ou outra!
–É aí que tá, Caroline!–exclamei–eu quero me arriscar! Eu quero ser expulsa do colégio.
Um silêncio dominou o ambiente por alguns segundos.
—VOCÊ FICOU LOUCA?-deu um grito assustador.
–N-não. Por que ficaria?
—Você não sabe o que acontece com quem é expulso desse colégio?
—O que?
—Menina! Você não pesquisou nada sobre o lugar antes de vir?–perguntou Carol indignada.
—Não! Olha, meus pais nem me falaram o nome do colégio quando disseram que eu viria morar aqui, tá legal? Agora me diz o que acontece logo!
—Há uma lenda que diz que a fundadora do colégio, Hergenth McCarthy, era uma mulher muito furiosa. Ela punia a todos que desobedeciam sua regras. E tinha uma garota, o nome dela, estranhamente, era Anne, que um dia, ao quebrar uma regra do colégio, teve seus dedos da mão CORTADOS por Hergenth. A menina morreu de hemorragia e, revoltada com a sua própria história, persegue os alunos que quebram as regras até hoje, assim como ela um dia quebrou,  e os atormenta até o fim de seus dias.—terminou a história com uma voz de medo.
Um vácuo, grande silêncio predominou o momento. E eu não pude me conter.
Cai na gargalhada.
—Essa DEFINITIVAMENTE é a coisa mais idiota que já ouvi em toda a minha vida!–rimos tanto juntas que meus olhos começaram a lacrimejar.
–Ok, eu concordo. E eu admito que acabei de inventar essa história, apesar de você já saber. Mas...eu estou te pedindo, Anne, não saia do colégio! Eu sei que pode parecer ruim no começo, uma prisão cheia de regras ou um zoológico com diversos tipos de animais convivendo juntos, e talvez seja realmente isso, mas com o tempo você se acostuma à bagunça e esse se tornará o seu novo normal.
Respirei fundo.
–Sobre a sua lenda ridícula, quem se chama Hergenth? E sobre seu pedido...eu sinto muito. Mas é uma promessa e eu não costumo falhar.
Ela riu
–Não é mesmo? Nem sei de onde tirei esse nome. Ah, e sobre a sua resposta sobre o meu pedido; vai tomar no cu.–disse sutilmente.
–EI! Vai você!–ri levemente e ela também.
Dentro de alguns minutos, eu já havia dormido. Mas a minha missão de expulsão ainda continuava!

Anne no Colégio InternoOnde histórias criam vida. Descubra agora