Safiras

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“O amor não espera, ele é como uma fera, que ataca e nos leva.” Sue.  

2  

Assim que chegamos ao quarto feito especialmente para Jimin, abro a porta e permito que ele entre. O rapaz observa tudo atentamente e cessa sua avaliação quando encontra os apetrechos que serão usados para a sua recarga diária. – Será ali que irei me recarregar? – seus olhos azuis como duas belas safiras, encontram os meus e acabo suspirando encantada. Eu não esperava que depois que ele começasse a funcionar, os seus olhos se tornariam, tão intensos e expressivos.  

– Sim. Todas as noites você se deitará, após conectar o cabo em seu corpo e seu sistema automaticamente entrará em modo de descanso, para um melhor desempenho da nova energia que entrará nas duas bases em seu corpo. – ele assente e continua a observar. O quarto é simples, mas perfeitamente aconchegante. A enorme cama no centro do ambiente é coberta por lençóis brancos e um edredom azul, junto a quatro travesseiros de penas. Há duas estantes repletas de livros de diversos autores e gêneros, uma mesa próxima à janela enorme, onde as costinhas brancas e finas balançam devido ao vento frio que entra. Há também tapetes felpudos espalhados pelo chão e duas cômodas grandes próximas a cama.

– Eu gostei muito daqui.

– Fico muito feliz em saber disso, pois fiz com carinho. Ah, já estava até me esquecendo. – caminho até a parede onde estão as duas cômodas e abro uma das gavetas, de onde retiro um controle. – Este controle te proporcionará o uso de algumas coisinhas que estão aqui. – aperto o primeiro botão e da parede em frente a cama se abre um compartimento, onde estão a televisão de cinquenta polegadas, um notebook e um celular de última geração. – São seus, você já sabe usá-los graças a programação em seu sistema, então é só fazer a festa. – brinco e consigo fazer com que o rapaz sorria minimamente. Jimin não possui sentimentos, mas em seu sistema, calmamente desenvolvido, ele foi programado para responder a interações humanas como um humano normal, algo que percebo está funcionando perfeitamente bem.

– Eu não gosto da ideia de gerar gastos para ti, minha criadora.

– Jimin, eu tenho muito dinheiro e não me importo de gastá-lo. Você ainda está com frio? – o vejo assenti e suas bochechas tomam um tom rosado. – Uau! A cada segundo que passo contigo e seus pequenos detalhes funcionam divinamente bem, me sinto extremamente feliz por ter sido capaz de criar alguém tão perfeito.

– Senhora, obrigado por não ter desistido de mim. – o dou as costas brevemente, abro a gaveta e pego um suéter branco. Caminho até ele e entrego a peça em suas mãos.

– Se eu desistisse de você, desistiria de mim também. – Jimin veste a roupa e eu o seguro pelas mãos. – Temos um longo caminho pela frente, mas seguiremos calmamente até alcançarmos o nosso objetivo. – ele assente e eu o abraço. – Você agora faz parte da minha família, é alguém que eu irei cuidar e amar com toda a minha dedicação.

– Obrigado, senhora. – solto seu corpo e caminho até sua cama.

– Tem algumas coisas que quero ressaltar. Jimin, você não se alimenta e nem bebe nada, então não precisa se preocupar em me acompanhar nas refeições. Eu farei avaliações semanais do funcionamento de seu sistema e assim que você se sentir a vontade com a convivência humana, eu te mandarei para o hospital, onde você começará a cuidar dos pacientes da ala cardiológica. Bem, outro fato é que tudo que você precisa saber já está em seu sistema, eu montei um grupo com os melhores médicos para me ajudar a colocar em você os melhores conhecimentos sobre esta área.

– Voce realmente pensou em tudo. – ele sussurra e caminha até mim, sentando ao meu lado. – Mas estou temeroso.

– Com o que?

– E se mesmo com tudo isso eu não conseguir me sair bem?

– Claro que vai, meu anjo. Jimin, a inteligência que há em ti, não há mais em lugar nenhum. – seguro sua mão e olho em seus olhos. – Voce é perfeito e sei que também está apto a executar qualquer tarefa. – me levanto e o olho intensamente. – Eu tenho que ir. Se quiser conhecer a casa, pode fazer isso, mas evite se molhar, a sua limpeza é feita com tecidos úmidos.

– Está bem, senhora.

– Outra coisa, não me chame de senhora, mocinho. Chame-me de noona.

– Farei isso. – me aproximo, seguro sua cabeça e selo sua testa.

– Fique bem, Jimin. – sem mais, caminho até a porta e a fecho assim que saio. O caminho até o meu quarto é feito calmamente, mas não consigo esquecer que acabei de deixar meu tão desejado robô no quarto proximo ao meu, fato que me deixa eufórica e faz meu coração bater forte no peito. Levo minha mão até meu peito e respiro fundo. – Calma aí, garotão. – tento me acalmar e sigo até o meu quarto no fim do corredor, onde entro e me tranco.

Caminho até minha penteadeira e sirvo um copo de água para que possa tomar o meu remédio, tarefa que executo com as mão trêmulas. Odeio quando isto acontece, me faz lembrar que agora sou uma pessoa privada dos meus próprios sentimentos, pois se eu não os controlar e permanecer impassível, eles podem me levar à morte.

Meu coração está fraco, é um pobre coitado, e por causa dele eu estou com meus sentimentos acorrentados.

– Querida? – ouço batidas na porta e caminho até ela, a qual abro e me deparo com Sorah. – Você está bem? Onde está a maquina?

– Sorah, se você continuar se comportando assim, eu vou te mandar para ficar no apartamento do centro da cidade e me deixar em paz. – soei grosseira, mas ela realmente mereceu. Minha babá mais que ninguém sabe o quão importante Jimin é para mim, ela não tem o direito de menosprezar algo que dei meu sangue e minhas noites de sono para conseguir concluir. – Estamos entendidas, bá?

– Nunca pensei que você seria capaz de fazer isto comigo. Eu não sou uma das suas máquinas para você querer descartar.

– Minhas máquinas não me geram dores de cabeça e me fazem passar nervoso. Sorah, voce sabe que não posso sentir fortes emoções, por que fazes coisas para me aborrecer?

– Aquele robô maldito mal foi ligado e voce já está fazendo isso.

– Bá, eu não admito que voce faça isso. O Jimin é minha esperança, entenda isso.  – Sorah abaixa a cabeça e assente. – Agora me prometa que o tratará bem e que continuará sendo a minha babá querida.

– Prometo, menina. – ergo meus braços e a puxo para mim, iniciando um abraço apertado. – Pode me fazer uma comida bem gostosa? Estou faminta.

– Claro que sim. – nos afastamos e Sorah se retira, deixando-me para trás ainda com um leve incomodo no coração.

– Acho que sei algo que pode me acalmar. – saio do cômodo e fecho a porta, seguindo até um outro quarto, onde apenas meu piano fica, lugar também feito para ser uma sala de dança, a qual não posso usar graças a maldita doença que me faz cativa. Entro e deixo a porta aberta, depois caminho até o piano de calda, preto, e me sento diante dele. Abro a proteção e deslizo meus dedos pelas teclas, não me segurando para iniciar as primeiras notas de My Immortal, uma canção que minha mãe costumava cantar para mim quando eu era muito pequena. A música é calma e melancólica, a qual contribui para que eu derrame algumas lágrimas.Continuo a tocar até que ergo minha cabeça e encontro Jimin encostado à soleira da porta, com seus braços cruzados e seu olhar encantador preso à mim.  

Meu querido robô tem olhos belos Azuis como safiras, que reluzem o brilho doce da sua personalidade

Meu querido robô me tira o medo e me faz querer amá-lo em segredo.

Coração de Robô (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora