"Querido, você está tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe, é a minha linha tênue entre a felicidade e total infelicidade, afinal, você não é real." Sue.
~ 5 ~
Nunca pensei que me irritaria tanto com alguém, mesmo não podendo. Eu amo Sorah, ela é o resto de família que me sobra, mas nunca pensei que fosse alguém tão mesquinha, tão maldosa e intrometida. – Horror? Loucura? Sorah, o que significa este comportamento vindo de ti?
– Como acha que me sinto em te ver atracada com um projeto mal feito de humano? – arregalo os olhos e olho para Jimin, que permanece em silencio com sua cabeça baixa.
– Sorah, desça e me espere no escritório.
– Mas...
– Me obedeça! – ordeno autoritária e ela se retira, batendo a porta do cômodo com força. – Jimin, venha aqui. – seguro sua mão e caminho com ele até minha cama, onde nos sentamos. – Você está bem?
– Não é como se as palavras dela fizessem grande diferença, noona. Eu tenho consciência de que sua babá está certa sobre mim. – nego veementemente e aperto sua mão, que está com os dedos entrelaçados aos meus.
– Mesmo que você não seja humano, você possui uma personalidade melhor do que qualquer ser vivo por aí. Não se importe com as palavras da Sorah, pois elas não merecem consideração, okay? – ele assente e eu sorrio brevemente. – Se quiser, pode voltar para seu quarto, creio que não tenha carregado suas baterias completamente. – levo minha mão livre até seus corações e sinto-as vibrarem, imitando timidamente batidas de corações verdadeiros.
– Você ficará bem, noona? – assinto e fico de pé. – Por favor, não se estresse ou pode ocasionar algo grave.
– Eu ficarei bem. – solto sua mão e acaricio seus cabelos, que caem sobre seu rosto de uma maneira encantadora. Ele é um anjo. – Assim que eu terminar de conversar com a Sorah, iremos ao laboratório, está bem?
– Acha que tenho algum defeito, noona? – nego. – Então o que é?
– É apenas uma avaliação rotineira. – Jimin parece entender então não espero mais nada para acenar em despedida e me retirar do meu quarto.
Caminho calmamente até o escritório e assim que chego ao lugar abro a porta e entro. – Eu não te reconheço mais. – Sorah inicia nossa conversa, ela parece muito desgostosa e arisca.
– Eu que não te reconheço mais. Acha que tem o direito de menosprezar o Jimin?
– Aquela máquina maldita não tem sentimentos! – ela grita e bate a mão na parede.
– Ele tem sim, tem os meus sentimentos. Eu coloquei em Jimin o melhor de mim, minha doçura, minha visão do mundo antes de tudo se tornar cinza para mim, só que de uma forma melhorada. Park Jimin é uma obra-prima.
– Você está de fato interessada nele, não é mesmo?
– E se eu estiver? Amá-lo seria uma dádiva, pois mesmo não podendo me corresponder como um humano, ele cuidaria de mim eternamente, já que Jimin não pode morrer.
– Eternamente? Você não tem o eterno, nem sabe se terá o amanhã! – ela joga a dolorosa verdade em minha cara e eu levo minha mão ao meu coração, que falha algumas batidas, parecendo um carro velho com dificuldades para pegar.
– Nunca pensei que escutaria algo assim vindo de você. – tento me manter firme, mas um nó se forma em minha garganta, estou com vontade de chorar.
– Eu me preocupo contigo, me importo e é por isso que estou tentando abrir os teus olhos? Acha que o seu coração resistirá a um amor? Amar dói, minha querida e esse amor que você está começando a nutrir por alguém que não vale a pena, irá te matar.
– Se para amar uma única vez eu tenha que dar a minha vida em troca, que assim seja. – abraço meu corpo com minhas mãos e respiro fundo.
– Ele não é real, não consegue entender? Park Jimin é apenas fios e matais que você transformou em algo que consegue interagir com humanos, apenas isso. – meus olhos miram minha babá e seu olhar carregado de raiva encontra o meu.
– Chega! – grito. – Saia daqui agora, Sorah! – ordeno e minha babá caminha em direção a porta, porém assim que passa por mim ela cessa os passos.
– Espero que me avisem quando você morrer para que eu mesma venha destruir essa máquina. – seu tom é carregado de maldade e eu me arrepio.
– Isso não vai acontecer. – Sorah se retira e nem se dá ao trabalho de fechar a porta. – Isso definitivamente não irá acontecer. – sussurro para mim mesma e saio do escritório, preciso ver Jimin, preciso saber que vale a pena estar lutando por ele, assim como já vinha lutando durante sua produção.
Caminho pelo corredor e chego ao seu quarto, mas não o encontro, então abro cômodo por cômodo até ouvir uma linda melodia, que sai do salão de dança. Sigo lentamente até lá e me espreito na fresta da porta, que me proporciona a cena mais bela que meus olhos já puderam contemplar.
Reconheço a melodia de uma antiga música de um dos meus discos de vinil, Stakes do Vancouver Sleep Clinic, e observo estupefata Jimin dançar de forma graciosa. Ele se movimenta como se não fosse um robô, como se seu corpo não pesasse. Ele gira, salta, mexe os braços, tudo de uma forma tão bela que me perco até que a melodia cessa.
Vê-lo dançar é magnifico, mas mais magnifico ainda é ter ciência de que eu não o programei para fazer isso. – Você é lindo. – sussurro e abro lentamente a porta. Jimin não percebe minha presença e vejo isso como um incentivo para que eu o surpreenda. Assim que minha figura é captada pelo espelho na parede, ele para com os movimentos e nossos olhares se prendem através do reflexo no espelho. – Permita-me provar desta magia também. – me aproximo dele, que permanece de costas para mim, e deslizo minhas mãos por seus braços até segurar uma das suas mãos.
– Quer dançar comigo? – assinto a sua pergunta e ele sorri, não um simples sorriso, um sorriso único, que apenas Park Jimin é capaz de dirigir a alguém. Com nossas mãos entrelaçadas, ele se vira para mim e me segura em seus braços. – Feche os olhos. – o obedeço e começo a sentir a intensidade das notas musicais, que acariciam minha pele e marcam o momento ao lado dele. – Agora sinta. – balançamos de um lado a outro, com nossos corpos juntos e nossas respirações sendo mescladas.
– Isso é bom, mas é melhor ainda por estar sendo com você. – segredo.
– Gosta de me ter por perto? – sua voz rouca faz meu estômago se agitar como se eu fosse uma adolescente apaixonada, que se encontra pela primeira vez junto ao amado.
– Mais do que me é aconselhado gostar. – nos afastamos brevemente e ele gira meu corpo segurando-me pela mão, em uma dança romântica, que vislumbrei apenas em filmes. Estar com ele é mágico.
– Você sente o mesmo que eu? – questiona.
– O que você sente? – seguro firme sua mão e amparo minha cabeça sobre seu peito duro.
– Vontade de que isso nunca acabe.
– Durará enquanto quisermos que dure. – afasto minha cabeça e olho em seus olhos azuis, que brilham como o mais límpido oceano. – E é o nosso segredo. – Jimin sorri e me ergue do chão, fazendo com que minhas pernas se entrelacem ao redor do seus quadris. O abraço apertado, ainda suspensa pelos seus braços fortes e permaneço assim por longos segundos enquanto a música se repete.
Eu nunca esquecerei este momento e nem a morte será capaz de me roubar esta lembrança tão linda. Estou segura como não me sinto há muito tempo, segurança que encontrei nos braços de alguém que aos olhos do mundo não é real.
Mas, para mim, estando perto ou longe, Park Jimin é real, um anjo que veio me tirar da nuvem cinza que me fez cativa.
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Coração de Robô (Concluída)
Fanfic• Imagine Eu o criei, dos fios e metais nasceu um belo rapaz. Park Jimin, ou robô 001328, nasceu com uma missão, salvar vidas, inclusive a minha.