If you could only see...

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Estava sentado confortavelmente na cadeira, mantendo os olhos fixos nas íris escuras do outro jogador que sorria exibindo todos os dentes muito brancos, enquanto acariciava de maneira despreocupada a barriga avantajada coberta pela camisa de linho. Frank Iero foi obrigado a admitir para si mesmo que o tipo à sua frente era um ótimo ator – diferente dos outros dois patetas em cada um de seus lados. Um magricela de óculos que tremia como vara verde toda vez que fazia uma tentativa frustrada de blefar apostando mais do que podia e, o segundo, de boné e óculos escuros exalando profissionalismo com seu ar de seriedade.


"Não aposte, desgraçado!"


Frank gargalhou olhando divertido para a loira que tinha sentada em seu colo e deu-lhe um beijo estalado no pescoço, a fazendo se contorcer em meio a risinhos estridentes com os arrepios enviados à sua espinha dorsal. Era palpável a fúria dos jogadores sentados à mesa de revestimento verde escuro; o desdém de Iero ante aos movimentos de seus colegas e a atenção quase devota voltada para a mulher de seios fartos em cima de si, faziam sua mente ficar um caos com os pensamentos ofensivos dedicados exclusivamente à sua pessoa.


"Esse merda está brincando com a minha cara." 

"Desgraçado!"

"Como esse filho da puta consegue ganhar todas?"


Geralmente a maior parte dos insultos vinham quando os pares de olhos ao seu redor voltavam-se para si ou, em outras palavras, quando era sua vez de jogar. Frank sabia que todos o esperavam ansiosos com os olhares analíticos prontos para captarem cada pequeno gesto seu, na tentativa encontrar a vulnerabilidade – que até agora parecia inexistente.

Com a diminuição gradativa da qualidade dos vocábulos que chegavam à sua mente, achou de bom tom desgrudar as íris carameladas dos femininos lábios escarlate e voltá-las para a mesa. Passou rapidamente os olhos pela superfície se inteirando das novidades tediosas da rodada; o magricela, que atendia pelo nome de Stuart, havia desistido e, pelo visto, o homem à sua frente esperava que fizesse o mesmo.

Levantou a mão tatuada levemente, a mexendo no ar, deliciando-se com o olhar voraz do barrigudo colado à suas articulações. Mais do que viver, queria que Frank tamborilasse aqueles malditos dedos sobre o feltro.


"Não aposte, desgraçado!" 


O pensamento incessante do jogador em contraste com o sorriso tranquilo que exibia nos lábios fez Iero querer provocá-lo. Sabia que o outro estava com a vantagem. As cartas que ele possuía eram melhores do que as suas, mas tinha uma mente muito sensata (ou, de outro ponto de vista, insegura; era sua fraqueza), nunca topava grandes apostas.

Então, enfim dedicou alguma atenção ao jogo, olhou para aquele amontoado de fichas dispostas por cor bem à sua frente e decidiu sem refletir muito:

- Aposto 200 – Muito, muito acima do que haviam apostado até o momento.

- Desisto! – Disse o rapaz de boné de prontidão sem nem mesmo esperar sua vez (o que provava que era um tolo), em um tom muito maior do que planejou, suspirando ao mesmo tempo em que deixava seu corpo recair sem postura sobre o encosto da cadeira. Lamentava amargamente o dinheiro que havia apostado para chegar até ali.


"Desgraçado."


Frank voltou-se para o dono do insulto. O rechonchudo tinha os olhos ligeiramente arregalados, a boca já não possuía curvatura alguma. Para aliviar a tensão pegou o copo de uísque ao seu lado e entornou de uma vez o liquído caramelo, fazendo com que algumas gotas escorressem até o seu queixo.

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