Capítulo 8

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Eu estava em um jardim,um lindo jardim, usava um vestido branco, eu estava diferente, minha bochechas estavam coradas, e eu sorria muito. Eu dançava e cantava uma música parecida com um mantra, um idioma do qual eu desconhecia, eu estava feliz.

− Christie? - Ouvi a doce voz me chamar.

− Sim? - Olhei na direção da voz e ela estava lá.

Ela era linda, era alta, usava uma trança simples, um vestido de mangas longas azul escuro, os olhos eram negros, ela me olhava com tanto amor.

− Eu estou com você, sempre estive e sempre estarei. Guarde isso! - Ela segurou minha mão e me puxou para uma dança.

Nós dançamos, rimos, e então ela desapareceu...

Acordei pela primeira vez tranquila, olhei para o lado e estava tudo como eu e Daniel havíamos deixado. A janela estava lacrada, e meu espelho coberto, não sabia ao certo o porque.

O sonho me fez sorrir, aquela mulher, era a mesma do desenho, a mesma dos sonhos, a mesma da janela da escola, a mesma do reflexo do carro. Aquela era a minha mãe!

Minha pequena felicidade se transformou em dor ao pensar nela, como eu queria tê-la por perto, para me ensinar sobre o mundo, pra me dar o colo que eu precisava naquele momento, para lutar comigo.

Deitei novamente e pude sentir algumas lágrimas caírem dos meus olhos, pensei em Daniel sentindo a minha tristeza no momento, e tentei disfarça-la ao máximo. Mas não consegui.

Daniel sofreria comigo, comecei a pensar em cada dor que ele sentiria, cada medo, cada ódio, tudo que eu sentisse dali em diante, pensei também nas nossas alegrias, e em como seria mais fácil conviver com ele, mas queria conseguir senti-lo assim como ele me sentia, não era justo somente ele passar por isso.

Ouvi duas batidas na porta.

− Pode entrar!

− Bom dia querida, eu trouxe chá e bolo de milho! - Minha avó entrou com uma bandeja rosa cheia de pedaços de bolo.

Era uma tradição, quando ficávamos doentes comíamos bolo de milho, exceto quando tive uma alergia horrível e não podia comer nada.

− Vovó, não precisava!

− Querida, por dezesseis anos eu fiz bolo de milho e chá para todos os dias em que você esteve doente, isso não vai mudar hoje. - Sorri em agradecimento. - Pretende sair da cama hoje?

− Acho que vou pra escola. Ainda são sete, tenho tempo para tomar banho e me organizar. Daniel ligou? - Perguntei olhando meu celular e notando que não havia nenhuma mensagem ou chamada dele.

− Não querida, vocês estão bem?

− Estamos sim! Só estou com saudade. - Disfarcei minha preocupação.

− Paixão adolescente, eu tive muitas! - Ela disse e nós duas rimos.

− A senhora era perdida! - Eu disse e ela saiu gargalhando.

Me arrumei para a escola, Daniel ainda não havia dado sinal de vida, imaginei que ele estivesse dormindo, pensei em ligar para que ele não se atrasasse para a aula, mas achei que passaria uma impressão um tanto quanto possessiva da minha parte. Preferi esperar em silêncio.

Fui andando de vagar pelo caminho, sentia o vento em meu rosto e me atentava a cada pequeno detalhe, as flores e a forma como elas se distribuíam. Meu braço ainda doía, mas o vento frio da Carolina do Sul aliviava um pouco a dor. Avistei bem longe um corvo, estava parado próximo ás árvores, os olhos do animal brilhavam, era hipnotizante. Nem percebi o exato momento em que comecei a ir a sua direção, quando me aproximei ele voou para longe e desapareceu no céu. Olhei em minha volta e pude perceber um caminho entre as árvores e arbustos, pisei firme sobre um galho e empurrei o outro com o braço bom, entrei na floresta.

Em Busca do OcultoWhere stories live. Discover now