01.

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Quando o sol apontou no horizonte, já há algum tempo que a princesa de Artena estava parada frente à janela aberta em seu quarto, observando o reino que aos poucos despertava. Algumas mechas de seu cabelo se mexiam com a brisa fria e este era o único sinal de movimento num corpo que do contrário se mostraria tão imóvel que podia ser confundido com uma bela estátua.

"Alteza!" Lucíola, sua dama de companhia, se surpreendeu ao entrar no quarto e já vê-la de pé. Havia vindo justamente para despertar a princesa e ajudar nos preparativos para o dia.

" Olhe para esse reino Lucíola... É lindo, não é?" questionou Catarina, e havia uma certa reprovação em seu tom que deixou a criada confusa. "É também um reino fadado á nunca ir além disso, se eu não tomar uma providência."

" Alteza?... O que quer dizer com isso?"

 Ao invés de responder a princesa preferiu enfim deixar de observar a extensão de suas terras e caminhou de forma silenciosa até a grande penteadeira; sua camisola do tecido mais macio lhe abraçando o corpo como faria um amante conforme andava. Mal havia se sentado e Lucíola já estava a postos atrás de si, escova em mãos e pronta para lhe pentear o cabelo que caia feito uma cortina negra em suas costas.

" Meu pai está mais preocupado em me arrumar um marido do que em fortalecer nossas tropas. Ontem no jantar disse que começou a ler com mais atenção as propostas de diversos pretendentes." comentou Catarina, apertando os lábios com raiva antes de soltar uma risada sardônica. "Eu sugiro maior investimento em nosso arsenal de armas e ele me diz que ao invés de cortejar uma guerra, deveria me preocupar em estar sendo cortejada por algum nobre."

" Talvez vossa majestade acredite que ao encontrar um bom esposo para a senhora, esteja fazendo um bem também para o reino. Afinal, o homem que se tornar seu marido será o futuro rei de Artena."

" Sim." concordou a princesa em tom seco. "Meu pai parece mesmo ser da opinião de que tudo o que o reino e eu precisamos é que me case. Provavelmente com alguém como aquele idiota do marquês Istvan." revirou os olhos, partilhando de uma boa risada com Lucíola ao lembrar-se daquele palerma.

"Nesse caso a senhora só vai precisar se livrar desse alguém até encontrar um homem que esteja realmente a sua altura." sugeriu a criada, o sorriso cúmplice enquanto penteava os cabelos de sua majestade deixando claro que estaria a disposição para ajudar, caso necessário.

" De fato." Suspirou Catarina, olhando para o próprio reflexo no espelho antes de sorrir com malícia. "Alguém digno de me ter como sua rainha e esposa." riram.

 Se Afonso fosse ser honesto consigo mesmo, ele começaria por reconhecer que estava perdido. Não no sentido literal da palavra, não, seu caminhar era muito seguro enquanto seguia o guarda a sua frente para tal - mas sim no sentido figurado. Infelizmente, apesar de diversas qualidades que o ex-príncipe possuía, ser verdadeiro consigo mesmo não era uma delas.

 Caminhando pelo imenso corredor até a sala do trono de Artena, os olhos do agora plebeu não podiam deixar de admirar todos os quadros na parede pela qual passava. Havia tanta historia naqueles quadros; não só dos monarcas mas de todo o reino, de todo um povo! O fez sentir uma pontada no peito ao pensar na própria história, no próprio reino e a saudade de casa quase que o sufocou por um instante.

 Minha casa agora é com Amália, repreendeu a si mesmo mentalmente. E era. Amália era seu lar. Ela, que o salvou da morte e lhe mostrou mais da vida, como podia ser a vida, enquanto o ajudava a se recuperar dos ferimentos. Afonso não achava que o destino teria entrelaçado seus caminhos da forma como fez se não fosse para que ficassem juntos.

Heavy CrownOnde histórias criam vida. Descubra agora