05.

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Quando criança, Cássio sempre soube o tipo de homem que queria se tornar quando crescesse. Como seu avô e seu pai antes dele, Cássio sempre quis ser um guerreiro, um soldado leal de Montemor. Quando enfim estava com idade o suficiente e pode ingressar na academia militar Cássio nunca havia se sentido mais feliz. Aquele fora o primeiro passo para realizar seu maior sonho. Seria um guerreiro de Montemor.


Que sempre pensou que seu rei seria Afonso foi algo que só o fez se dedicar ainda mais em seu treinamento militar.


A amizade entre os dois foi quase que imediata. Ambos dedicados - Afonso em ser o melhor guerreiro para proteger seus homens, e Cássio em ser o melhor para proteger seu rei. Havia sempre uma competição saudável entre os dois na época da academia, algo que forjou um laço ainda mais forte. Afonso não era como seu irmão mais novo, Rodolfo, que sempre dava um jeito de escapar de todas suas lições e treinamentos. Ao contrário do irmão, Afonso sempre se mostrou disposto a treinar o máximo possível apesar de todas suas outras obrigações e lições como futuro rei.


"Você se dedica tanto ao treinamento militar que começo a pensar que não confia tanto em seus homens para protege-lo, alteza." Um Cássio de dezessete anos havia dito em tom de brincadeira, numa das pequenas pausas entre um treino e outro onde mesmo que por tempo limitado se esqueciam títulos e podiam ser simples amigos.


"Confio minha vida a cada um de vocês aqui." Afonso disse, com uma seriedade que parecia estranha no rosto de uma menino de apenas quatorze anos na época e que imediatamente cessou o ambiente leve e colocou Cássio em estado de atenção. "Mas que espécie de rei serei se não puder lutar por vocês da mesma forma que se dispõem a lutar por mim? É papel de um rei proteger seu povo muito mais que de um povo proteger seu rei."


Foi naquele dia que Cássio decidiu que mais do que por tradição familiar, seria a espada de Montemor e o escudo de seu rei - Afonso - por que assim o queria, por que seria uma honra servir ao tipo de rei que Afonso poderia ser.


Exceto... Exceto que agora, isso não seria mais possível. Afonso havia mudado tudo. Acabado com todas as certezas, todos os sonhos que Cássio sempre nutriu para o futuro de Montemor ao permitir que Rodolfo suba ao trono. Cássio não podia entender, não conseguia aceitar aquilo. Afonso abandonar o reino, especialmente da forma quase apressada - como se não pudesse suportar a ideia de passar mais um minuto em Montemor - não condizia com o jovem, com o homem que lutou ao seu lado e que sempre compartilhou seus planos - bons planos, planos que sempre priorizavam o bem do povo de Montemor - com esse alguém que simplesmente largou tudo.


"Cássio." Afonso suspirou, tomando mais um gole de seu vinho antes de prosseguir. Haviam pego a taverna pronta para fechar depois de uma noite inteira aberta mas Matilda, a dona do lugar, havia sigo gentil o suficiente em lhes deixar ocupar uma mesa e ter uma bebida para conversarem com privacidade. "Dê uma chance a Rodolfo. Ele só... ele só precisa de tempo, mas ele vai aprender. Ele só precisa de apoio."


"Rodolfo não precisa de apoio, Afonso, porque mesmo sem ele já está deixando Montemor numa situação ainda mais crítica, com todos esses impostos absurdos que vem cobrando do povo. E isso por que está agindo como regente apenas! Eu temo até mesmo em pensar o que ele fara quando tiver a coroa em sua cabeça!"


Afonso esfregou a testa com as mãos, olhando brevemente pela janela o movimento na rua. As pessoas pareciam tão... cansadas. Seus passos eram lentos, como se houvessem bolas de ferro presas em seus tornozelos. Aquilo não era certo. O povo de Montemor nunca fora um povo abatido, triste, nem mesmo com a crise de água que vinham enfrentando a algum tempo já.

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