11.

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Ser rei estava longe de ser tudo o que Rodolfo sempre imaginou. Não que aquilo, de forma alguma, fosse culpa sua. Pensava ser muito mais culpa de seus súditos.

 Rodolfo era um ótimo rei, um grande rei. Só precisava encontrar um meio de convencer o povo disso.

 Francamente achava que podia entender um pouco melhor porque Afonso tinha fugido do trono - ele não aguentaria estar na posição que Rodolfo ocupava. Pouca gente sabia, mas Rodolfo apesar do caçula sempre foi o Monferrato mais forte. Claro, Afonso podia ser decente com uma espada, mas para governar um reino era necessário muito mais do que isso.

 Rodolfo acreditava cegamente que tinha isso. Acreditava não, tinha certeza. 

 O único problema é que o povo de Montemor era um povo muito ingrato. Sempre vindo a seu encontro com queixas ridículas e reclamações sobre impostos. Às vezes sentia que ouvia a mesma história quinhentas vezes no mesmo dia de bocas diferentes.

 Olhando pela janela em um dos muitos quartos, tinha uma visão privilegiada do Jardim do Castelo. Sua estátua estava ali, linda e imponente como ele - mais um presente que ofereceu ao povo e esse não soube apreciar, escolhendo vandalizar aquela obra de arte ao invés de admirá-la como deviam admirar seu rei e com isso o forçando a privá-los de bela visão e ordenar que a estátua fosse tirada da praça principal do reino e movida para a segurança do castelo.

“Majestade?” era Cássio, como sempre disposto a ser inconveniente e lhe tirar qualquer momento de paz que conseguia, algo bastante semelhante ao que sua esposa Lucrécia fazia nos últimos tempos.

“Pois não?” virando-se para a entrada do aposento, olhou para o chefe da guarda de Montemor sem esconder seu desagrado com sua presença. Tolerava Cássio porque ainda não tinha como dispensá-lo, mas assim que a oportunidade se fizesse presente o faria - algo que achava que seria um agrado não só para si mesmo, como para o próprio Cássio também. Era óbvio para qualquer um que quando olhava para o trono, Cássio preferia que fosse Afonso e não Rodolfo sentado nele.

Ingrato.

“Está tudo pronto para a viagem até Artena. Amanhã ao entardecer partimos.”

“Bom, bom… E minha carta solicitando uma reunião com o conselho; já foi enviada?” questionou Rodolfo, servindo-se de uma taça de vinho.

Uma sombra pareceu cair sobre o rosto de Cássio e Rodolfo levou a taça de vinho até a boca para esconder o riso. Era óbvio que Cássio não estava contente com a situação e mais óbvio ainda era que não havia nada que ele pudesse fazer a respeito. Francamente, Rodolfo não entendia porque Cássio era tão contra sua ideia quando ela podia mudar o destino de Montemor e a esse ponto estava quase implorando aos deuses para que Cássio de opusesse de forma mais direta para que assim tivesse ao menos uma desculpa para banir o homem impertinente para longe de si e de seu reino.

“Sim, como vossa majestade ordenou.”

 Rodolfo sorriu amplamente, caminhando a passos largos até onde o outro estava e pondo uma mão em seu ombro num gesto falsamente amigável. 

“Anime-se Cássio. Terei a aprovação do Conselho à minha ideia e logo Montemor estará novamente em tempos de prosperidade. Aposto que não podia estar mais feliz em me ter como seu rei, não é mesmo?” Rodolfo riu cinicamente, não esperando por uma resposta pois sabia que essa não viria.

 Cássio observou seu rei se afastar, um suspiro cansado lhe escapando enquanto observava a figura do homem que por vezes lhe parecia muito mais um menino mimado, fascinado com o poder. Uma criança com um brinquedo novo que de tanto o sacudir em animação acaba levando o mesmo a ruína.

Heavy CrownOnde histórias criam vida. Descubra agora