Ao me relembrar da briga pela centésima vez, pedi à André, o barman que era meu amigo, que me trouxesse mais duas doses de tequila. Meus olhos já estavam ficando embaçados novamente. Eu sabia que havia exagerado e me precipitado. Era tão difícil que eu e o Ney brigássemos e, quando isso acabava ocorrendo, eu não sabia lidar com a situação calmamente. Somente alguns dias depois, revendo toda a cena, fui perceber isso, quando já era tarde e Neymar já havia recuperado seu orgulho e parado de me procurar pra tentar se desculpar pelas coisas que me disse.
Eu, por outro lado, também orgulhosa, ao invés de ir procurá-lo, ficava chorando com minhas amigas e enchendo a cara quando elas me arrastavam para o Rhodes.
Virei uma das doses e achei que o efeito estava subindo rápido demais quando passei meus olhos pela entrada da boate. Minha jaqueta de couro preferida. Não era possível. Ele estava aqui? E por que tão lindo assim? Com uma blusa branca por baixo, calça jeans escura, tênis branco... Minhas mãos coçavam de tanta vontade de tocar aqueles cabelos. Eu não sabia se era somente uma lembrança ou se eu realmente já conseguia sentir seu perfume amadeirado no ar. Ele passou os olhos pelo salão e parou ao encontrar com os meus. Rapidamente pude ver minha tristeza refletida em seus olhos. Passando a mão pelos cabelos do jeito que ele sempre fazia quando estava nervoso ou ansioso, ele desviou os olhos pra baixo e começou a andar. Minhas esperanças de que ele fosse vir até mim foram derrotadas assim que vi Gil e o resto dos rapazes abraçando-o no lado oposto da boate. Eles se sentaram nos sofás que ficavam por lá e eu sentia minhas mãos tremendo enquanto observava-o. Ele continuava me torturando ao não dirigir mais nenhum olhar a mim, sendo que sabia que eu estava com meus olhos cravados nele. Tentei recuperar meu orgulho e comecei a observar minhas amigas dançando. Elas e André tentavam me distrair com conversas que não faziam o menor sentido. Quando não consegui conter meus olhos e espiei Ney novamente, me arrependi. Enquanto Gil e o resto dos garotos dançavam, ele continuava sentado no sofá, porém acompanhado de uma loira que praticamente se jogava em cima dele. Sua cabeça estava direcionada ao lado oposto da garota, seus braços abertos e apoiados no alto do sofá. Ele parecia totalmente desinteressado nela, até que pareceu sentir estar sendo observado novamente e virou seu rosto para frente, seus olhos caindo fixamente nos meus. A menina se aproveitou e se aproximou mais dele, colocando a mão em seu peito e levando seu rosto para o pescoço dele. Ele não demonstrou nenhuma reação ao toque dela, mas arqueou sua sobrancelha para mim, como se estivesse me desafiando. Eu cerrei meus olhos para ele, começando a explodir de raiva. Então, para terminar de acender meu pavio, ele abriu um sorriso malicioso para mim ao perceber que tinha me atingido.
Ele queria me provocar, era isso?
Peguei a outra dose de tequila e virei com raiva, quase quebrando o copo ao depositá-lo de volta na mesa. Aquele filho da puta... Ele queria brincar com fogo e eu deixaria. Mas faria questão de que ele se queimasse.
Me levantei e dei um último olhar obstinado à ele
Primeiro ele arregalou os olhos para mim e caminhou com eles por todo o meu corpo. Só agora comigo em pé, ele pôde ver como eu estava vestida. Confesso que aproveitei a falta de sua implicância para usar meus “piores vestidos” nos últimos dias e, no momento, eu agradecia mentalmente ao destino pela minha escolha do dia. Seu olhar acompanhava as fendas de meu vestido enquanto ele mordia fortemente o lábio, vidrado em mim e alheio à garota empoleirada em cima dele. Aproveitei que ele me seguia com os olhos e comecei a me mover, rebolando um pouco exageradamente. Ele não sabia o que era provocar.