Capítulo 3

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As meninas passaram aquela noite em minha casa, mas foram embora na manhã seguinte, sem que trocássemos telefones. Entendi que, assim como para mim, a noite para elas tinha sido apenas uma grande aventura.

As semanas se passaram e numa segunda-feira, quando cheguei ao trabalho, fui informado de que tinham contratado uma engenheira elétrica. Ficaríamos na mesma sala. Eu já estava acostumado a trabalhar sozinho, mas realmente o serviço aumentava a cada dia. Seria bom ter alguém para dividir comigo os projetos e a responsabilidade.

— Conrado, esta é Lavínia, a nova engenheira elétrica da companhia — apresentou-nos a diretora geral. — Como eu já havia dito, vocês dividirão a sala.

— Fique à vontade, querida, aquele ali é seu local de trabalho. — Apontou a mesa em frente a minha, olhando para a novata. — Seja bem-vinda!

A moça loira, alta e magra, de olhos azuis, que mais parecia uma modelo, sorriu timidamente agradecendo a nossa superior, que saiu logo em seguida, deixando-nos a sós. Demorei-me mais que o necessário reparando nela, simplesmente perfeita, apesar de ter os olhos um pouco sombrios e tristes. Uma inquietação tomou conta de mim.

— Muito prazer, Conrado! — Sorriu parecendo um pouco mais à vontade e me estendeu a mão.

— O prazer é meu! — respondi ainda impressionado com tanta beleza. — Seja bem-vinda! — Sua mão era macia e gostei de tocá-la.

— Obrigada. Você gosta de trabalhar aqui? Está na empresa há quanto tempo? — quis saber enquanto ajeitava suas coisas em sua mesa.

— Gosto sim. Comecei como estagiário e fui contratado logo que me formei, há pouco mais de um ano. — Sorri enquanto falava, contagiado pelo sorriso dela, que não saía do rosto. — Mas o serviço é puxado! Fiquei contente ao saber que tinham te contratado. Mas, me diga, você é daqui mesmo? Trabalhava onde antes?

Será que tem namorado? Foi impossível evitar o pensamento.

— Sou daqui de Campinas. Logo que me formei fui trabalhar em São Paulo, fiquei um ano por lá, mas não me adaptei bem com aquela vida corrida, então comecei a procurar emprego por aqui e quando vi a vaga me candidatei. Estou muito feliz de voltar pra casa! — Enquanto falava seus olhos se prenderam aos meus e pude perceber que, apesar do tom alegre, a alegria não chegava a eles. Aquilo me deixou incomodado.

Qual será sua verdadeira história, Lavínia?

— Vou te apresentar os trabalhos que estão em andamento para que possamos organizar um plano de ação, ok? — Perdi-me por mais alguns instantes no olhar dela, inquieto. — Senta aqui ao meu lado para que possa ver as planilhas, depois você salva tudo isso no seu computador. Vem! — Estendi a mão, chamando-a.

Lavínia empurrou sua cadeira, colocando-a ao lado da minha. Devemos ter passado em torno de uma hora discutindo as melhores formas de terminarmos o que eu já havia começado e acabei surpreendido pela perspicácia dela. Enquanto conversávamos, ora ela ficava séria e compenetrada, ora sorria abertamente, descontraída e comentava as coisas com um ótimo senso de humor. Ela tinha cheiro de jasmim ou lavanda, algo floral. O perfume era suave e agradável.

Percebi que faríamos uma grande parceria e acabei desejando muito mais que tê-la apenas como colega de trabalho. Não que eu quisesse exatamente um relacionamento, corria disso como o diabo foge da cruz, mas não querer me envolver não me impedia de imaginar quantas coisas deliciosas poderíamos fazer juntos. Tive que me esforçar para espantar os pensamentos inquietantes.

— Bom, o dia foi produtivo, mas já terminamos por hoje. — Desliguei meu computador e levantei em seguida, ao final do expediente. — Vamos embora?

Impossível não te amar - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora