Cidade dos Anjos

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Helena, Montana – USA

Estava pintando minhas enormes unhas da mão de um vinho bem escuro, praticamente preto, quando, do nada, Samanta, minha irmã mais nova abriu a porta do meu quarto bruscamente me fazendo borrar. A olhei bem irritada por isso, mas ela só deu um sorriso em forma de desculpas, fechando a porta atrás de si e se jogando na minha enorme cama, me fazendo borrar a unha pela segunda vez com seu movimento brusco. Respirei fundo para não xingá-la e esperei que falasse logo o que queria de mim. Conversar banalidade que não era, Sammy nunca viria até mim para isso.

Apesar de sermos irmãs, não éramos muito próximas, ela sempre preferia suas amigas a mim. Não a culpo por isso, na verdade a entendia muito bem. Eu não sou alguém muito sociável, prefiro a minha solidão do que socializar com as pessoas e elas geralmente sentem medo de mim. Samanta era a única que não sentia isso, ela sempre me enfrentava em qualquer que fosse a circunstância na qual nossos ideais não batessem. Para ser sincera, ela era a pessoa mais corajosa que já vi na vida. E eu sentia orgulho dela por isso. Mamãe sempre temia nossas brigas, com medo que eu me descontrolasse e causasse algum mau a Sammy, mas eu seria incapaz disso. Apesar de nossas diferenças, eu a amava demais.

Seus enormes olhos azuis, herdados do nosso pai, me olhavam atentos. Infelizmente não tive a mesma sorte e meus olhos eram castanhos bem claros, quase esverdeados, esses os quais não sei de onde vieram, pois os olhos de mamãe eram verdes bem fortes que chegavam a assustar quem os olhavam pela primeira vez.

Soprei a unha que pintei novamente na tentativa que secasse mais rápido. Então minha irmã se mexeu na cama bem na hora que eu estava limpando o canto da unha, e adivinhe só? Borrei novamente. A olhei com raiva e ela soltou uma risada, como sempre bem mais humorada do que eu.

– O que você quer, Samanta? – Perguntei logo para que ela fosse embora.

– Quero que vá em uma festa comigo hoje. – Estreitei os olhos com seu convite, podia sentir que tinha algo por trás daquilo. – Já pedi para mamãe e ela deixou a gente ir.

– Eu não vou em festa nenhuma. – Falei com meu jeito rabugento. Às vezes eu parecia uma velha.

– Por favor, preciso que você vá! – Juntou as mãos enquanto implorava. – Se não fosse preciso, não estaria pedindo.

– Onde é a festa? – Samanta me chamando para uma festa e pedindo permissão para mamãe. Certo, tinha algo de muito estranho isso.

– Los Angeles. – Abriu um sorrisão e eu arregalei meus olhos.

– Me fale como vamos para Los Angeles hoje? São mais de dezesseis horas de viagem daqui até lá. – Rebati, minha irmã estava ficando louca. – Vamos nos teletransportar para lá por acaso?

– Não seria uma má ideia, mas vamos de avião. Já comprei as passagens, partimos daqui há duas horas. – Simplesmente se levantou da cama. – Arrume suas coisas. – Saiu do quarto antes deu retrucar algo.

– Samanta! – Berrei e ela me ignorou. – Que merda. – Olhei para as minhas unhas ainda molhadas. – Vou precisar esperar alguns minutos, a não ser que... Glacies crepito¹ – Falei e soprei a ponta de meus dedos, que ficaram extremamente geladas, chegando a fazer o esmalte ficar esbranquiçado.

Mamãe odiava que usássemos magia atoa, mas eu precisava que minhas unhas se secassem rapidamente. Balancei a minha mão, e logo o gelo já tinha saído e tudo já estava seco. Perfeito. Sorri olhando minhas unhas e levantei da cama, guardando minhas coisas dentro da bolsinha e a jogando dentro da gaveta.

Puxei minha mala de rodinhas de dentro do meu armário e fui colocando algumas roupas dentro dela. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para Samanta perguntando quantos dias ficaríamos lá, para saber o que iria levar. Ela me respondeu que seriam cinco. Cinco? Isso era uma festa ou uma rave? Certo, eu não me importava muito com isso, afinal, podia levar meus livros de magia e ficar estudando um pouco caso não tivesse nada para fazer.

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