Epílogo

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Vinte e cinco anos depois

Os anos nunca foram tão longos. A pedido dos Pretz, eu fiquei morando com eles por algum tempo, apesar de tudo ali me lembrar da Morgana, aceitei. Não entendia como Úrsula, Charles e Wanda não me odiavam depois de tudo que aconteceu com as meninas. Elas morreram, e os culpados disso eram eu e Bill, se não tivéssemos aparecido na vida delas nada disso teria acontecido, mas Wanda dizia que aquilo estava predestinado a acontecer, e que não poderia ter sido mudado. Após alguns anos a velha morreu, e devo admitir que senti saudades, então me mudei para sua casa, Úrsula achava que eu tinha que herdar os pertences de bruxaria de sua tia, que o legado pertencia a Morgana, mas como ela não estava mais entre nós, ele me pertencia agora, e fiquei honrado com isso.

Sempre que me fechava na biblioteca aprendia algo novo, e era extremamente gratificante. As cinzas de Morgana ficavam em uma urna em cima da lareira, me fazendo lembrar sempre dela, e o quanto bem ela me fez em um curto espaço de tempo. Não tive mais vontade de ficar com ninguém, e todas as noites sonhava com ela, não sabia se eram vidas passadas, ou se era apenas minha mente fantasiando algo, mas também preferia não saber. Só de vê-la sempre que fechava os olhos era gratificante, sentia como se estivesse comigo.

Decidi fazer algo da minha vida e virei professor de arqueologia na faculdade de Helena no último ano, e não usava mais magia. Era algo que prometi a mim mesmo, pois visto que aquilo havia acabado com minha vida.

Acordei as oito e olhei para a foto de cabeceira da noite do baile, onde estava eu, Morgana e Bill. Sorri e me levantei, indo para o banheiro e tomando um banho rápido. Sai enrolado na toalha e separei uma roupa para a aula, me vesti e passei a mão em meus cabelos, depois os penteei e deixei que secasse antes de prender, um a coisa que nunca consegui mudar foi deixar meu cabelo curto. Eu ainda tinha a mesma aparecia, tinha parado nos meus vinte e seis anos, mas a mente era de um cara de cinquenta.

Fiz um café e tomei enquanto lia o jornal. Quando terminei, lavei a minha caneca e fui até o escritório pegar o material que usaria hoje. Escovei os dentes e fui para a faculdade de moto.

A primeira aula foi para o pessoal do primeiro período de história, depois foi para arquitetura do quinto período e por fim parei, pois foi uma aula dupla da manhã. Estava guardando minhas coisas quando vi uma menina se aproximar, ela vestia algo extremamente decotado, e se sentou sobre a minha mesa com suas pernas torneadas, cruzadas. A olhei rapidamente antes de puxar meu bloco de anotação debaixo dela, aonde havia sentando em cima.

– Alguém já disse que você é muito inteligente para aparentar tão pouca idade? – Sua voz era bem fina, até um pouco irritante.

– Já sim. – Respondi ríspido guardando meus materiais. – No que posso ajudar, senhorita... – A encarei e esperei que falasse seu sobrenome.

– Hudson. – Falou mascando seu chiclete de menta com a boca aberta. – Mas pode me chamar de Mind. – Passou o indicador em meu ombro.

– O que deseja, senhorita Hudson? – Tentei não torcer o nariz, mas foi impossível, detestava quando davam em cima de mim daquela forma.

– Hm... – Fez cara de nojo certamente por tê-la chamado pelo sobrenome, e depois sorriu. – Queria saber quanto cobra para dar aulas particulares. – Passou a língua em seu lábio superior.

– Não dou aulas particulares. Se está em dificuldade com a matéria sugiro que pegue o material, o estude e me mande e-mails tirando suas dúvidas, de preferência que seja durante as quartas-feiras, que é o dia que estou de folga. – Lhe entreguei meu cartão com o meu e-mail e telefone. – Se era só isso, poderia, por favor, sair de cima do meu livro. – Cerrei meus lábios e ela pulou de cima da mesa com cara irritada. – Obrigado. – Peguei o livro e o examinei para ver se tinha amassado.

– De nada. – Se virou e saiu andando, rebolando. Só se podia ouvir os saltos da senhorita Hudson subirem para a saída da sala, até a porta se bater.

– Bela resposta que deu a ela, pensei que iria presencia um pornô ao vivo. – Ouvi uma voz feminina e aveludada vindo do meio da sala. Ergui meu olhar e vi uma mulher sentada com os pés cruzados sobre a mesa, ela tinha um jeito despojado. – Quando vi na minha grade curricular Sr. Tom Pretz pensei que era um velho senil, e não um cara da minha idade que dá fora em garotas oferecidas da faculdade. – Ela riu do seu próprio comentário.

– As pessoas ainda usam a palavra senil para descrever alguém? – Questionei de forma retórica, e guardei eu livro na bolsa com cuidado, e a fechei.

– Eu gosto de usar umas palavras velhas, acho que é por causa do meu avô. – Riu e tirou os pés da mesa, pegou suas coisas e desceu até aonde eu estava. – Não sou dessa turma, acabei de ser transferida para cá, e estou na sua turma de história antiga B, na sua aula de sexta e perdi as duas primeiras aulas. – Explicou enquanto andava, e no segundo que olhei em seus olhos esverdeados eu senti a mesma ligação que eu sentia com a Morgana. – St. Pretz! – Estalou os dedos, e isso me fez piscar. – Me responda.

– Qual foi a sua pergunta mesmo? – Tentei me recompor e não reparar em sua aparência, e sim no que estava falando.

– Na secretaria me disseram que eu precisava perguntar a você quais livros preciso comprar para a aula de história antiga B. – Repetiu o que desejava saber.

– Ah sim. Vou anotar para você. – Já fui abrindo a minha bolsa.

– Não precisa, é só me falar, eu escrevo no meu caderno, ou vou perder seu papel. – Já colocava suas coisas sobre a mesa e procurava uma caneta em sua bolsa.

– Aqui. – Lhe entreguei uma caneta e ela sorriu agradecida, então fui lhe ditando os livros que usaríamos durante o semestre. – Estou organizando uma ida ao museu, se quiser ir fale com o Seth, representante da sua turma, que ele vai te passar o dia e a hora que os alunos combinarem, provável que seja em uma quarta-feira. – Avisei e ela me devolveu a caneta. – Qual é o seu nome mesmo?

– Eu não falei. – Ela sorriu como se estivesse se divertido com a pergunta. – E acredito que não seja necessário, provável que vai esquecer em meio de tantos alunos. – Guardou as coisas em sua bolsa enquanto eu a olhava, esperando que falasse logo como se chamava. – Não sei se você sabe, mas a primeira regra dos universitários é; não querer que os professores saibam seu nome. – Piscou de um jeito sapeca, ela tinha um espirito de criança. – Obrigada, Sr Pretz. – Foi dando passos para trás.

– Por nada. Qualquer coisa é só me procurar. – Assentiu com a cabeça, e ela se virou e foi subindo os lances de madeira apressada, batendo com sua bota da All Star vermelha no chão.

E ela saiu deixando a porta aberta. Era ela, era a Morgana, eu sentia que era.

Fim

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