Chapada

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E nós fugimos feito ratos amedrontados da cobra que estava pronta para dar o bote. Nós corremos o mais rápido que pudemos, o mais rápido que nossas pernas conseguiram. Fomos covardes o suficiente para isso, para deixar minha família, minha casa e minha cidade para trás, mesmo eles correndo tanto perigo quanto nós. Pegamos tudo que conseguimos alcançar, e o que não conseguimos, deixamos para trás para ser destruído. Fizemos isso sem ao menos dar uma explicação, sem sequer olhar para trás para poder ver um último aceno de adeus, falando apenas um até logo, que talvez nunca exista. Em dentro de uma hora já estávamos na estrada, apavorados, cansados demais para pensar no que fazer, e com medo demais para parar. Bebendo café quente tirado direto da máquina, loucos para continuarmos acordados, queimando nossas línguas e nossos olhos com os primeiros raios de sol que surgiam ao longo do horizonte. Nenhum de nós dois nos prestávamos a deixar o outro sozinho por puro pânico de que algo poderia acontecer assim que fechássemos os olhos. A exaustão não estava estampado apenas em nossos rostos, mas também em nossos corpos. Era difícil se manter de pé depois de quarenta oito horas sem dormir, e ainda nem tínhamos chegado ao nosso destino.

Já tínhamos percorri umas de mil milhas, e para ser sincera eu não tinha mais a menor ideia se isso era muito ou pouco, se comparado do que estávamos fugindo. Estávamos completamente esgotados, mas não iriamos desistir, faltavam apenas três horas para chegarmos em Chicago. Bill tinha conseguido emprestado um apartamento de um amigo dele que vendia drogas, o cara tinha mais imóveis na cidade do que poderíamos imaginar, todos em nomes de outras pessoas, então isso nos facilitaria. E nas circunstância que estamos, se o cara era um traficante ou não, esse era um dos nossos menores problemas.

Meu óculos de sol ainda cobriam minhas enormes olheiras, e por mais que já tivesse anoitecido novamente, eu não queria tirá-lo por medo de ver o meu estado e pensar o quão fracassada era por ter deixado as coisas chegarem no ponto que estão de uma forma tão rápido. Minhas mãos seguravam o volante com força, e tentava ao máximo me concentrar nas ruas que entrávamos agora, para finalmente chegarmos no maldito apartamento. Bill olhava pela janela com sua cabeça encostada no vidro, e só a voz do GPS era ouvida dentro daquele carro por horas.

Estacionei na frente de um prédio feito de tijolinho vermelhos, na verdade a rua tinha vários iguais a ele. Apenas pequenas grades preta os dividiam, mas esse em especial não tinha nenhuma. Vi um homem sentado nos degraus da frente fumando um cigarro, poderia até mesmo ser um baseado, mas estava longe demais para que eu conseguisse definir o que era. Ele se levantou, jogou seu cigarro fora e veio até o carro. Abaixei o vidro e o sujeito parou por um segundo, então continuou a andar. Ouvi Bill se remexendo ao meu lado, mas não o olhei.

– Meu grande amigo. – o homem enfiou o braço dentro do carro e estendeu a mão para Bill, que a pegou. – E quem seria essa donzela? – olhou em minha direção com um sorriso no rosto.

– É uma amiga. – Bill respondeu por mim, e eu fiquei grata por isso, pois não sabia o que iria falar. – Mordock, vou precisar de mais um favor seu. – já falou logo em seguida.

– Tudo o que você precisar. – sorriu,

Comecei a questionar qual deveria ser o acordo deles, ou o que Bill já deve ter feito para esse cara topar nos ajudar de tal maneira, mas minha cabeça estava cansada demais para chegar em qualquer conclusão que fizesse muito sentido ou que não fosse algo extremamente pesado.

– Vamos precisar de documentos falsos. – pediu, e isso me fez encará-lo. – Você vai querer continuar com seu nome? Se quiser pode mudar apenas o sobrenome. – parei para pensar por um tempo.

– Não sei se iria me acostumar a ser chamada de outro jeito. – uni as sobrancelhas. – A princípio vou mudar só o sobrenome.

– Ok. – abriu o porta-luvas tirou de lá um maço de notas de cem. – Seremos Nathanael e Morgana Willians. – entregou o dinheiro e voltou a pegar mais algumas coisa. – Isso deve dar para pagar a estadia e os documentos. Amanhã nos encontramos para tirar as fotos.

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