*10 anos de idade*
-Mom eu não quero ir.
-Mas meu amor você vai gostar. Não é só exposição de quadros, vai ter brincadeiras, as crianças vão poder pintar quadros também, vai ter um pouco de dança.
-Mas eu não ligo, eu só não quero ir. - Harvey falava com toda a certeza de que seria horrível
-Babe venha aqui - Lilly se abaixou e ficou na altura de Harvey - Isso é importante para a mamãe e eu gostaria muito que você fosse. Todos vão, você me deixaria muito feliz se estivesse lá também.
-Mommm - Harvey fazia uma carinha séria, com a chantagem que ouvia de Lilly
-Please babe, você vai gostar - Lilly fazia uma cara doce
-Ok, mas você me compra um sorvete depois e eu escolho o tamanho.
-Ok Harvey - Lilly ria para o garotinho esperto em sua frente - Voce não toma jeito né?! Sempre negociando algo.
-É um dom, e eu sou o melhor. - Harvey falava todo orgulhoso de si mesmo.
-Ok "the best", agora vamos se não vamos nos atrasar.
Eles saíram e foram a uma exposição de quadros ao ar livre, em um parque que ficava perto da casa de Harvey. Lilly era uma amante das artes, era pintora, amava o que fazia e sempre incentivava Harvey a pintar, mas ele não era muito fã da pintura. Ele gostava mesmo era de ficar com Gordon, seu pai, que era músico, e tinha uma paixão imensa por carros. Harvey era apaixonado por carros e música nem se fala. Sempre passava horas vendo e ajudando seu pai a cuidar do seu Austin-Healey 3000, que Gordon falava que era seu filho também. Eles se divertiam muito cuidando do carro, eram momentos preciosos para Harvey e também para Gordon.
...
-Isso aqui já está chato. - Harvey revirava os olhos falando com Lilly
-Harvey nos acabamos de chegar, dê uma chance.
-Aff - Ele não estava nem um pouco satisfeito com aquela situação
-Olhe - Lilly apontava para o carrinho de pipocas - Vá lá comer um pouco.
-Não quero
-Meu amor, se você não der uma chance de se divertir, você nunca vai se divertir - Lilly falava com toda doçura e paciência do mundo. Ela sabia que Harvey demonstrava que odiava tudo relacionado ao que ela fazia. Mas no fundo, no fundo, ela sabia que ele gostava, só não dava o braço a torcer.
-Tá bom, eu vou lá, mas eu ainda quero meu sorvete viu mom - Harvey arqueava a sobrancelha ao falar com Lilly, como se estivesse dizendo que ela não iria conseguir que ele se esquecesse da promessa.
-Tá certo meu garotinho lindo - Lilly apertava as bochechas de Harvey.
-MOM, I'm a big man - Harvey falava tentando se livrar das mãos da mãe - MOM STOP.
Lilly deu uma risada e Harvey ficou de cara amarrada - Ok my big man, vai lá pegar sua pipoca.
Harvey foi buscar a pipoca e percebeu que tinha várias outras crianças ali, algumas estavam brincando com seus pais no gramado, outras comendo, tinham algumas que estavam pintando alguns. Ele parou alguns segundos para observar as crianças que estavam pintando. Uma garota em especial chamou sua atenção. Ela estava de costas para ele, não conseguia ver o seu rosto, mas o seu cabelo era lindo, ruivo, enorme, tinha uns cachos nas pontas, aparentava ter a mesma idade dele ou ser um ano mais nova no máximo. Ele ficou encantado, ficou ali alguns minutos olha para a garota, até que alguém esbarrou nele e ele voltou a realidade.
Quando pegou a pipoca viu Lilly acenando para ele, e ele começou a correr em direção a mãe. De repente ele bateu em alguém abruptamente e caiu no chão, sua pipoca já estava mais em suas mãos e ele percebeu que estava todo melado de tinta.
-Você não olha para onde anda garoto? - Um voz fina e no momento totalmente enfurecida ecoou.
Harvey ainda desnorteado foi se levantando e vendo seu estado, começou a bater em suas roupas, na intenção de limpa-las, mas sem sucesso.
-Você que não olha para onde anda, olha o que você fez com a minha roupa. - Ele estava furioso e ainda não tinha percebido quem estava na sua frente.
-Ahh claro, já deveria esperar isso mesmo : um mauricinho que só liga para as suas roupas e não tem um pingo de educação. - Ela falava e parecia que seus olhos iriam saltar de tanta raiva.
Quando Harvey finalmente olhou para a menina, ele ficou paralisado, não conseguia proferir uma palavra sequer, apenas ficava de boca aberta, olhando para a menina que a poucos minutos atrás tinha conseguido prender sua atenção, e ela nem sabia disso.
-Humm... é - Ele não sabia o que dizer direito, não iria pedir desculpas, mas também não queria ser grosso. - Eu não bati em você, você que veio na minha direção e esbarrou em mim.
-Você é muito sem noção mesmo. Você não vai me pedir desculpas? - A garota olhava pra ele como em um desafio.
-Não. Eu não fiz nada. - Ele respondeu na mesma hora.
-Grosso. - Ela falava já se retirando de perto dele.
-É você. - Ele retrucou em um tom mais alto.
Ela virou para ele uma última vez e fez uma careta e mostrou a língua para ele. Quando ela finalmente deu as costas para Harvey, automaticamente abriu um sorriso doce e nem lembrava mais o porque estava bravo. Ele só conseguia pensar naquela voz, e em como de longe ela parecia frágil e indefesa, mas quando alguém mexeu com ela, parecia uma leoa rugindo alto para se proteger.
Ele foi ao encontro de Lilly que logo o encheu de perguntas sobre o que tinha acontecido, o porque de suas roupas estarem manchadas de tinta, onde estava sua pipoca, e Harvey apenas estava escutando e não respondia nada, ainda estava encantado com a menina, com seus cabelos e o como ela era forte e determinada. Harvey tentou perguntar a algumas pessoas como era o nome dela, mas como tinha muitas pessoas no evento, ficava difícil saber o nome de uma garota. Ele ainda tentou mais um pouco, mas sem sucesso. Quando voltaram pra casa ele estava feliz por ter encontrado com a menina, mesmo que ela estivesse brigando com ele, mas ao mesmo tempo estava frustrado e triste porque nunca mais a veria, e isso era horrível.
O fato é que nenhum dos dois sabia, mas em algum momento eles iriam se esbarrar de novo e dessa vez seria a última que se encontrariam por acaso.