Donna não queria mais levar a vida que estava levando, ela não se sentia feliz, a única coisa que lhe trazia um sorriso no rosto era o teatro, sua carreira, mas até isso ultimamente não era sinônimo de felicidade. Ela não conseguia um emprego, tinha feito alguns cursos para aprimorar-se, mas nada estava dando certo. Quando conheceu Mark, viu nele uma pessoa legal, um amigo, desenvolveu sentimentos por ele, mas nunca foram lá grandes sentimentos, ela gostava muito dele, mas não poderia dizer que amava, estavam mais para bons amigos, do que para pessoas que se casariam a alguns meses.
Mark era bem sucedido em seu emprego, dinheiro nunca lhe fora um problema. Desde que conheceu Donna, sabia o que ela estava passando em relação a sua vida financeira e sempre disse que a ajudaria com tudo que ela precisasse. Isso incomodava-a, não gostava de depender de ninguém, mas na situação atual, não estava reclamando, apenas aceitando.
Mas ela já tinha tomado sua decisão de mudar sua vida, estava apenas esperando o momento certo para fazer isso, queria arrumar um emprego, mesmo que não fosse no teatro, mas ela precisava disso, precisava se ver livre de tudo aquilo que vivia, não por causa do Mark, mas por causa dela mesma.
...
Era dia 22 de dezembro, sexta-feira, NY estava no típico clima de fim de ano. Neve, coros natalinos no Central Park, enfeites por todos os lados, as pessoas estavam eufóricas pelas festas, era perceptível a alegria nos rostos das pessoas, do mais jovem ao mais velho, era possível ver que todos estavam felizes.
Estava perto das festas de fim de ano, mas para Donna era mais um dia de busca, mais um dia que ela tinha para achar um emprego, e era o que ela estava fazendo. Estava andando por todos os lados, entregando seu currículo. Entrava e saia de bares, restaurantes, empresas das mais diversas possíveis. Ela era uma pessoa extremamente comunicativa, se dava bem com as pessoas e tudo o que ela fazia, era bem feito, mesmo que não fosse aquilo que amava, ela fazia com toda dedicação e perfeição.
Já estava no fim do dia, Donna já estava cansada de tanto ir nas empresas, precisava tomar alguma coisa para esquentar o corpo e relaxar também. Entrou no primeiro bar que viu, pediu um whisky e se sentou no balcão mesmo. Ficou alguns minutos ali sentada, mas já estava entediada e resolveu ir embora. Estava levantando-se e de repente ela sentiu uma batida abrupta em seu ombro, sua expressão de tédio deu lugar a uma expressão de raiva.
...Harvey estava trabalhando na Person Hardman, era um dos associados mais eficientes de toda a firma. Jéssica tinha ele como seu próprio filho, sempre limpava a bagunça que dele, quando ele fazia alguma, o que era uma coisa rara de acontecer. Eles tinham uma parceria, eram amigos, Jéssica tinha feito muito por ele, e ele só poderia agradecer ou retribuir com seu trabalho, que era o que ele fazia de melhor.
Tinha sido uma semana estressante na firma, muitos casos grandes, e como Harvey era um dos melhores, ou segundo ele mesmo, o melhor de todos, Jéssica deixava muita responsabilidade em suas mãos, a maioria dos clientes grandes de Jéssica era Harvey quem cuidava. Aquela sexta-feira gelada estava quase chegando ao fim, Harvey só queria ir embora para casa, tomar um banho e dormir. Estava olhando a cidade do seu escritório quando seu celular tocou em cima de sua mesa.
-Oi Mike – Falou em um tom ríspido.
-Nossa já sei que não tá de bom humor hoje – Mike falava com um ar de riso
-Se você ligou para encher meu saco... – Começou a falar impaciente e distanciando o celular da orelha na intensão de desligar.
-Nãoo Harvey, espera, você é muito chato, eu liguei pra saber se você não queria ir para algum bar, ou comer alguma coisa.
-Olha não sei se é uma boa ideia, eu estou muito cansado, só quero ir pra casa e dormir.
-UAU
-O que foi?
-Harvey Reginald Specter querendo ir para casa, dormir, em plena sexta-feira, em NY, nas festas de fim de ano, onde todos os bares estão cheios de turistas gatas? Dudee who are you?
-Mike para de graça, eu só estou cansado.
-Cara é sério quem é que está falando? Com certeza não é meu amigo!!
-Você é insuportável.
-Eu estou te esperando na frente do escritório daqui dentro de 40min, ou então eu vou te buscar ai.
-Mike eu não vou.
-Harvey isso é uma ordem, você não tem escolha, e não me faça ter que ir aí – Mike falou e logo em seguida desligou.
-Son of a bi... – Ele falou furioso e em um tom mais alto quando percebeu que Mike tinha desligado.
Já tinham se passado 20min e Harvey ainda estava sentado em sua mesa, considerando os prós e contras de sair naquela noite. Nesse meio tempo, Mike, desde que desligou a celular, começou a mandar inúmeros sms falando que estava esperando por ele. Harvey perdeu a paciência e sendo vencido pelo insistência de Mike foi ao encontro dele. Mike não trabalhava muito longe da Person Hardman, não levaria muito tempo até chegar lá. Quando chegou ao local marcado, Harvey dispensou os serviços de Ray, o que deixou Mike levemente frustrado.
-Porque o Ray não pode nos levar?
-Olha só Mike, você já me arrastou até aqui, quer segurar meu motorista também? – Ele ergueu as sobrancelhas ao falar com Mike.
-Cara o que deu em você? Você está mais chato do que o normal. – Mike deu de ombros.
-Olha só vamos acabar logo com isso. Pra onde você quer ir?
-Vamos em algum bar, beber alguma coisa, como nos velhos tempos. – Mike sorria animado.
-Você fala como se a gente não tivesse saído semana passada.- Harvey falou com descaso
-Arrgh dudee, vamos lá é Natal, vamos beber, desfaz essa cara de quem comeu e não gostou.
-Por Deus Mike cala essa boca e vamos logo.
Como Harvey tinha dispensado Ray, eles foram caminhando, conversaram sobre coisas aleatórias, Mike olhava animado a decoração da cidade, estava eufórico com as festas de fim de ano. Caminharam por uns 15min e entraram em um bar próximo ao Central Park. Estava lotado devido as festas, muita gente bebendo e conversando. Harvey mal tinha chegado ao local e já estava impaciente com toda a situação, mas por um momento ficou feliz de estar lá com Mike, ele era uma criança, mas gostava de sua companhia. Mike foi o primeiro a entrar, Harvey estava logo atrás dele, Mike falava alguma coisa para ele, mas estava distraído com o barulho. De repente ele bateu em Mike, despertando do transe que estava. O garoto estava parado também e havia uma mulher olhando para ele com uma cara não muito boa.
- "Você não olha por onde anda garoto?"
Harvey não estava entendendo o que tinha acontecido ali, mas quando ouviu aquela voz, um filme passou em sua cabeça, e uma cena que tinha acontecido quando tinha apenas 10 anos de idade veio a tona, como se tivesse acontecido a poucos segundos. A voz era mais madura, um pouco diferente talvez, mas era ela, era a garota dos cabelos ruivos.