-Você não olha por onde anda garoto? – Donna falava e sua expressão de raiva era cada vez mais evidente.
-Nossa, desculpa, eu estava distraído, não vi a senhora na minha frente. – Mike não sabia bem o que falar, e escolheu a pior palavra.
-Senhora? Você acha que eu tenho quantos anos? – A cada segundo Donna ficava com mais raiva da situação, e já estava ficando vermelha.
-Ah... nossa, erh... desculpa, ai meu Deus... – Mike tinha a expressão mais perdida do mundo, ficou gaguejando coisas sem sentido e começou a ficar preocupado com a mulher ruiva em sua frente, poderia jurar que ela estava prestes a pular em seu pescoço e acabar com ele ali mesmo.
Harvey ainda estava processando a voz que havia escutado despois do encontrão que deu em Mike, parou e ficou observando os dois a sua frente discutindo. Ele estava prestando total atenção na mulher, todas as expressões de raiva, a sobrancelha arqueada, o quanto a cada segundo ela ficava vermelha de ódio por Mike tê-la chamado de "senhora", e cá entre nós, Mike merecia, porque era notável que ela tinha nossa idade. Harvey estava hipnotizado pela mulher, assim como tinha ficado quando tinha dez anos de idade. Ele possuía um sorriso discreto no canto da boca, estava adorando estar ali e observa-la, parecia que ele tinha dez anos outra vez. Estava em transe até que Donna o fulminou com o olhar.
-E você o que está fazendo ai parado? Tá achando engraçado? Por acaso tenho cara de palhaça para você estar com esse sorrisinho idiota no canto da boca? – Cada palavra de Donna era intensificada pela sua raiva.
Por um instante, Harvey sentiu seu corpo tremer, o sorriso que estava em seus lábios deu lugar a uma expressão de susto, pânico, ele nem sabia o que fazer. Ele olhou para Mike e o garoto estava mais fora de si do que ele mesmo. Procurou formular uma frase mentalmente, mas nada fazia sentido. Então, ele relaxou e simplesmente riu da situação. Riu porque percebeu o quanto estava patético, riu porque nem ele mesmo estava acreditando nessa situação, riu porque se lembrou de tudo o que tinha acontecido quando ele tinha dez anos, do quanto ele estava todo bobo olhando para aquela garota, riu da ironia que é a vida, que depois de tantos anos, a mesma situação se repetiu, com as mesmas pessoas, e ele ainda não tinha reação diante da garota de cabelos ruivos, riu porque depois de anos, ela conseguiu causar a mesma coisa nele e ela nem imaginava isso. Alguns segundos depois de pensar em tudo isso, rindo de si mesmo, balançando a cabeça em negação, voltou seu olhar para a mulher em sua frente e não aguentou, soltou uma gargalhada.
...
A expressão de raiva que estava no rosto de Donna, misturou-se a incredulidade. Não era possível que ele estava achando graça da situação, porque um homem não pode simplesmente ser gentil e cavalheiro e pedir desculpa. Ela o olhava perplexa, a situação era absurda, ele estava rindo de uma coisa que nem aconteceu com ele diretamente, e parecia mesmo está se divertido com tudo aquilo. Rapidamente pegou sua bolsa e foi abrindo caminho entre Mike e Harvey, estava com toda a raiva que poderia sentir, não ficaria ali para ser mais humilhada por aqueles dois idiotas bem vestidos – ela notou os belos ternos – e saiu batendo em seus ombros na tentativa de empurra-los.
Ao mesmo instante que saiu colidindo com eles, ao passar por Harvey, que estava um pouco atrás de Mike, parou, sentiu um toque percorrer toda a extensão do seu braço até repousar em sua mão segurando-a firmemente. Viu Harvey ainda risonho e passando a sua outra mão pelo rosto, afim de controlar suas expressões, mas simplesmente ele não conseguia, continuava rindo de tudo que acabara de acontecer.
...
- Oh I'm sorry – Ele não conseguia parar de rir – Oh Jesus, come on – Ele agora estava olhando para cima, com sua mão livre erguida como se estivesse clamando a Deus para conseguir parar de rir e finalmente falar com Donna. – Ok, I'm sorry – Ele havia parado de rir alto , mas mantinha um sorriso nos lábios, e falava sério, olhando profundamente nos olhos dela. – Você não vai falar nada?
Nesse momento os olhos de Donna percorreram todo seu braço, repousando o olhar em sua mão sendo pressionada pela dele. Seu olhar foi subindo de encontro ao dele e quase que instantaneamente ela arqueou sua sobrancelha, como se estivesse perguntando o que ele estava fazendo. Olhando para ele, não deixou de notar o quanto ele era bonito, e mesmo estando com todas aquelas peças de roupa, poderia imaginar o quanto era forte e teria o abdômen definido ou algo bem próximo a isso. Sentiu um arrepio na espinha ao encontrar aquele sorriso e por um momento se esqueceu o que tinha gerado aquela situação.
- Falar o que? – Ela deu as costas para ele e fez uma força para separar sua mão da dele, mas ele a pressionou um pouco mais, mais ainda sim era um toque delicado, fazendo com ela novamente ficasse em sua frente.
- Falar que "sim". – Ele matinha um sorriso bobo no canto dos lábios.
- "Sim" a que? – Ela estava com raiva ainda, mas não como antes, era mais sarcasmo do que raiva propriamente.
- Sim ao meu pedido de desculpas... – Ele iria continuar, mas foi interrompido.
- Esquece, tanto faz. – Ele ainda estava segurando em sua mão, e ela não deixou de notar isso.
- E também "sim" ao meu convite. – Ele sabia como conquistar alguém ou pelo menos ele esperava que ela dissesse sim.
- Não, obrigada. – Ela respondeu mais ríspida que o normal, e instantaneamente soltou sua mão da dele e saiu andando.
Ele nem sabia o que fazer, mas quase que por instinto, deu passos apressados e se pôs em frente a ela novamente.
- Qual é?! Você nem sabe o que eu iria pedir. – Ele voltou com o sorrisinho no canto dos lábios
- Você provavelmente iria me chamar para tomar um drink com você, ou com você e seu amigo, e conversaríamos durante algumas horas sobre coisas banais e depois seguiríamos nossas vidas. – Soou mais dramático do que ela queria.
- Uau, como você sabe? – Ele sorria divertido, mas sua expressão também era uma súplica para que ela baixasse a guarda.
- I know everything. – Ela olhava fixamente nos olhos dele.
- Ok sabe tudo, mas deixa eu te pagar um drink e me desculpar direito pelo que meu amigo fez e disse. – Ele tocou sutilmente em seu ombro direito, encurtando a distância que havia entre os dois. Nem ele esperava fazer aquilo. Ficou com medo da resposta dela, porque ele já tinha passado do limite segurando em sua mão e agora de novo tocando em seu ombro. Seu estômago deu um embrulho e ele rapidamente tirou a mão do ombro dela e deu um passo para trás.
...
Um silêncio pairava sobre os dois, foi coisa de segundos, mas parecia que estavam em câmera lenta. Donna analisava o que estava acontecendo ali. Não queria deixar transparecer o que estava sentindo, mas de algum modo estranho, pela segunda vez naquele curto espaço de tempo, sentiu um segundo arrepio na espinha ao sentir ele tocar em seu ombro. Nunca tinha visto aquele homem, como era possível seu corpo reagir assim a alguém que nem fazia ideia de que existia? Como que um simples toque na mão ou no ombro pode deixa-la trêmula?
- E então quanto tempo mais vamos ficar nos olhando? Está tentando me seduzir? – Ele disse brincalhão e fez com que ela despertasse dos seus pensamentos.
E foi aí que ela riu. Discretamente. Como se não quisesse que ele percebesse.
Mas é claro que ele percebeu. E não fez questão de esconder.
- Ok. Mas é só um drink. – Ela falava com um sorriso mínimo no canto dos lábios.
- Good. – Ele respondeu rindo com os lábios cerrados e apertando um pouco os olhos e estendeu sua mão a ela.
- Good. – Ela assentiu, mas não segurou na mão dele, apenas deu um sorriso de canto e virou-se em direção ao bar.
Ele riu dela por não ter pegado em sua mão, passou a mão pelos cabelos e desceu ao rosto como se estivesse coçando uma barba inexistente ali. Apenas seguiu seus passos até o bar, e enquanto fazia isso, não deixou de observar o corpo da mulher, observou atentamente suas curvas, baixou a cabeça e balançou a cabeça, como se tivesse querendo tirar esses pensamentos dali, ainda não era hora para aquilo.
Uma pontinha de esperança cresceu dentro dele. Ela tinha baixado a guarda e ele claramente percebeu isso. E não era uma coisa que ele deixaria escapar. Não dessa vez.