Não é da morte em si na qual tememos. O temor é e vem da vida. Mas não falo da vida biológica, aquela em que aprendemos o conceito numa simples aula de ciências: nascer, crescer, reproduzir-se e enfim morrer. Falo do ato que é viver, pois nesse lapso temporal há uma infinidade... cômico não é? Que até o ciclo da vida venha a ser uma epítome.
O que é a vida senão a criança ferida que queria brincar um pouco mais e por seguinte acabou se machucando? O que é a vida senão a adolescente apaixonada que teve seu coração dilacerado? O que é a vida senão o bom homem atrás de um sonho brutalmente rasgado? O que é a vida senão uma colcha de retalhos?
E o que seria da vida? Sem sonhos, desejos, sem medos e temores, sem amor? Sem sobretudo frustrações? O que seria dela sem a morte? O que seria da criança, da adolescente ou do homem sem a apática velhinha que é a morte puxando suas orelhas impiedosamente?
Aquela senhora cheia de histórias não compartilhadas, cicatrizes internas e externas, aquela maltratada e maltrapilha mulher que no final tem o vil prazer de nos levar à sua casa onde nos coleciona, onde apenas ela sabe como e onde encontrar. A velhinha sem relógio que não nos espera realizar tudo o que queríamos, que não espera por um momento certo para nos levar... sem explicações e sem bater na maldita porta.
A vida sem desejos, sonhos, expectativas roubadas, sem quedas e feridas não é vida...
Só nascer não é vida, porque chorar o é. Apenas crescer não é vida, amadurecer o é. Reproduzir não é vida, mas dar tudo de si mesmo para o outro, ensinar uma criança a ler ou a andar de bicicleta o é. Mas morrer, meu caro, ironicamente, pode ser vida... se aproveitamos com antecedência cada instante para sermos melhores, para darmos tudo de nós em algo, para chorar, ter medo, cortar o dedo, ralar o joelho ou ter o coração partido, ajudar quem precisa, amar, abraçar ou beijar. Se aproveitamos o tempo que nos foi dado para perdoar e pedir perdão, e, sobretudo para errar e aprender com os próprios erros, isso é vida. É entender também que o sentido da vida é deixar uma marca, a sua marca no mundo, é enganar a velhinha, é ser a criança, a adolescente e o homem, o sentido é simplesmente superar a si mesmo, ser bom. E viver. Porque o sentido da vida é viver.O que é a vida senão viver?
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alma exposta
Randomescrever me dá paz. escrevo para aliviar dores emocionais. escrevo para sobreviver. e aqui, nesses textos, eu exponho minha alma para quem quiser vê-la. sinta-se bem vindo, aconchegue-se, a alma em questão é minha, mas pode ser a sua.