2. Cold Water

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"Ney, precisa de ajuda?" Marcelo perguntou ao voltar ao ônibus fazendo com que eu saísse do "transe" em que me encontrava até então.

"Oh, não, eu só estava pegando umas coisas aqui e..." Não encontrei palavras para terminar de formar minha frase mentirosa.

"O que há cara? Quer conversar?" Ele perguntou novamente, dessa vez vindo até mim e se sentando em uma poltrona a minha frente, me olhando fixamente.

"Eu to sentindo o Philippe estranho, não sei..." Dei de ombros.

"Como assim? Por causa do que houve durante o jogo?" Marcelo franziu o cenho e eu assenti com a cabeça.

"Eu ainda não sei exatamente o que há com ele, sabe, eu só estou estranhando o modo dele agir comigo" Marcelo ainda me olhava com cara de quem não está entendendo nada que saía da minha boca.

Talvez fosse melhor deixar pra lá mesmo, afinal, não deve ser nada demais.

"Acho que você não quer falar sobre isso" Ele comentou e eu concordei "Tudo bem, vamos subir? Todos já devem estar muito bem alojados e no vento fresco de um ar-condicionado e nós dois estamos aqui ainda, fedendo a suor"

Ele fez cara de nojinho e eu sorri baixinho. Me levantei devagar e após reunir todas as minhas coisas, que se resumiam em uma mochila da minha marca e uma pequena nécessaire da minha marca também, me retirei do ônibus para sairmos dali.

"Que tal jogarmos um vídeo-game quando chegarmos? To precisando esfriar a cabeça" Comentei enquanto nos aproximávamos do elevador.

"Beleza, mas preciso checar com o pessoal primeiro, se eles não forem sair eu bato no seu quarto mais tarde, fechado?" Marcelo disse enquanto discava no pequeno teclado do elevador o número do seu andar.

Havíamos dividido o pessoal em dois andares, o quinto e o sexto do hotel inteiramente para os jogadores, como Marcelo e eu, e toda a nossa equipe. O andar onde Marcelo ficaria era o sexto, acima do meu, que seria o quinto. Os andares foram divididos de acordo com as idades, os mais "experientes" ficariam juntos no sexto e os mais novos, como Gabriel, Philippe e eu, ficamos com o quinto.

Despedi-me de Marcelo com um high five e um abraço de lado.

Rapidamente um sorriso brotou em meu rosto, quando o elevador parou no meu andar e eu sai dando de cara com um Gabriel apenas de cueca branca correndo e cantando "País do futebol" pelo corredor. E eu cheguei exatamente na parte da música quando falava o meu nome e ele apontou na minha direção, cantando.

"Gabriel vai se vestir rapaz, daqui a pouco o pessoal está descendo aqui e pode te pegar dess-" Ouvi a voz dele que saíra do quarto conversando, mas que rapidamente interrompeu sua fala ao me ver.

Philippe.

Eu não sabia exatamente como agir perto dele, não sabia o que pensar e muito menos se deveria tocar no assunto do que ocorrera no ônibus há alguns minutos. Eu não sabia se deveria lembrar ou esquecer daquilo, e isso estava pesando na minha mente.

"Está tudo bem Biel?" Perguntei ao mais novo, porém com os olhos fixos em Philippe.

"Sim, pai. Só o Coutinho que quer cortar o meu barato. Bate nele pra mim, Ney. Bate, bate." O garoto apontou para Philippe que gargalhou ao lado dele, extremamente tímido sem motivo aparente.

"Bato, pode deixar" Brinquei e Philippe me olhou incrédulo, enquanto Gabriel sorria ironicamente.

"Ah então é assim... Bom saber" Philippe murmurou, fingindo estar bravo.

"Desculpa, mas o Biel é o nosso pequeno rapaz, Phil, não pode tratar ele assim" Falei e recebi um abraço apertado do Gabriel, que supostamente achou fofo tudo que eu havia dito.

Em meio ao abraço eu aproveitei para analisar Philippe, o mesmo que abaixou a cabeça olhando para seus pés.

"Tá na hora de subir pro céu, Jesus" Philippe disse sério e o mais novo riu enquanto nos separavamos.

"Tudo bem, princesas, eu preciso mesmo de um bom banho agora!" Anunciou ele antes de entrar em uma das portas e a bater na nossa cara.

Entrou no quarto que era o de número 53, deixando eu e Philippe sozinhos no agonizante silêncio.

"Ahm, eu vou indo também..." Murmurei após alguns minutos, batendo as mãos no bolso da calça de moletom que estava vestido. Em busca do meu cartão-chave para abrir a porta da minha suíte.

Uma pequena dose de desespero invadiu meu sistema quando eu percebi que o cartão não estava em meus bolsos, onde eu jurava tê-lo deixado. Tudo que eu fiz foi olhar para Philippe com uma cara de quem fez merda.

"O que foi, Júnior?" Questionou e eu mordi o lábio inferior, nervoso.

"O cartão do meu quarto..." Comecei devagar.

"Não vai me dizer que perdeu" Falou ele como se fosse óbvio e eu cocei a nuca.

"Eu acho que deixei no estádio, merda"

"Merda mesmo" Concordou Philippe.

Eu não sabia bem se naquele momento aquilo era mesmo o certo a se fazer, mas eu estava ciente de que mesmo se eu avisasse a equipe de que havia perdido meu cartão, nada poderia ser feito a respeito, porque de fato todos estavam cansados o suficiente para voltar até o estádio por conta de um cartão que um idiota esqueceu.

Eu não tinha escolha, precisava mesmo fazer aquilo ou eu ficaria pro lado de fora a noite toda.

Droga, Neymar, pensei.

"Érr, Phil...?" Chamei baixo e ele me ouviu, se virando para mim novamente. "Será que eu posso ficar no seu quarto? Pelo menos por hoje, até alguém pegar o meu cartão de volta, eu prometo não bagunçar nada, você nem vai notar que estou lá... E eu durmo no chão, tanto faz... Por favor" Ele me olhou por alguns segundos antes de explodir em risadas. Eu o olhei sem entender.

"Está tudo bem, Neymar" Falou tranquilamente cruzando seus braços.

"Sério?" Perguntei incrédulo e ele assentiu.

"Vem logo, Júnior, deixa de besteira" Ele disse adentrando a porta onde o mesmo estava e eu o segui devagar. "Você é meu brother, cara..." Eu sorri timidamente.

"Devo... fechar?" Perguntei calmamente e ele assentiu, fuçando alguma coisa em seu celular. "Você pode me emprestar uma roupa para eu passar a noite? Porque sabe... minhas roupas ficaram presas dentro do quarto" Eu sorri desastrado.

"Claro" Philippe foi até um closet que tinha no canto do quarto e o abriu, pegando uma blusa de treinamento da nossa seleção, com o seu nome e número nas costas e me entregou.

Pegou também uma cueca branca e uma calça preta.

"Tem toalhas extras no banheiro, você pode usar qualquer uma" Eu assenti e retirei minha mochila, deixando-a junto as malas do meu amigo no chão.

"Neymar se arruma!" Ele alertou olhando de novo para o seu celular. "Os caras querem sair e eles exigem que os 'homens do jogo' compareçam" Falou apontando para mim e para ele.

"Vou... vou tomar banho. Ou você quer ir primeiro?" Eu o olhei e ele negou.

"Nah, pode ir, primeiro as damas" Brincou e eu o mandei ir se danar.

Entrei no banheiro por fim e após me despir, coloquei o marco do chuveiro no frio.
Precisava de um banho por conta do calor e para esfriar as ideias também.

Que dia cansativo, que dia.

(n/a): oiii gente, obrigada por todos os comentários no capítulo anterior, eu estou amando isso.
só pra esclarecer, quando o Gabriel chama o Neymar de "pai" é uma forma de amigos se chamarem, okay? okay.

obrigada por lerem até aqui. ❥

falling in love || neytinho [neymar+coutinho]Onde histórias criam vida. Descubra agora