Capítulo Cinco

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         - Oi George.

         - Enzo, oi. Ah, se você estiver procurando Sam ela não está lá em cima.

         - Ah, tudo bem então, eu volto outra hora.

         - Ela ficou em casa, passa por lá.

         - Posso mesmo?

         - Vai, aproveita e leva essa sacola, tem umas coisas que ela tinha me pedido.

         - Tudo bem então. – Se passaram pouca coisa a mais do que dois meses desde a noite em que Samantha teria me levado ao teto da loja. As coisas aconteciam muito rápido com Samantha, tão rápido que chegava a ser difícil acompanhar.

         Nos dias que Samantha não estava na loja eu ajudava George, e assim os dias iam passando. Aquele telhado era o lugar perfeito para dois idiotas que passavam boa parte da noite falando sobre o nada querendo entender tudo. Ali estudamos juntos para um exame de matemática que inclusive me fez levar dois socos no ombro. Tínhamos estudado por horas, os dois estavam exaustos, mas eu estava confiante de que seria fácil.

         Mas, na noite anterior ao exame, aquela garota passou a noite jogando videogame. Sim, ela virou a noite perdida em frente a uma tv um dia antes de um teste de matemática, até aí tudo bem. Se não fosse o fato de que ela quase dormiu na hora do exame, e mesmo assim conseguiu um B. Eu tinha tirado um A (motivo do soco) mas o que era aquela menina? Quem em sã consciência vira a noite um dia antes do exame? E quem na face da terra consegue fazer isso e ter a proeza de tirar um B? Que tipo de Alien Samantha era?

         Eu fui andando mesmo até a casa de Samantha, já tinha uns dias que eu não ia à loja de bicicleta então já estava me acostumando a passar por aquelas ruas andando mesmo. Eu não fazia ideia de onde era a casa de Samantha, mas George tinha me explicado tudo, passei uns quinze minutos caçando a casa até achar. Toquei a campainha e Samantha atendeu quase que instantaneamente.

         - Deixa eu adivinhar, George que te mandou não foi?

         - É. Fui incumbido da missão te trazer esta sacola.

         - Tá. Já pode falar do jeito normal. – E sorriu, aquele sorriso era a coisa que eu mais gostava de ver.

         - Tá bom, George te mandou isso aqui.

         - Ah, obrigada. Vem, entra.

         A casa era bem espaçosa, mas como qualquer outra casa em Amberfield não era nada absurdo. Por um momento estranhei todo aquele espaço só para duas pessoas, então lembrei que a mãe de Samantha morava por lá, mas tinha se mudado para Charlottesville por causa dos pais que precisavam da assistência dela.

         - Com licença.

         Ela abriu a sacola e deixou tudo em cima da mesa na cozinha, Samantha continuava usando o cabelo preso em um rabo de cavalo, estava com um uma blusa preta e uma calça de moletom, fazia muito frio naquela noite.

         - Aqui não tem refrigerante, prefere café ou chá?

         - Chá, sem dúvidas.

         - Ótima escolha. Aqui, mas é chá gelado.

         - Tudo bem. – Samantha pegou outro copo e sentou ao meu lado no sofá, que devia caber umas três pessoas sem dificuldade. As paredes da casa eram claras, um amarelo de tom muito fraco, mas, muito bonito.

         - Capuz, seus olhos parecem amêndoas, e seu cabelo é muito mais escuro que o meu, aliás, acho que já passou da hora de cortar o cabelo. – Verdade. – Mas enfim, gosta de filmes de terror?

         - Odeio.

         - Ótimo, devo ter uns cinco por aqui. – Então ela se aproximou da tv e mexeu em algumas caixas.

         - Qual a necessidade do sadismo? – Ela voltou, me deu um soco no ombro e voltou a procurar o que eu não fazia ideia do que era.

         - Pronto, vai ser esse aqui. – Quando ela me mostrou a capa e vi que o Pinhead estava nela... Tive uma vontade imensa de voltar pra casa. Samantha colocou o filme, e foi uma experiência no mínimo curiosa.

         Samantha que tinha colocado o filme, ela que tinha idealizado o plano perfeito para me ver fragilizado com as cenas horríveis do filme, mas não foi o que aconteceu. Ela praticamente protagonizou todas as cenas de susto que eu devia ter feito, e puxava a manga da minha camisa com tanta força que eu tinha que checar de cinco em cinco minutos se não estava rasgada. Eu sentia a mão dela tocar a minha algumas vezes já que as mangas da minha camisa eram relativamente longas.

         No último susto ela deixou cair o celular, eu automaticamente me abaixei para pegá-lo e ela fez o mesmo, quando nos levantamos estávamos de cara um para o outro, o espaço que tinha entre nós era praticamente nulo, estávamos tão próximos que eu conseguia sentir o cheiro do chá que nós dois tínhamos tomado antes do filme. Aqueles olhos verdes me olhando como dois faróis, e uma mecha que caia sobre eles, as sardas que tanto me chamavam a atenção, e a boca semiaberta me prendiam. Então senti que ela apertava a manga da minha camisa com força, muita força mesmo. O rosto deixava passar que estava assustada, mas não era só isso, tinha algo mais que eu não sabia o que era. Até que ela quebrou o silêncio.

         - Capuz? 

Até que a última luz apagueOnde histórias criam vida. Descubra agora