Capítulo Seis

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          "E eu não preciso de outro tipo de verde pra saber, que estou no lado certo com você." – John Mayer.

          Nós ficamos ali no sofá por um bom tempo, apenas nos encarando. Nenhum dos dois fazia ideia do que tinha que ser dito, se é que algo tinha que ser dito sendo bem sincero. Mas, durante todos os minutos que passamos nos encarando, em nenhum segundo Samantha soltou a manga da minha camisa.

          O meu celular tocou, e era George. Ele precisava da minha ajuda com algumas caixas que estavam guardadas e que ele precisava tirar para ganhar espaço na loja. Assim que eu puxei meu celular do bolso Samantha soltou a manga da minha camisa; eu expliquei a situação e saí da casa dela, então, ela decidiu falar alguma coisa antes que eu saísse.

          - Enzo... Eu posso te pedir uma coisa? – Sem conseguir me olhar direito.

          - Pode, eu acho.

          - Não conta a meu pai o que aconteceu, pode ser?

          - É, acho que posso fazer isso sim.

          - Obrigada.

          Fechei a porta e saí. Eu estava um absurdo de tão tenso, eu não achava que aquilo fosse acontecer e mesmo que tivesse que acontecer... Não poderia ter sido de outro jeito? Não tinha mais como esconder, eu tinha me apaixonado por Samantha sim, dois meses nos vendo todo dia, fazendo as mesmas coisas, rindo das mesmas idiotices me fez entende-la do jeito que eu devia, só que agora eu tinha um problema. Eu não conhecia "aquela" Samantha.

          O caminho da casa de Sam para a loja não era longo, mas deu para pensar em muita coisa. Mas a coisa mais "despensável" naquele instante era: "O que seria de nós dois agora?" quanto mais eu caminhava mais eu pensava no que eu não queria pensar. Cheguei, ajudei George com as caixas e voltei para casa.

          Dave estava dormindo jogado no sofá com o computador no colo, a tv ligada, e ele ainda estava usando os óculos de sempre.

          - Ei Dave, acorda. – Dei umas cutucadas.

          - Hã? Ah, oi Enzo.

          - Sai daí pai, vai para o quarto.

          - Eu vou, mas... aconteceu alguma coisa?

          - Não, nada.

          - Tem certeza?

          - Tenho. – Mas na verdade não.

          - Sei... enfim, se quiser conversar pode me chamar.

          - Tá certo.

          Dave foi para o quarto enquanto eu gastei um bom tempo na sala, já passava das vinte e duas quando cheguei em casa, e era normal ver Dave trabalhando no seu novo livro, então eu já sabia que eu o iria encontrar largado dormindo no meio do trabalho.

          Deitei no chão, e fiquei olhando para o teto. Na minha cabeça o filme do beijo passava uma vez atrás da outra, e quanto mais eu tentava esquecer, mais eu lembrava. Desde o gosto de hortelã do chá que nós dois dividimos até o rosto avermelhado de Samantha.

          Adormeci.

          [...]

          A semana inteira depois do beijo não foi como sempre. Samantha me via, sorria, me batia no ombro e conversava sobre o nada da mesma maneira que ela sempre falava. Mas ela não estava comigo quando a noite chegava, ela quase nunca estava na loja com George pela noite, e sempre evitava ficar a sós comigo.

          - Vocês brigaram?

          - Oi? Não, não brigamos não.

          - Não parece.

          - O senhor acha isso mesmo?

          - Enzo, eu conheço aquela menina há dezessete anos, eu sei muito bem quando alguma coisa machuca ela, e tenho total certeza que ela não está bem. Posso fazer um pedido?

          - Claro.

          - Reatem logo por favor, esse clima é infernal.

          - Hã? Reatar?

          - É. O namoro de vocês, reatem logo.

         - Mas nós não estamos...

         - Vai logo atrás dela, ela veio hoje e ficou lá em cima olhando para o nada quase o tempo todo. Vai logo.

          Meu rosto corou e ficou tão quente que parecia que eu estava com febre. Ir atrás de Samantha? Acho que não devia, e com certeza ela iria me evitar.

          - Toma isso aqui, diz que eu te mandei pra levar. – Uma lata de refrigerante. – Boa sorte.

          - É, vou precisar... Com certeza vou precisar. - Quando eu subi ela estava de pé. Olhando o nada de verdade. E estava muito concentrada.

          - Ei, toma, George mandou. – Encostei a lata gelada no pescoço dela.

          - Capuz! Isso tá muito gelado idiota! – Eu tive que sorrir, eu estava feliz por ver Samantha falar comigo como sempre.

         - Parece masoquismo, mas eu senti falta de te ver falando assim.

         - Cara, você é muito estranho.

         - É, talvez eu seja. Mas... o que aconteceu hein?

         - Nada.

         - Nada mesmo? Tem certeza?

         - Absoluta.

         - Sabe... Sobre o beijo...

          - Capuz, esqueça isso tá?

          - Hã? Como?

          - Só esqueça. – Aquilo ardeu em mim, como assim esquecer? Não era tão fácil assim.

          - Não, não dá pra apenas esquecer isso Samantha. Não dá pra esquecer uma coisa que não me deixou dormir. Não dá pra esquecer uma menina na qual eu penso sempre, não dá pra esquecer esses olhos que ficam zanzando na minha mente toda noite antes de dormir, não dá pra esquecer tua voz, não dá pra esquecer teu toque, não dá e não quero.

          Então ela decidiu me olhar.

          - E o que você quer de mim então?

          - Que você não me peça pra te esquecer. - Não consegui me segurar, abracei Samantha e fiquei alguns minutos ali, parado com ela em meus braços. Até que nos beijamos. Ela me olhou e sorriu.

          - E o que é isso? Estamos namorando?

          - Bem... É o que o seu pai diz.

          - É, estamos namorando então. – E sorriu.

          Estava frio, eu e Samantha dividimos o mesmo casaco, enquanto descíamos depois de finalmente termos nos entendido. 

Até que a última luz apagueOnde histórias criam vida. Descubra agora