O frio em Amberfield era algo notório a qualquer pessoa, e nós não tínhamos como ignorá-lo naquele momento em que estávamos em cima do telhado.
- Vamos, estou sentindo que vou congelar a qualquer momento. - Disse George afastando-se de nós dois.
- Já estamos descendo. - Disse Sam, acompanhando os passos do pai.
Éramos amigos, namorados, e tínhamos uma viagem para planejar. "Se a vida não quisesse pregar-nos peças, esse de fato seria o melhor momento da minha existência", foi o que pensei naquele momento. E de fato, aquele era o melhor momento para mim, me despedi de Sam e George, e tomei meu caminho para casa.
Eu tinha uma sequência de fatos para assimilar antes de dormir, e eu sentia que quanto antes parasse para assimilar os fatos, mais eu saborearia a maravilha que é de fato, estar apaixonado. Assim que cheguei em casa, me deparei com as luzes apagadas, apenas uma luminária baixa, acesa no quarto do meu pai. Mesmo fraca, a luminária irradiava luz o suficiente para iluminar discretamente a escada. Pela forma em que a casa estava, eu já desconfiava de qual mal perturbava bem-estar do meu pai.
Me aproximei com calma, e devagar. Seria importante ter essa investida em mente, dada a situação na qual Dave estava. Dei duas batidas fracas na porta do quarto, e soltei algumas poucas palavras.
- Pai, já tomou o remédio?
- Hã? Ah, oi Enzo. Já chegou. Tomei tem pouco tempo, essa enxaqueca não me dá trégua.
- É, eu sei. Efeitos colaterais de trabalhar usando tanto a cabeça.
- Pois é, mas no final das contas precisamos fazer alguns sacrifícios. Mas enfim, como foi teu dia?
- Foi... Muito bom. - Falei enquanto sorri levemente e senti meu rosto ruborizar aos poucos.
- Te conheço o suficiente para saber que tem algo por trás desse sorriso, mas guarde isso para me contar com calma, minha enxaqueca só piora. Vou tentar dormir um pouco, talvez isso passe.
- Certo. Tenta descansar mesmo, suas dores de cabeça são terríveis e eu sei muito bem disso. - Fechei a porta com cuidado, e fui para o meu quarto.
Quando entrei no quarto, tropecei em uma caixa que estava disposta na entrada. Eu não lembrava daquela caixa naquele lugar, mas dado o estado da garagem mesmo depois do tempo em que nos mudamos, não tenho dúvidas de que a caixa poderia ter vindo de lá. Talvez ela estivesse em algum outro cômodo, e meu pai tenha trazido-a ao meu quarto. Acendi a luz do quarto, e abri a caixa com cuidado, me atentando para não danificar nada que estivesse lá dentro.
A primeira coisa que vi, foi minha camisa do meu antigo time de basquete da escola. A camisa tinha um número 67 bem grande nas costas, precedido de meu sobrenome, "Mitchell". Eu sempre achei que essa combinação tinha seu charme. O uniforme era vermelho, com alguns poucos detalhes em branco, e azul bem escuro. Lembrava bastante o uniforme do Toronto Raptors, que eu particularmente sempre fui muito fã. Dentro da caixa estavam mais algumas coisas que faziam menção à minha vida no colégio, alguns cadernos, umas poucas cifras escritas à mão de algumas músicas que eu gostava, e tantas outras coisas assim.
No final da caixa, vi uma fita larga, amarela e azul, dessas fitas que são utilizadas para medalhas em premiações. Meus olhos brilhavam de emoção ao ver aquela fita, eu já sabia o que era só de olhá-la, e poder vê-la me trouxe várias memórias, boas diga-se de passagem. No que se diz respeito à vida na escolha, as melhores que eu poderia ter. E isso já me deixava profundamente feliz, aquela fita carregava uma medalha, a primeira e única medalha que conquistei enquanto jogador de basquete naquele pequeno time. Ganha em um torneio promovido por várias escolas diferentes.
Essas pequenas coisas, me fazem lembrar de como é bom poder criar memórias, e como é prazeroso poder revisitá-las independente do tempo, não precisei de muita coisa para acessar essas, que seriam memórias tão bem quistas para mim. Poder vivenciar esses momentos várias e várias vezes no mar dos pensamentos, em que gostamos de nos inundar, é um privilégio dado somente a nós.
Enquanto eu admirava a medalha com carinho, e afinco, passei a pensar nos últimos acontecimentos, e dentro de mim, criei uma certeza forte e mais presente do que qualquer outra coisa; preciso de fato, criar milhares e milhares de memórias ao lado de Samantha.
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Até que a última luz apague
RomansQuantas estrelas existem dentro de você? Acho que você nunca parou para pensar nisso não é? Pois bem, o ser humano é um conglomerado de estrelas que estão sempre dispostas a brilhar e brilhar de forma quase que infinita se assim lhe for permitido. ...