Capítulo 1

254 14 1
                                    


Indie Gerard

Despeço-me da doutora Claire com um abraço apertado não sabendo mais como lhe retribuir tudo o que, até hoje, fez por mim. Os muitos obrigadas que saíam da minha boca não chegavam para lhe agradecer o quanto mudou a minha vida. Durante este longo ano, Claire era a única que me compreendia e não achava totalmente absurda a ideia de mudar a minha vida completamente em busca de paz. Foram longos e duros estes últimos meses, mas, finalmente, não havia pedaço que restasse de ansiedade e depressão dentro de mim.

Se há dois anos atrás me dissessem que a cura para a minha ansiedade estava na hipnoterapia eu riria na cara da pessoa e perguntava calmamente se estava a brincar comigo. Foi isso que pensei quando Jules, a minha vizinha, me falara nessa opção. Mas, a verdade, é que as coisas pioravam a cada dia que passava e eu já mal conseguia sair de casa sem ter ataques de pânico. O emprego que tinha na altura – que não era grande coisa, mas pagavam bem – foi-se num piscar de olhos quando tive de meter baixa médica devido à situação cada vez mais constrangedora. Eu deixei de viver a minha vida para viver a ansiedade que, na altura, era a minha companheira – não queiram destes companheiros. A hipótese que Jules me dera tinha-me ficado na cabeça, por algum motivo que eu não percebia. Talvez tivesse sido o desespero, quem sabe. Sei que estava disposta a correr Ceca e Meca para curar a estúpida da minha doença.

Lembro-me da primeira consulta como se fosse ontem. Eu estava ridícula de tão assustada. Eu não sabia o que iriam fazer comigo, tudo o que sabia e tinha visto sobre hipnose até ali tinha sido muito mau. Mas, depois da primeira consulta, os resultados foram sentidos a olhos vistos. Eu não queria crer no que estava a acontecer e foi aí que aquela luzinha ao fundo do túnel decidiu aparecer.

Hoje aqui estava eu, sem ter um único ataque de pânico há mais de sete meses e completamente capaz de controlar a minha malvada companheira – ansiedade.

A doutora acompanhou-me até à sala de espera da clínica e aproveitei, mais uma vez, para lhe agradecer o seu grande feito.

"Obrigada Doutora! Estou-lhe muito grata por tudo o que fez por mim." Era impossível não sorrir de orelha a orelha.

"Eu é que estou muito feliz por finalmente acreditar em si e ser superior ao que lhe faz mal!" Diz amavelmente enquanto me lança um sorriso aconchegante. "Adeus Indie, foi um prazer trabalhar consigo." Salto num abraço apertado – sim, mais um – e tento conter as lágrimas.

Assim que a doutora desaparece pelo imenso corredor, olho à minha volta enquanto espero pela rececionista que estava na sua pausa para lanchar.

Lá estava ele. Cabeça baixa enquanto encarava o chão. Já o tinha visto algumas vezes por aqui e era sempre assim. Ele obviamente devia estar com algum problema e o meu coração quase se aperta por não poder ajudar. Hoje, ao contrário das outras vezes, os seus olhos caiem nos meus. A sua pele estava tão pálida que eu poderia dizer que ele estava doente, os seus olhos que podiam ser o seu símbolo de esperança, estavam num verde morto. Imediatamente por baixo da sua linha de água era visível as suas enormes olheiras roxas. Ele estava lastimável. Pensei na hipótese de dizer algo, esta minha vontade de ajudar era mais forte do que eu, mas a rececionista finalmente chegou. De qualquer forma, ele não parecia interessado na minha ajuda. Paguei a quantia que tinha de pagar e, sinceramente, estava feliz por ser a última. Despedi-me da rececionista e caminhei até à porta de saída com os olhos dele em mim.

O vento frio bate-me na cara fazendo-me arrepiar, puxo o cachecol de forma a abrigar-me os lábios e fecho o casaco que me chega quase ao meio das pernas. Esta minha adoração por saias e vestidos tinha os seus contras e, um deles, era sem dúvida o frio. O meu estômago ronca alto, já tinham passado umas quantas horas desde que tomara o pequeno almoço. Ao chegar à Piazza fico demasiado feliz ao ver as várias bancas cheias de doces e iguarias. As quintas-feiras em Covent Garden significam alegria e festa. As ruas enchem-se de pessoas, são imensas as bancas de doces e salgados e os cafés lotam. Ter escolhido Covent Garden para viver era, agora, uma das decisões mais felizes que tomara.

Hipnose | harry stylesWhere stories live. Discover now