Capítulo 11

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Indie Gerard

Aguardo um pouco ansiosa que as treze horas cheguem. O meu estômago pede por comida. Observo a chuva que cai ferozmente lá fora, gotas grossas batem no vidro da janela. Este inverno parece não acabar. O quente do escritório faz as minhas bochechas ferverem, aposto até que estão rosadas, bebo mais um pouco do meu chá enquanto procuro inspiração. Os meus olhos caem no rapaz na pequena mesa em frente à minha secretária. O seu olhar fixo no seu computador portátil, um verde inexplicável e completamente complexo. O seu lábio inferior esmagado pelos seus dentes brancos e perfeitos e os seus caracóis a caírem levemente pela sua testa. Ele é bonito como um anjo, pena que ele seja um anjo negro. Ele ao menos parece conseguir trabalhar, ao contrário de mim. 

O almoço de ontem deixou-me num rodopio de pensamentos, eu sempre pensei demais nos assuntos. A maneira como Harry dominou tão facilmente o meu corpo deixa-me assustada, a forma como o meu organismo reage às suas simples palavras é uma coisa do demónio para mim. A verdade é que a forma misteriosa como ele age faz-me querer desvendá-lo. Sempre fez. Quando o via sentado na sala de espera da clínica, ele sempre despertou um clique dentro de mim. Os seus olhos cansados parecem agora um pouco mais leves, no entanto ele continua aquém da realidade. 

O porquê dele estar naquela clínica ainda é desconhecido para mim, calculo que tenha a ver com a morte do seu pai, mas não consigo identificar mais nada por enquanto. 

Recosto-me na cadeira e deixo escapar um suspiro de tédio. Os seus olhos demoram nano segundos para estarem nos meus. 

Ele sorri ligeiramente e, de alguma forma, sinto-me incomodada com a profundidade do seu olhar. 

"Queres ir almoçar?" Ele questiona pacificamente, a sua voz rouca ecoa nos meus ouvidos. 

Vejo o meu ritmo cardíaco a aumentar subitamente e as minhas bochechas a ferver - a sorte é já se encontram rosadas. Ele acabou de me convidar para ir almoçar? 

"Sim!" Respondo estupidamente entusiasmada. "Estou a morrer de fome, na verdade." Admito. 

Ele ri e abana a sua cabeça. "És adorável!" Diz enquanto se levanta. "Vou só buscar o meu casaco ao meu escritório, espero por ti na receção." Informa enquanto sai do meu escritório. 

Um reboliço nasce no meu ventre e sinto-me ridícula por estar tão envolvida com este ser sem sequer o estar. A nossa relação é contraditória, posso dizer que o odeio num momento, mas no a seguir até o consigo tolerar e aproveitar a sua companhia. Ele claramente tem um problema, mas eu também tenho os meus. Quer dizer, quem não tem? Ele nem precisou de nada para que o meu corpo o quisesse. Sinto-me de novo na adolescência, eu sei lá, aquele amor voraz que nem sequer é amor é apenas atração? Eu sei que não o amo, claramente não tive tempo para o fazer, conheço-o há pouco mais de um mês, mas também não posso negar que ele me leva às nuvens só sendo ele. Embora o meu corpo o queira, a minha cabeça reme-te para a realidade, fazendo-me não querer avançar com este novo sentimento.

Visto o meu casaco comprido e coloco a mala ao ombro. Quando chego à receção, Harry já lá está. Ele sorri ao ver-me e eu inconscientemente correspondo. 

"Vamos?" Ele pergunta animando. Limito-me a assentir com a cabeça. 

Harry abre a pesada porta envidraçada da entrada e logo uma corrente de ar gélido se faz sentir. Um arrepio corro-me cada centímetro do corpo e o meu sorriso desfaz-se ao ver o rapaz à minha frente. 

Ele está perfeitamente elegante nas suas roupas casuais, os seus olhos brilhantes e um sorriso adorna a sua face. Harry para ao vê-lo, a sua expressão muda para pouco amigável e eu pergunto-me se eles não eram amigos antes. 

"Indie." Dylan cumprimenta-me. 

"Oi." Tento ser o mais simpática possível e forço um sorriso. "O que estás aqui a fazer?"

"Pensei que pudéssemos ir almoçar?" Ele meio que sugere. 

Rodo a minha cabeça para poder encarar o filho da minha patroa, ele não parece muito feliz. Ele suspira claramente chateado e leva as suas mãos aos bolsos do seu casaco, bocejando de seguida. Volto a olhar para Dylan, o seu olhar expectante. Sinto-me entre a espada e a parede e a única solução parece-me convidar Dylan para se juntar a nós, mas Harry interrompe os meus pensamentos quando fala pouco feliz. 

"Na verdade, ela ia almoçar comigo." O seu olhar é fúria pura, a sua respiração pesada e a sua expressão é, acima de tudo, ameaçadora. 

"Oh." Ele profere desapontado. "Podemos sempre jantar logo?" Ele sugere novamente. 

"Claro." Sorrio, aceitando o seu convite. 

Harry apressa-se a encarar-me, a sua expressão é neutra. Os seus olhos sem brilho e os seus braços cruzados sobre o peito. 

"Ótimo, ótimo." Ele ironiza. "Será que agora podemos ir?" Diz encarando-me. "Estou com fome." O seu tom frio, congela-me. 

"Uh, claro." Murmuro. "Então até logo." Despeço-me de Dylan o melhor que consigo. 

Vejo uma certa tristeza no seu rosto à medida que me afasto. Corro para conseguir acompanhar o passo apressado de Harry. 

-

Passo mais uma vez os olhos pelo menu, não sabendo o que irei escolher. Harry está frio, distante e estupidamente calado. Não proferiu uma única palavra desde o encontro com Dylan. Pergunto porque me convidou ele para vir almoçar se o que pretende é fechar-se no seu mundo. Sinto-me estupida por ainda ter espectativas em relação a ser à minha frente. Ele já me provou ser inconstante, num dia está tudo bem e no seguinte já tudo é tempestade. Ele próprio é uma tempestade. 

Os seus olhos estão postos na lista, ele fecha-a e eu atrevo-me a falar. 

"Não precisavas de ser tão rude com o Dylan."

Ele revira os olhos e poisa a lista na mesa. 

"Pensava que vocês eram amigos." Arrisco em dizer. 

"Pensaste mal." O seu tom é cortante. 

"O Harry idiota voltou!" Finjo estar animada. 

Os seus olhos nos meus, ele suspira. 

"Irritas-me."

"Irritas-te com pouco." Chuto. 

A empregada interrompe-nos, fazemos os nossos pedidos. Opto por lasanha, esperando que ela esteja boa o suficiente para satisfazer os meus desejos por gordices. Harry escolhe uma pasta de camarão. Assim que a empregada abandona a nossa mesa, Harry volta a focar-se em mim. Deteto algo diferente no seu olhar, algo demasiado complexo para que eu consiga decifrar. 

"É incrível como mesmo assim vais sair com ele." Ele diz calmamente.

"É incrível como não é da tua conta." Cruzo os meus braços ao peito irritada. 

"Estás interessada nele!" Ele ergue uma sobrancelha, nojo nas suas feições. 

"E se estiver?" Cuspo.

"Tu estás realmente desesperada." Uma gargalhada escapa-se-lhe por entre os lábios. "Pude comprovar isso ontem."

Os meus olhos estreitam em tristeza, tento controlar a minha mão para não embater na sua cara. Se bem que ele merece, merece isso e muito pior. Idiota. 

Levanto-me arreliada, não profiro uma única palavra. Volto a vestir o meu casaco e preparo-me para abandonar o restaurante acolhedor. Custa desperdiçar uma lasanha, mas custa ainda mais desperdiçar o meu tempo com este imbecil. 

Quando finalmente arrasto a cadeira para o seu devido lugar, posso ver a sua expressão confusa. A sua boca aberta em choque. 

"Eu estava a brincar..." Tenta desculpar-se. 

"Brinca com a tua pilinha, não com pessoas."


Hipnose | harry stylesWhere stories live. Discover now