Capítulo 2

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Harry Styles

Ainda não tinha percebido se o que aconteceu esta manhã era realmente verdade ou se era apenas um sonho dos muitos que tenho e me impedem de dormir. Já não a via quase há uma semana, a sua falta intrigava-me de certa forma, mas a sua presença não me fazia mais forte. Quando entrei no escritório jamais me tinha ocorrido encontra-la lá. Na minha cabeça havia um mar de possibilidades, eu até já tinha imaginado encontra-la num café, sei lá, mas ali, no escritório da minha mãe, nunca na vida.

Os seus vivos olhos verdes caíram nos meus e eu posso jurar que senti um arrepio ao longo da espinha. Os seus lábios estavam levemente gretados do frio e as suas pequenas sardas eram bem visíveis. Não sei se era a sua cor natural, mas o seu cabelo médio castanho caramelo dava-me vontade de lhe mexer. Ela parecia perplexa ao ver-me, não mais do que eu certamente, mas, como sempre, um sorriso adornou-lhe a face. Não sei se ela tinha noção, mas as suas bochechas ficavam adoráveis quando sorria.

Eu, corajoso como sempre, peço desculpa e volto a fechar a porta. O corredor parecia-me agora mais escuro que nunca, encosto-me à parede e respiro fundo, tentando controlar-me. Ela era a vida e eu só queria ser como ela.

Volto à realidade quando oiço Yolanda chamar-me para o almoço. Sentia-me vazio aqui. Aqui e em todo o lado. O meu pai tinha levado a alma desta casa consigo. Sento-me na mesa e olho para o seu lugar, tento fazê-lo presente o máximo que consigo. A Doutora Claire tinha-me falado em não o fazer, pois assim nunca iria conseguir fazer o seu luto, mas eu também não queria. As memórias são tudo o que tenho e são a única forma de o manter vivo.

Yolanda serve a sopa que, ao contrário do que acham, eu sei que contem a minha medicação triturada. Recuso-me a comer.

Subo escadas acima e deito-me na cama.

**

"Como te sentes hoje?" Pergunta a minha progenitora enquanto fecha a porta do quarto.

"Uma merda." Digo simplesmente.

Não estava para grandes conversas, tudo bem que a minha mãe fazia um enorme esforço para me ver feliz, mas começava a chatear sempre o mesmo assunto. O meu pai percebia-me muito melhor e não havia maneira de me sentir cansado da sua presença.

"Tens consulta amanhã?" Senta-se na ponta da cama, tapando a série que estava a dar.

Olho para ela descontente, o assunto não muda. A minha vida não muda. Sempre o mesmo todos os dias, sempre a mesma pressão, sempre o mesmo drama. Será que não posso simplesmente viver sem que todos à minha volta façam da minha vida um falhanço?

O meu revirar de olhos deve ter alcançado os seus objetivos, pois a minha progenitora não continuou com o assunto. Ela suspira e esfrega as mãos pelas suas calças beijes.

"Fiz uma nova contratação hoje!" Diz extremamente excitada, até demais, confesso.

"Ah, boa." Limito-me a responder sem interesse.

A empresa não era de todo uma prioridade neste momento, eu não tinha paciência para os pedidos absurdos dos clientes. Tudo o que tivesse a ver com o meu local de trabalho, agora, pouco me dizia.

"Ela é francesa, parece-me super dedicada..." A minha progenitora prossegue entusiasmadamente.

E, sem mais nem menos, ela passou-me pela cabeça. Só podia ser ela a nova contratação da minha mãe. Uma ponta de esperança corre em mim ao fazer a ligação entre os factos. O sotaque dela era claramente carregado e tinha um toque francês, os "r"s eram extremamente estranhos, mas eu posso jurar que até se tornavam amáveis. A nova contratação da minha mãe era francesa e ela tinha estado hoje no escritório. As peças do puzzle começavam a ligar-se – ou espero eu que sim.

"Quando começa?"

A mulher à minha frente estava claramente surpreendida com o meu súbito interesse no assunto e tenho de admitir que eu também estava.

"Amanhã! Vou metê-la a trabalhar no projeto da Hanns, acho que ela tem potencial para salvar a empresa..." Declara.

Eu já tinha ouvido tudo o que queria e, pela primeira vez em meses, eu ia fazer alguma coisa.

Hipnose | harry stylesWhere stories live. Discover now