Uma Tarde e Tanto

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Os passos pesados do par de botas de tom caramelo demonstravam a inquietação. Por mais que Mika andasse de maneira relativamente devagar no piso branco daquele enorme shopping center, estava animado por dentro. Era tarde de domingo, uma normal dentre tantas. E ele notava isso ao notar o movimento dos arredores enquanto caminhava em direção à praça de alimentação, e ver famílias e jovens por todos os lados.

Foi nesse shopping que ele iria encontrar Eduardo. Os dois combinaram pelo celular de se verem naquele dia. Estava otimista naquele dia, e sentia que tudo ocorreria bem. Vestia uma camiseta azul escuro, além de calça jeans. Quando chegou à praça de alimentação. virou a cabeça para os lados procurando por dentre as várias mesas que ali estavam. E o lugar estava cheio, as conversas tomavam conta. Não demorou muito para encontrar o garoto.

Em uma mesa próxima à uma floreira estava Dudu. Sentado, mexendo ao celular. Mika deu um fraco sorriso em saber que ele realmente estava lá honrando o compromisso marcado. Andou por entre a mesa, passou por entre as famílias e amigos que conversavam, comiam e riam. Até chegar ao parceiro.

Dudu levantou e houve um curto cumprimento. Os dois se sentaram à mesa, um de frente para o outro. O garoto loiro vestia uma camiseta cinza com gola em "V" que realçava seu corpo enxuto e com músculos definidos. Com certeza estava fazendo alguma coisa para cuidar de seu corpo, mesmo já sendo um rapaz muito bonito. Como ele conseguia alegando não ter tempo para nada, não dava para saber.

— Quase achei que ia desistir de se encontrar comigo. — Mika riu fraco.

— Tá brincando? Tô precisando mesmo de um descanso.

— Somos dois. O que fode é ter que bolar um monte de coisas ao mesmo tempo na agência e o bloqueio criativo não deixa.

— Eu que o diga. Tendo trabalho e curso pra cuidar, e pensar nos dois ao mesmo tempo.

— É, eu ia te perguntar. Como tá indo o curso?

— Tá tudo indo bem. É que agora que eu já estou faz um tempo, as aulas tem ficado mais difíceis.

— Como assim?

— É que nas primeiras aulas, é tudo uma brincadeira. A gente se solta, faz careta e tudo o mais. — Riu fraco — Agora os exercícios tão puxados e exigem mais da gente. É tanto termo técnico que eu fico confuso. Mas a pior parte é a da improvisação. Eu não sei como fazer isso.

— Como não sabe? Não é tão difícil treinar improviso, eu acho.

— Até parece. Esse negócio é muito doido. Ter que intepretar um personagem e pensar como ele. Pensar rápido. É complicado.

— Não é pra tanto. É questão de prática, e de não ficar nervoso. Pode ver.

— Você é bom no improviso?

— Olha, não sou nenhum ícone. Mas sei me virar sozinho. Eu trabalho com propaganda, tenho que botar a mente pra funcionar.

— Ah sim. Mas atualmente eu tô pensando em outra coisa.

— No que?

— É que tem um pessoal no curso planejando criar monólogos. Você sabe, pra apresentar lá.

— Nossa. Que legal.

— Eu queria fazer também. Mas eu não tenho a menor ideia por onde começar.

— Bom, se você quiser... eu posso te ajudar com isso?

— Sério? Você entende disso? De fazer texto?

— Sou roteirista publicitário. Tenho a manha. — Riu fraco.

— Olha só, quem diria. — Riu fraco — Já escreveu comercial?

Amizade Com Algo a Mais 2Onde histórias criam vida. Descubra agora