Amizade Com Algo a Mais 2

A Pior Traição

Por mais que o trabalho tivesse feito ele se sentir melhor, a vontade de Mikael era dormir por uma semana inteira. Talvez duas ou três. Porque os dias que se seguiram pareciam ter passado em câmera ultra lenta. Ele agia em câmera lenta, só esperando o momento de descanso chegar e ele se jogar na cama para esquecer que o mundo existia.

Para seu consolo a sexta-feira havia chegado. Ou melhor, estava terminando. Já de noite, alguns colegas de trabalho da Agência KL se reuniram em um moderno e bonito bar em plena Avenida Paulista. Um lugar onde eles iam quase toda sexta, onde as lambadas azuladas e amarelas surgiam como pontos na decoração cujas paredes eram revestidas de madeira. E que um rock em volume baixo fazia o som ambiente.

Mas para Mika, aquele happy hour não estava nada feliz. Sentado em uma das mesas próximas ao balcão, ele olhava para o movimento a sua frente e permaneceu estático. Seu olhar estava fixo porém distante e indiferente. Estava sério, até demais. Por mais que conhecesse o bar e quisesse relaxar, nada ali o fazia se sentir melhor.

O único a notar, ou a se importar com o que via era Nick. Ele via o amigo mal e nada podia fazer para mudar. Ou melhor, ele sabia que poderia simplesmente dizer a verdade sobre tudo o que estava acontecendo. Mas ficava dividido entre contar e não contar, pois qualquer uma das opções seriam ruins do mesmo jeito. Restava apenas consolá-lo e se controlar para fazer nenhuma besteira.

— Sabe que não vale a pena ficar desse jeito, né? — Disse Nick.

— Se vale a pena ou não, não dá pra controlar.

— Querendo, dá sim. É chato ser chutado assim, mas você não deveria deixar ficar mal por causa dos outros. O Dudu não passa de um cuzão.

— Acho que você tem razão.

— Porque eu quero o seu bem, cara. Sinceramente, você tinha que levantar a cabeça e ligar o foda-se pra aquele cretino. Se ele terminou com você pelo celular é porque ele tá cagando pro que você sente.

— Pode ser. Mas não adianta. Tem uma coisa que ainda não sai da minha cabeça.

— O que?

— Por que? Por que ele fez isso? Foi tão de repente. O que pode ter acontecido?

— Talvez ele nunca tenha gostado de você.

— Então... mas a gente ficou junto. Parecíamos tão bem. Eu devo ter feito alguma coisa com ele, sei lá.

— Você não fez nada de errado. Para de achar que a culpa é sua, só vai se sentir pior.

— Não adianta Nick. Eu tô com ódio.

— Nossa. Ódio é uma palavra bem forte.

— É pra ser. Porque eu só fico tentando entender o que pode ter acontecido. Alguma coisa aconteceu, não aconteceu?

— É... é...

Nick ficou sem fala. Tinha medo de deixar escapar que viu seu ex-namorado beijando seu colega de apartamento. E do jeito que Mika estava com raiva, era uma ideia totalmente péssima se ele descobrisse daquele jeito. Mas também não podia omitir a verdade para seu colega de trabalho.

Para sua sorte, Mikael sequer percebeu algo errado quando Nick ficou sem saber como responder sua pergunta. Ele debruçou seus antebraços sobre a mesa e curvou suas costas para a frente. Seu semblante não estava mais tão sério. Mas demonstrava um visível cansaço.

— Por que você não bebe alguma coisa?

— Não tô com cabeça nem pra tomar água. Não desce.

— Calma, Mika. Não precisa exagerar.

— Eu sei. Eu sei. É que é sério, não tô com cabeça pra nada. Só tô aqui porque pra ver se eu relaxo de vez.