Lá Fora (Parte Dois)

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Saio correndo do escritório no corredor que se estende até a porta da entrada.Estou novamente do lado de fora, estou chorando, estou rindo, não sou doente, nunca fui.
Todas as emoções que tente controlar por anos desabam sobre mim (Esperança, Desespero, Expectativa, Arrependimento, Alegria, Raiva, Tristeza; )
Meu pai logo vem ao meu encontro.

-O que você está fazendo minha filha volte pra dentro já.

-Porque pai? Será que eu preciso mesmo voltar pra dentro?

Ele estende a mão na tentativa de me puxar, mas desvio dele.

-Não vou entrar não.

-Por favor implora ele-Não posso perder você também.

De repente ele se decompõe, se desfaz, desmorona de forma súbita e catastrófica. Ele esta arrasado e faz muito tempo que esta assim. Alma tinha razão ele nunca se recuperou. Entro com ele e nem sei o porque mas ele começa a falar e eu estou atenta a tudo que sai da sua boca.

-Logo depois que sua mãe morreu, você ficou muito doente. Não conseguia respirar, levei você as pressas para a emergência e tivemos que ficar três dias no hospital. Ninguém descobria o seu problema, disseram que provavelmente era uma alergia. Então me deram uma lista de coisas que deveriam ficar longe de você, mas eu sabia que não era só aquilo, eu sentia que precisava proteger você. Aqui fora no mundo qualquer coisa pode acontecer.

Eu deveria sentir pena dele mas na verdade eu não sinto isso e sim uma raiva muito grande.

-Eu não sou doente, nunca fui, o senhor é que é.

Saio do seu campo de visão e vou para meu quarto.
Pensamentos ficam rodando na minha cabeça. A garota cuja a vida inteira foi uma mentira.O universo que pode surgir num piscar de olhos pode desaparecer tão depressa quanto surgiu.

Quatro Dias Se Passarão...

Eu como, faço meus deveres, mas não falo com ele. Ele fica rondando meu quarto, parece que não entendeu ainda o que esta acontecendo.
Como eu tinha falado a Alma ia colher meu sangue para mandar pra um especialista na minha suposta doença. No dia seguinte ao dia que eu descobri a verdade ela fez isso e nesse momento estamos eu e ela na sala de espera do consultório esperando sermos chamadas para o resultado final.
Confesso que estou com medo do que ele vai me dizer.
Alguém chama meu nome e peço a Alma que fique me esperando do lado de fora. Preciso enfrentar isso sozinha.
Entro na sala e cumprimento o Dr que com um gesto pede que eu me sente em uma cadeira de frente pra ele.

-Seu caso, então examinei esses resultados inúmeras vezes para ter certeza absoluta e conclui que você não tem nada Senhorita Portilla.

Ele para e espera minha reação.

-Eu já sei.

-Alma sua enfermeira me passou todo o seu histórico médico. Sendo médico o seu pai deve saber que a IDCG é muito rara e tem diversos sintomas, você senhorita não apresenta nenhum, absolutamente nenhum dos indícios da doença, ele com certeza sabe disso.

-Porque eu fiquei doente então em Cancun?

-As pessoas ficam doente o tempo todo Anahí é normal.

-Mas meu coração parou.

-É verdade e como a outra médica que te atendeu lá disse foi uma miocardite. Basicamente você sofreu uma infecção viral que enfraqueceu seu coração.

Não tenho mais nada para perguntar.

-Bom obrigada Dr Chase.

Ele se levanta mas está mais agitado do que no início da consulta.

-Tem mais uma coisa que preciso dizer antes de você ir.

Volto a me sentar.

-Pelo modo como você foi criada não sabemos em que estado se encontra seu sistema imunológico.

-Como assim?

-Achamos que ele é como de um bebê.

-De um bebê?

-Seu sistema imunológico não foi exposto a vírus e bactérias sendo assim não teve como aprender a combater esse problemas, não teve como se fortalecer.

-Então eu continuo doente?

-Ainda não tenho uma resposta concreta sobre seu caso, ele é inédito. Pode ser que você adoeça com mais facilidade do que as pessoas com sistema imunológico saudável ou pode ser que caso adoeça fique em estado grave.

-E como vou saber Dr?

-Não tem como saber por isso recomendo cautela. Nada de se expor de uma vez ao mundo, evite multidões, comidas diferentes, atividades físicas, dentre outras coisas que eu vou tr passar.

-Ok Dr e obrigada mais uma vez.

Dito isto saio da sala e volto para casa com Alma.

Passo os próximos dias tentando entender tudo que aconteceu e o que levou meu pai a fazer isso.Segundo o Dr Chase ele precisa fazer terapia e isso pode levar tempo até que ele tenha condições para me contar tudo que aconteceu. Acredito que tenha sofrido uma espécie de surto depois da morte da mamãe.
Alma esta tentando me convencer a não sair de casa, não só por meu pai mas também pela minha saúde que ainda é uma incógnita.
Penso em Poncho todos os dias, queria mandar um email mas muito tempo já se passou. Ele deve ter seguido sua vida, deve ter encontrado alguém.

Uma semana depois da descoberta.

Duas semanas depois da descoberta.

Três semanas depois da descoberta.
Meu pai tenta entrar no meu quarto mas a porta está trancada desde o acontecido é assim que fico trancada só abro a porta pra a Alma e para a Roberta que agora vem todos os dias com sua mãe.
Escrevo vários emails para Poncho mas não tenho coragem de enviar nenhum.
O Dr Chase continua insistindo para eu ter cuidado.

Quatro semanas depois da descoberta.
Dou uma repaginada no meu quarto pintando as paredes cada uma de uma cor diferente.

Cinco semanas depois da descoberta.
Encomendo plantas de verdade para o jardim de inverno. Desativo os filtros de ar e abro as janelas. Compro peixes dourados e os batizo de Poncho soltando eles na fonte.

Seis semanas depois da descoberta.
O Dr Chase ainda acha que é cedo para eu me matricular em uma escola. Então os professores vem até mim.

Tudo Envolve Riscos(Concluída) ADP AYAOnde histórias criam vida. Descubra agora