IV: supernova.

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Capítulo IV: supernova.


No dia seguinte, eu acordei com uma leve dor de cabeça e uma confusão de pensamentos intensificando esse incômodo. Inúmeras considerações estavam embaralhadas em minha mente e eu não fazia ideia de como organizá-las, considerando o fato de que a quantidade crescia de forma constante — um pensamento puxava o outro e, por mais que todos eles estivessem interligados, nenhum deles parecia completar o outro.

Era segunda-feira e isso significava que, em algum momento do dia, eu teria que enfrentar Louis — ou não. Eu não sabia se ele me trataria da forma que me tratou no dia em que nos conhecemos, se ele permaneceria como esteve enquanto jantávamos no domingo ou se ele simplesmente se mostraria indiferente em relação ao que tinha acontecido na noite anterior.

Tudo havia corrido agradavelmente no jantar. A comida estava excelente, Louis havia se mostrado um bom conhecedor de vinhos, escolhendo um Peter Michael Au Paradis, nossa conversa fluiu naturalmente e nós nos conhecemos de uma maneira cortês e nada invasiva. A noite fora favorável, permitindo que eu descobrisse novos fatos sobre Louis e conhecesse as principais características de sua personalidade. Várias perguntas foram feitas durante o jantar e o caminho de volta para casa e eu senti que Louis foi embora sabendo muitas coisas sobre mim, da mesma forma que ele provavelmente sentiu que eu o conhecia muito melhor depois daquela noite.

Mas eu não o conhecia o suficiente para saber se ele ignoraria tudo o que tinha acontecido ou não.

Passei boa parte da noite afundando em uma curiosidade acentuada que desenvolvi no momento em Louis cantarolou aquele trecho musical em um sussurro discreto e suave. Eu sabia que não podia simplesmente perguntar a ele porque fazê-lo seria invasivo demais. Nossa intimidade não havia chegado em um nível alto o suficiente para ele me dizer se realmente havia alguém em uma cama de hospital sem chance de salvação.

Não vi Louis em momento algum no primeiro período do dia. Isso me deixou um pouco nervoso e eu passei as primeiras aulas inteiras de Física I cogitando a possibilidade de ele me evitar durante toda a semana. Eu havia gostado muito da companhia de Louis e não queria que aquilo fosse algo de apenas uma noite, gravada em nossas mentes como um borrão bagunçado e alcoolizado. A ideia de poder conversar com ele abertamente sobre qualquer coisa em qualquer momento era de extremo agrado.

No horário de intervalo, eu ainda não tinha encontrado Louis nenhuma vez sequer e, por isso, procurei uma mesa vazia e me sentei acompanhado apenas por meu livro. Minha leitura havia sido pausada no capítulo XV e eu estava curioso para saber o que acontecia posteriormente — além disso, isso seria uma ótima ferramenta para tirar Louis de minha mente, nem que fosse por apenas alguns minutos.

Não funcionou tão bem quanto eu imaginei, no fim das contas.

O parágrafo "Durante mais cinco minutos não falou nem afrouxou o abraço, e atrevo-me a dizer que aproveitou esse tempo para lhe dar mais beijos do que jamais lhe dera em toda a sua vida. No entanto, foi a minha patroa quem o beijou primeiro, e era evidente que enfrentar o olhar dela era para ele uma agonia. Desde o primeiro momento em que a viu, ficou convicto, tal como eu, de que não havia qualquer esperança de recuperação e de que ela estava condenada à morte." não me ajudou muito em minha tentativa desesperada de me distrair. A última frase fez com que o meu coração fisgasse de maneira extremamente dolorida e eu não pude deixar de me lembrar dos sussurros de Louis que diziam que ele não acreditou quando eles disseram que não havia como salvá-la. Eu queria saber quem era a pessoa na cama de hospital. Queria saber o que estava acontecendo. E queria saber se aquilo realmente estava acontecendo — ou se já havia acontecido, ou se estava prestes a acontecer.

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