VII: shooting star.

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Capítulo VII: estrela cadente.

O relógio preso em meu pulso e escondido pela manga da blusa preta que eu estava usando marcava exatamente dez horas da manhã quando eu parei na frente da porta do quarto de Louis e me encostei no batente, observando-o. Naquele momento, ele estava na frente do espelho, travando uma intensa batalha contra a gravata que estava tentando colocar. Seus dedos brigavam com cada parte do tecido em suas mãos e um palavrão baixinho escapava de seus lábios todas as vezes em que ele falhava ao tentar fazer um nó.

Desistindo, Louis jogou a gravata no chão e bufou alto. Suas mãos se apoiaram na pequena mesa abaixo de espelho e seu corpo se curvou, enquanto ele abaixava a cabeça.

Louis não moveu um músculo sequer quando eu entrei no quarto, com passos lentos e silenciosos, mas eu sabia que ele tinha percebido que eu estava ali. Antes de dizer qualquer coisa, eu peguei a gravata do chão e puxei sua cintura, virando-o de frente para mim.

Quando eu levantei o colarinho de sua camisa, Louis suspirou e me encarou fixamente. A íris de seus olhos estava mais clara do que o habitual e sua esclera estava avermelhada, entregando que ele tinha passado boa parte do tempo chorando.

Ignorando o nó que se formou em minha garganta quando eu vi o quão quebrado ele estava, eu me concentrei em apenas fazer o nó em sua gravata.

Passei a gravata em volta de seu pescoço e puxei a ponta mais larga, de modo que ela ficasse duas vezes mais baixa do que a ponta mais estreita. Passando a ponta larga por cima da ponta estreita, dei uma volta completa e, com a outra mão, segurei as duas pontas, onde elas se cruzavam. Passei novamente pela parte da frente e, depois, passei a ponta larga por dentro do colarinho. Virei a ponta para baixo, passando por dentro do nó e puxei a gravata para baixo, ajustando-o.

— Você está bem? — eu perguntei a Louis, abaixando seu colarinho e conferindo se todo o tecido da gravata em volta do pescoço havia ficado escondido.

Ele suspirou, sem deixar de me olhar.

— Não tanto quanto eu gostaria de estar.

Tudo ao nosso redor se resumia em tristeza e desconforto. Havia uma grande janela no quarto que nos permitia ver o quão escuro estava o tempo lá fora. As gotas de chuva atingiam o vidro constantemente e produziam um som que tornava tudo ainda mais melancólico. A atmosfera de todos os cômodos daquela casa estava pesada — e o restante da cidade parecia querer acompanhar.

Por mais que tentasse ser compreensivo, eu nunca seria capaz de entender o que Louis estava sentindo naquele momento. Eu estava morando longe de minha mãe há um pouco mais de dois meses e, a cada dia que passava, a saudade agulhava meu peito com mais intensidade. Entretanto, eu sabia que, no momento em que eu precisasse dela, eu podia ligar para ela ou simplesmente visitá-la, porque ela estaria no mesmo lugar em que estava quando eu a deixei.

Louis não tinha a mesma sorte. Para ele, as coisas não funcionariam dessa forma nunca mais. Ele não veria mais os olhos da própria mãe, não ouviria mais sua voz e não sentiria mais o calor de seu abraço. Quando alguém o incomodasse na universidade, ele não poderia ligar para ela e pedir um conselho. Quando a saudade apertasse, ele não pegaria o primeiro avião para a cidade natal para passar o fim de semana abraçado com ela. Quando o Natal chegasse, toda a família se reuniria para a ceia, mas a comida não seria mais a mesma dos anos anteriores e a mesa não estaria tão alegre como já esteve um dia. Tudo estaria diferente porque tudo muda e nada dura para sempre.

A vida é como areia que agarramos com as mãos: escapa por dentre os dedos e é levada pelo vento; foge do nosso controle, some do nosso campo de visão, mas nunca deixa de existir.

COSMOS [hes + lwt/ short-fic].Onde histórias criam vida. Descubra agora