2009,
São Luís, Ma
Não sei por qual motivo as pessoas mais caladas, introvertidas e tímidas sempre são as que mais despertam curiosidade nas outras pessoas, seja uma curiosidade do bem, seja uma do mal.
Talvez seja por causa do mistério em seus olhos, ou do grito sufocado que elas dão sem abrir a boca.
Talvez porque toda a sua quietude transtorna os que fazem barulho, os que gritam, os que se mostram, como quando se está em uma sala de profundo silêncio e mesmo nesse silêncio você ouve ruídos, e esses transtorna-nos, enlouquece-nos, pois sabemos que estamos sós.E foi assim comigo.
Durante uma parte da minha vida, todo esse meu silêncio e quietude causou muitas curiosidades, a do tipo do mal, eu acho.Parecia que quanto mais eu escondia-me dentro de mim mesmo, mais mal eu causava, mais transtornos aos outros eu causava, e eu queria entender o que eles entendiam de todo o meu ser calado. Eu representava ameaças? Que mal eu fiz? Eu sempre me perguntava isso quando alguém me acertava com alguma coisa.
E, então, eu passei a me odiar por causar ódio nas pessoas contra mim mesmo, ao mesmo tempo que eu nem aceitava e aceitava tudo isso acontecer comigo.
Como pessoas podem odiar outras sem conhecer a sua voz, sem conhecer o seu eu? Nunca entendi.
E, mesmo sem entender o porquê, fui odiado, às vezes utilizavam piadinhas para tentar amenizar, e eu ficava sem chão, sem saber o que fazer, constrangido por ser ridicularizado em meio público.
Fui crescendo e me revoltando, não contra os que me batiam na escola, ou com os que me ameaçavam se eu não emprestasse a minha atividade -feita por mim, apenas- mas contra mim mesmo.
Durante muito tempo, eu me considerei o culpado de todo o mal que faziam comigo, como se eu merecesse tudo aquilo, simplesmente por não entender de ser valente, por aceitar apanhar quando a força estava dentro de mim, por não pedir a ajuda de ninguém.
Mas eu tinha vergonha.
Tinha medo.
Ficava sem reação.Fui crescendo mais e pus na cabeça que as pessoas eram más, e são. E Somos.
Tem gente que tem medo de cobras, de leões, de outros bichos, e eu tinha medo de gente, de pessoas, pelo menos fui adquirindo tal medo. O medo de ser ridicularizado, de ser agredido, de não se sentir aceito, de olharem com olhos estranhos pra te novamente.Nesse ínterim, tinha dias que eu queria descontar em mim mesmo o ódio que eu atiçava nas pessoas contra mim.
Tinha dias que eu perguntava o porquê de eu existir, o porquê deles existirem.
O porquê de minha fraqueza.Fui, sem nem notar, me excluindo de tudo. E Quando dei por mim, até sair de casa dava medo. E passei a me esconder, não apenas de mim mesmo como sempre fiz, mas deles. E dele.
D-Ele!Somente eu sabia de tudo o que eu passava nos corredores daquela escola. Se outras pessoas sabiam, fingiam não ver. Melhor asssim, imagina a vergonha que eu sentiria ao ver alguém vendo aquelas agressões todas e depois olhando com piedade para mim, não suportaria.
Na verdade, não estava mais dando para suportar uma porção de coisas. Chegar em casa e pensar que teria aula no dia seguinte era o meu maior pesadelo. Não tinha motivação nenhuma.Eu já não suportava mais as dores físicas, que eram momentâneas. Eu já não suportava mais as dores na minha alma deixada pelas mesmas dores físicas, essas sim, doem até hoje.
É um sentimento de vergonha, de repulsa contra você mesmo. É como se todos fossem te julgar pelo o que você não fez, e isso era o que mais doia. Doia como se alguém estivesse cravando uma faca em ti, mas aos poucos, e quanto mais esse alguém visse o teu olhar de medo, de desespero, de vergonha, mas ele cravava a faca, mais fundo.Nesse mar de dores, física, moral, da alma, eu sempre acreditava que aquilo acabaria, por isso nunca deixei de ir para a escola. Todos os dias eu ia. Tinha vezes que, antes de sair de casa, vinha uma vontade muito forte de dizer as barbáries que acontecia comigo na escola para os meus pais, na esperança de que eles fariam algo, mas logo vinha a desesperança e o medo, e eu seguia rumo à porta, e à rua, e à escola, calado, como sempre fui.
Talvez se eu tivesse desistido, não tivesse conhecido ele.
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A Vingança de Rúbel
Lãng mạnO destino às vezes está de mal humor e nos faz escrever nossa história de uma maneira totalmente inesperada. Rúbel não esperava fazer o que fez quando conheceu Thiago no Ensino Médio. Thiago não esperava o desfecho de sua história quando conheceu R...