Os dias após a 'brotheragem'

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Depois daquele surreal fato, ficamos mais próximos. Não tocávamos no assunto. Mais porque não queríamos tocar e menos por vergonha. Não era ainda  natural para mim, muito menos para ele. 

Nos dias seguintes àquela tarde, viramos amigos. Uma amizade colorida. Passamos a andar juntos. Na sala de aula, ele começou a sentar na mesma fileira que eu, só que atrás de mim.

Ainda que muito pouco, soube alguns fatos a respeito de Thiago, ditos pelo próprio, em nossas conversas aleatórias.

Soube, por exemplo, que ele não era de São Luís-MA, mas de São Paulo, e que se mudou junto com os pais, por causa do trabalho deles. Por isso o sotaque.

Após aquela tarde, fizemos, em outras tardes, a mesma coisa mais umas três vezes, e cada vez mais estreitávamos a nossa relação. Após o ato, um silêncio tomava conta de nós dois.

No começo, o silêncio era natural para mim, não via necessidade de falar sobre aquilo com ele. Mas depois, eu queria mais. Mais do que simples masturbação.

O amor é coragem e imensidão, é oposto à  mesquinhagem.

Uma semana antes da nossa apresentação do seminário de Química, fomos a minha casa resolver os últimos detalhes da nossa apresentação. Acertamos algumas coisas e treinamos muito.

--É man, somos fodass!! Se a Profa. não der dez para gente, ela não entendeu o conceito.

--É mano, vai ser perfeita nossa apresentação!!

Eu sempre treinava bastante as minhas apresentações de seminário, a timidez me atrapalhava menos quando eu estava mais preparado.

A vida também é assim, quanto mais preparados estamos, mais batalhas vencemos. Preparação só não vale para o amor. Amar é incerto e não importa quantas vezes você amou alguém, você não vai saber o que fazer quando começar amar de novo alguém novo.

Ali no meu quarto, naquele dia, deitamos juntos na cama. Sem nenhuma intenção. Apenas nos jogamos lá e ficamos olhando para o teto, como aquelas cenas em filme, onde as pessoas deitam em um gramado ou chão qualquer a céu aberto, à noite, e ficam observando as estrelas.

Ali, a gente observava o vermelho das telhas de barro e não estrelas.

--Sabe, mano, cê é uma pessoa muito legal... Não sei como as pessoas daquela sala não falam com você, e não entendo porque elas te tratam tão mal...

-- Eu também não.

Ele riu e disse que era porque eu era estranho e falava pouco.

-- Eu não falo pouco, só falo para dentro de mim. Se tu podesse abrir minha mente e ouvir minhas conversas, cê preferiria a surdez, a ter que continuar me ouvindo. Minha mente é barulhenta, pô. Eu também não sou tão bom em externar o que penso, então prefiro deixar tudo em silêncio.

Virando o rosto para mim, falou ele com a expressão de surpresa e ternura.

-- Eu nunca ouvi você  falar mais que dez palavras em uma frase...

Rimos.

Deitados na cama, nossas mãos estavam próximas demais. Estávamos próximos demais. Dava para sentir o calor e ouvi sua respiração. Era um sentimento bom está ali.

Ele pegou na minha mão e retribui. Nos viramos um para o outro. Ficamos nos olhando fixamente. Ele passou o dedo pelo meu rosto, eu fiquei meio encabulado, mas nada demais. Eu já estava íntimo dele o suficiente para não ter vergonha na presença dele.

Nossos rostos se aproximaram mais, quando vimos, nossos lábios se tocaram. Um beijo calmo e macio rolou. Era a primeira vez que nossos labios tocavam-se. Mas não durou muito. Ele se levantou assustado e sentou -se na beira da cama. Fui até ele.

A Vingança de RúbelOnde histórias criam vida. Descubra agora