Para todas as pessoas que atendo, sempre enfatizo que a cura é alicerçada sobre um tripé: O tratamento convencional e médico, a fé (sua vontade própria e esperança de se curar, através da crença em Deus), e a terapia (fator importante para curar as verdadeiras causas do seu problema).
Geralmente as pessoas que estão sofrendo com a Síndrome do Pânico responsabilizam suas primeiras crises a um fato que aconteceu recentemente ou próximo a primeira crise: A morte inesperada de um parente, um término de relacionamento, uma perda de emprego, um rompimento traumático, uma participação em alguma tragédia; roubo, acidente ou coisas do tipo. Mas esses acontecimentos podem até ter uma ligação direta com a causa de sua doença, mas na maioria das vezes ele é apenas um gatilho para o desenvolvimento do Pânico. O cérebro tem a capacidade de somatizar os acontecimentos e armazená-los, isso se chama psicossomática.
Atendo semanalmente um número de 7 a 10 pessoas, dessas pessoas 90% são mulheres e destes 90% , 70% sofreram algum tipo de abuso na infância. Obviamente que não quero generalizar os fatos, estou apena relatando a realidade que chega a mim. A maioria das pessoas que atendo tiveram traumas terríveis na infância e na adolescência, seja por um abuso sexual por cometido por um parente próximo: pai, tio ou padrasto ou até mesmo por ter participado de cenários de extrema violência como um pai alcoólatra que violenta a mãe na frente dos filhos; pais ausentes; abandono na criação (criança que são deixadas com avós, tios, parentes).
Outras causas são comuns:
· Pessoas que se cobram ao extremo
· Pessoas com uma ligação estreita com a mãe e deixa que ela tome as decisões
· Pessoas que não aceitam perder o controle das situações (geralmente questionam a capacidade até do médico e dos medicamentos)
· Pessoas rancorosas com dificuldades de liberar perdão
· Pessoas com dificuldade de confiar no outro
· Pessoas que sofreram agressões domésticas
· Pessoas perfeccionistas e controladoras
· Pessoas com atitudes explosivas, respondem antes mesmo de terminar uma pergunta numa discussão comum.
· Pessoas com dificuldades de relacionamento paterno ou materno
· Pessoas com mania de colocar a expectativa no outro e se frustram
· Pessoas que foram adotadas (sentimento de rejeição)
· Pessoas que presenciaram alcoolismo dos pais na infância
· Pessoas com falta de autoconfiança na infância ou adolescência
· Pessoas que se auto-vitimizam por não conseguirem vencer situações comuns na vida
· Homossexuais que carregam a culpa por sua orientação sexual, através do prisma religioso
· Pessoas que passaram por alguma tragédia: roubo, acidentes, catástrofes etc.
É bem óbvio que as coisas que nos fizeram mal, principalmente no período da infância ou adolescência não poderão ser mudadas, afinal, ainda não há uma máquina do tempo que possa apagar ou mudar as situações ou fatos do passado, mas ainda assim, podemos escolher de que forma tais fatos vão nos afetar de agora em diante. Eu costumo dizer que só há dois caminhos diante das tristezas da vida: Se prender a ela e gerar um trauma eterno, ou compreendê-lo como parte de um processo da nossa própria evolução pessoal, e isso se torna amadurecimento emocional.
Não quero de forma nenhuma minimizar os acontecimentos terríveis que aconteceram na vida das pessoas, nas quais ouço diariamente das que atendo, porém, como não podemos mais alterar estes fatos, tentar compreendê-los sobre outra perspectiva nos ajuda a mudar nossa vida no futuro.
Certa vez atendi uma mulher que havia sido abusada sexualmente pelo pai na infância. Além do abuso, havia também uma rejeição da mãe (que sabia dos abusos), mas para ela, era como se a criança tivesse culpa de que o pai sentisse desejo por uma garota e fosse responsável pelos desvios de sua conduta. A criança cresceu sentindo-se culpada pela crise do casal e tendo que lidar com os abusos sexuais do pai. O mais interessante disso tudo é que na fase adulta, aquela mulher sentia mais aversão a mãe do que ao pai. Ela conseguia perdoar as atitudes do pai, mas não conseguia entender as atitudes da mãe. Numa situação como essa, a busca do perdão não é mágico como nos ensinam os pastores, o perdão é um exercício quase que físico, é um esforço diário para tornar o fato sem força de nos ferir no presente.
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Sou evangélico e tenho Síndrome do Pânico, o que faço?
EspiritualTerapeuta voluntário há quase 10 anos, Samuel Boss trás de forma simples uma abordagem sobre a Síndrome do Pânico entre os evangélicos. Do diagnóstico até os caminhos para a cura, sem religiosidade e sem falta de fé.